MAC: 60 anos do museu da USP fora da USP

Museu comemora seis décadas com nova exposição e buscando por identidade em sede no Ibirapuera

por Gabriela Lima

A exposição Tempos Fraturados estará disponível para a visitação até 2025. Foto: Dani Alvarenga/JC

O Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC-USP), criado em 1963, completou 60 anos no dia 8 de abril. Próximo ao Ibirapuera e do lado da 23 de Maio, uma das avenidas mais movimentadas de São Paulo, está a estrutura de 30 mil metros quadrados e oito andares que abriga a instituição. 

O museu, tido hoje como uma referência na arte contemporânea nacional e internacional, era um projeto antigo da USP, mas só passou a realmente existir depois de uma grande doação do antigo Museu de Arte Moderna (MAM) feita pelo casal Ciccillo Matarazzo e Yolanda Penteado à universidade. Nessa coleção estava incluída um conjunto de 13 obras trazidas pelo representante americano Nelson Rockefeller, com o intuito de incentivar o crescimento da arte moderna em São Paulo e no Rio de Janeiro.

“A coleção [do MAC] não é uma coleção universitária, é uma coleção da cidade”, o professor da ECA-USP, Martin Grossmann, explica em entrevista para o Jornal do Campus. “Esse gesto [da doação] é grandioso. Carregava por si só a vontade de fazer um grande museu, porém naquele momento não havia recursos na universidade para construir um”.

O MAC não teve uma sede até 1992, apesar de existirem planos para a construção de uma. Nesse período, ele ocupou o 3º andar do Pavilhão da Bienal de São Paulo, também no Ibirapuera. De 1992 a 2012, foi adaptado um espaço na Cidade Universitária para abrigar a coleção do museu, que hoje é o Espaço das Artes dos alunos da ECA.

Grossmann foi vice-diretor do MAC quando o museu ocupou o campus do Butantã e conta que o prédio da universidade passou por uma grande reforma para abrigar as obras. “Era o ‘maquinho’ como a gente chamava, porque era pequeno”. Mas havia vontade dos diretores de criar um espaço ainda maior para abrigar o acervo grandioso do MAC. “A esfera do poder da USP não dava o verdadeiro valor aos museus. Eles não sabiam da importância deles. Então, a mudança do MAC e a reforma do Museu Paulista só acontece mesmo por influência dos governadores José Serra e João Dória”. 

Na época, houve um concurso internacional para a criação de um prédio exclusivo do MAC, porém o projeto também foi engavetado. Em 2013, o Governo de São Paulo resolveu doar o antigo Pavilhão da Agricultura, projetado por Oscar Niemeyer, que funcionou como prédio do Detran por 50 anos. “O edifício foi restaurado especialmente para receber o museu. A mudança significou uma maior integração com a cidade de São Paulo e com a localização privilegiada ao lado do Parque Ibirapuera”, diz Helouise Costa, curadora do MAC e docente da USP.

Mas há quem discorde. Para Martin, o antigo prédio do Detran ainda não é um espaço ideal para abrigar exposições. Ele explica os motivos: “Apesar da reforma digna que foi feita no prédio, o pé direito é mais baixo e os corredores são longos demais. O visitante cansa”. 

A exposição Tempos Fraturados ocupa dois andares do MAC. Foto: Dani Alvarenga/JC

Poucos alunos da USP

A mudança de sede foi positiva para o acervo, mas a distância em relação à Cidade Universitária dificultou o acesso para os estudantes. De cinco universitários que entraram na USP em 2012 ouvidos pela reportagem , apenas um deles foi ao MAC – e, ainda assim, em virtude de um trabalho que exigia a visita a uma das suas exposições. Helouise considera que a universidade e o museu ainda mantêm uma “estreita relação” graças às atividades de pesquisa, docência e extensão produzidas ali dentro.

“Claro que, comparado ao público geral do museu, de visitantes que buscam as exposições e outras atividades, os alunos da USP são minoria”, diz o assessor da instituição e representante da diretoria do MAC.

A dificuldade do transporte também é um dos fatores, já que o local é mais facilmente acessado de carro. “Se o museu já não era frequentado pelos universitários na própria Cidade Universitária, como é que ele vai ser frequentado em um lugar que também tem problemas de transporte público? O metrô fica longe, as linhas de ônibus são escassas… Então tem dificuldades ali nesse projeto”, afirma o professor.

Grossmann destaca que a maior importância do MAC para a universidade foi a consolidação das artes visuais no ensino superior. “O mesmo grupo ligado ao MAC é o pessoal que cria as Artes Visuais da Escola de Comunicações e Artes”. 

O acervo hoje

Segundo a curadora Helouise, o MAC possui atualmente cerca de 10 mil peças que cobrem os séculos 20 e 21, com obras de Pablo Picasso, Amadeo Modigliani, Alexander Calder, Tarsila do Amaral, Di Cavalcanti, Lygia Clark, Regina Silveira e Rosângela Rennó. Assim como instalações, videoarte e arte digital. 

“O museu sempre buscou cumprir sua missão de estimular, colecionar, estudar e exibir a arte contemporânea nacional e internacional, o que também faz parte da sua responsabilidade com a universidade”, diz Helouise. Ela destaca a contribuição para a formação de gerações de pesquisadores, educadores, curadores e artistas, além da contribuição clara para a sociedade paulistana como um dos diversos pontos culturais da cidade. 

Exposição comemorativa

A nova exposição ocupa dois andares da sede e é dividida em três eixos norteadores, segundo a diretoria, sendo eles o “eixo institucional” que conta com as obras doadas por Rockefeller, as “experiências coletivas” e as “experiências subjetivas”. 

Tempos Fraturados está em exposição desde o dia 18 de março deste ano e ficará disponível gratuitamente para visitação por cinco anos.

Para celebrar esse marco de existência, o MAC abriu uma exposição de longa duração no 6º e 7º andar do prédio, chamada de Tempos Fraturados, em homenagem à época conturbada do pós-guerra em que foi criado o museu. Na sua curadoria estão a atual diretora, Ana Magalhães, a vice-diretora, Marta Bogéa, a já citada Helouise Costa e outros importantes nomes do mundo da arte.

O MAC USP fica localizado na Av. Pedro Álvares Cabral, 1301, Vila Mariana, São Paulo, a 18 minutos da estação de metrô Ana Rosa. Entrada gratuita.