Times de flag football da USP após a pandemia: as dificuldades de praticar o esporte da bola oval

Depois de dois anos sem atividades presenciais, o futebol americano tenta voltar com força total na Universidade de São Paulo

por João Pedro Barreto

Poli Rats, time campeão da LUFA em 2019, voltou aos treinos no campus do Butantã após 2 anos de pandemia. Foto: arquivo pessoal

O crescimento do futebol americano no Brasil já é uma realidade há alguns anos. Depois de mais de cinco décadas da primeira transmissão do esporte no Brasil, feita pela TV Tupi, o esporte já é um produto consolidado nas telinhas da TV por assinatura. Segundo os números da ESPN, emissora responsável pela transmissão da NFL (National Football League) no país, a maior liga de futebol americano do mundo, a última temporada que se encerrou no início de 2022 teve um aumento de 33% em sua audiência em comparação ao ano anterior.

Entretanto, para quem quer praticar o esporte no Brasil, muitos obstáculos ainda existem. A popularidade das transmissões ainda não é, nem de perto, a mesma das equipes e atletas do país. Para quem quer jogar futebol americano no Brasil, o caminho mais fácil e barato é o flag football, modalidade que possui o mesmo funcionamento do esporte estadunidense, mas que requer menos recursos e atletas, sendo a universidade um ótimo lugar para ter contato com a modalidade.

Porém, por ser pouco popular e estar inserido na realidade do esporte universitário brasileiro, o flag universitário une dois fatores que dificultam muito a vida de quem ama futebol americano e quer praticá-lo. Até 2019, o cenário do flag universitário vinha em grande ascensão, com diversas equipes em funcionamento, tanto no masculino quanto no feminino, com algumas alcançando ótimos resultados nos principais campeonatos. No entanto, a chegada da pandemia escancarou as dificuldades ligadas à prática de flag nas faculdades.

A Liga Universitária de Futebol Americano (LUFA), o principal campeonato disputado exclusivamente entre times de flag universitário no estado de São Paulo, conseguiu reunir, em 2019, sete times masculinos e cinco femininos para a disputa do título. Dentre eles, havia equipes de cidades do interior do estado, da capital e do ABC paulista, equipes formadas por alunos de faculdades federais, estaduais e privadas. Já em 2022, após dois anos sem competição por conta da pandemia, apenas três times masculinos e três femininos participaram dos jogos, que aconteceram no último dia 25 de setembro. Isso representou uma diminuição de 50% no número de equipes participantes.

Dentre as equipes que não voltaram a disputar o campeonato após a pandemia está o USP Red Pandas, equipe feminina de flag do campus do Butantã da Universidade de São Paulo. O time interrompeu suas atividades após o início da quarentena e ainda não retornou de forma oficial.

Por sua vez, a outra equipe de flag do campus Butantã, o Politécnica Rats, time masculino que reúne atletas de vários institutos da capital, foi uma das poucas equipes que disputou o campeonato em 2019 e também em 2022. O time, que foi o campeão da LUFA e uma das melhores equipes do estado em 2019, tenta se reconstruir após quase 2 anos sem atividades.

Poli Rats: o impacto da pandemia em um time campeão

Antes da pandemia, o Poli Rats vinha de um grande ano em 2019 e se preparava para atingir seus melhores resultados na história em 2020. Além de ser campeão da LUFA, o time havia chegado à final de conferência do Paulista de Flag, espécie de semifinal do principal campeonato do estado, e se preparavam para ter um 2020 melhor ainda. “A gente estava bem confiante para o ano de 2020. A gente tinha mantido boa parte do time de 2019 e agregado novatos muito bons, pensamos que só íamos melhorar. Mas aí a pandemia veio e quebrou tudo isso”, contou Rafael Sobral, aluno da Poli e ex-diretor de modalidade do Rats. 

Depois de apenas 2 semanas de treinos em 2020, a pandemia chegou e obrigou o time a parar suas atividades presenciais. Durante a quarentena, impossibilitado de jogar, o time ficou basicamente parado, tendo  poucas atividades de integração de forma remota, “2021 foi um ano meio perdido mesmo”, definiu Sobral. Por depender bastante da vivência do campus para que  funcionasse bem, o Poli Rats só  retornou com as aulas presenciais. “A gente só conseguiu voltar a treinar mesmo quando a USP decidiu que seria presencial e parecia mais estável”, completou.

Atletas do Rats participam de um desafio da Atlética da Poli no Instagram durante o período de quarentena. Imagem: Reprodução/Instagram

Quando finalmente puderam voltar aos treinos no início de 2022, um problema inerente ao esporte universitário iria dificultar a vida dos Rats frente às equipes não universitárias que eles enfrentam: o vínculo do atleta com o time dura até que ele se forme na graduação ou pós-graduação. “Antes da pandemia, o time já estava um pouco velho, faltava um pouco de renovação e, quando voltamos para 2022, 80% do time já está formado na faculdade. Alguns de nossos atletas se formaram e voltaram para a cidade deles, o único motivo deles estarem em São Paulo era a faculdade”, relatou Rafael. Como a equipe ficou muito tempo sem atividades, não entraram novos atletas durante a pandemia, mas, como a graduação continuou de forma remota, muitos  perderam o vínculo que tinham com a universidade. “Vários formados voltaram para ajudar a recomeçar o time no primeiro semestre deste ano”, completou.

Além disso, no flag football, muitos chegam aos times apenas por curiosidade ou pela paixão pelo futebol americano que assistem na televisão, sem nunca terem tido contato com a modalidade na escola ou em outros espaços. “No começo do ano, temos que tirar um mês para ensinar fundamentos. Sempre que entra alguém novo tem que explicar tudo do começo, mas faz parte”, explicou Rafael. 

Essas dificuldades com a gestão dos atletas e, consequentemente, com a gestão de caixa fizeram com que o Poli Rats tivesse que dar um passo atrás ao retornar às atividades em 2022. O time, que sempre disputou o Paulista de Flag, principal campeonato do estado, no qual fora semifinalista em 2019, precisou trocar para um outro campeonato estadual que reúne times de menor investimento e infraestrutura para que pudesse competir neste ano. “Com menos elenco, a gente tinha menos arrecadação e também era menos competitivo. Era melhor estarmos em um campeonato com o nível um pouco mais baixo e conseguir brigar por algo e motivar os novatos a continuarem no time”, relatou Rafael Sobral.

Apesar disso, o Poli Rats vê como uma oportunidade de reconstrução e montar uma base sólida para voltar a disputar os grandes títulos do estado novamente. “Com o passar do ano, alguns veteranos que já estavam formados foram saindo e novatos foram chegando, mesmo que não fossem calouros na faculdade […] Agora a gente tá com uma carinha um pouco mais nova”, contou Pedro Nogueira, atleta e também aluno da Escola Politécnica. “Esperava ver muito menos gente, acho que foi o ano que mais entrou gente nova no Rats. Então captando mais gente ano que vem, manter o trabalho que a gente tá fazendo, tem tudo pra continuar evoluindo e voltar a ser competitivo”, contou Sobral.