Justo na nossa vez, nunca esteve tão caro ser adulto

Na minha época…


por Sofia Kercher da Silva
Arte: Sofia Kercher/ Foto: Dev Asangbam

Segundo dados do Índice de Preços ao Consumidor (IPCA) e da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 12 meses, fazer as compras no supermercado ficou, em média, 16% mais caro.

As informações também mostram que, no mesmo período, abastecer o carro com GNV, gasolina, diesel ou etanol ficou 33,24% mais caro.

A energia elétrica subiu mais de 20%. Roupas, 15,72%.

O Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M), medido pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) e conhecido como “inflação do aluguel”, acumula alta de 10,72%.

Viagens? Um estudo do buscador de voos Viajala mostrou que as passagens aéreas estão 174% mais caras em relação a antes da pandemia. Isso é um aumento de quase 3x.

Esses aumentos não são proporcionais ao crescimento na renda. O salário mínimo subiu 10,2%. Enquanto a renda dos trabalhadores aumentou um pouco mais de 1% nesses 12 meses. 

Os números são meras ilustrações de uma obviedade: está tudo muito, mas muito caro. 

Todos os brasileiros – salvaguarda os milionários, herdeiros e a família Bolsonaro – estão sentindo no bolso as consequências de 2 anos de pandemia, um lockdown na China, uma guerra no leste europeu, uma inflação generalizada. Somados, claro, a um governo negacionista, incapaz e negligente.

Perdidos em meio às estatísticas e ao furacão geopolítico, estamos nós: estudantes universitários, no auge dos nossos 20 anos (e bolinha).

Em uma fase onde nossa vida estava para começar, nossa ânsia pela independência teve de ser deixada para segundo plano. Enquanto tudo e todos pedem que lidemos com problemas e sensações da vida adulta, somos incapazes, financeiramente, de vivê-la por inteiro.

Comprar ou financiar um carro; ter uma casa própria; poder viajar aos fins de ano e (caso desejado) sustentar 1 ou 2 filhos já é uma realidade muito distante para a maioria – agora, para nós, parece impossível.

Afinal, o que sobrou? Os “na minha época” condescentes de tios de segundo grau, devaneios enquanto esperamos o circular, o refúgio da casa dos nossos pais – e uma síndrome do impostor sem tamanho.

A verdade é que a esmagadora maioria dos problemas que nos trouxe até aqui transpassa nosso controle. Outros, nem tanto: nos vemos em outubro, nas urnas.

Boa leitura!