Prêmio homenageia Drauzio Varella

USP reconheceu a extensa trajetória do profissional, que une medicina e direitos humanos
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Drauzio Varella discursa ao receber homenagem de sua alma mater | foto: Victória De Santi

Drauzio Varella foi o homenageado do Prêmio de Direitos Humanos da USP neste ano. O médico, que é formado na Universidade, recebeu a homenagem, entregue desde o ano 2000, no dia 9 de novembro, em cerimônia que contou com a presença de diversas autoridades do meio universitário e do governo local.

Na sua longa lista de produção durante os 73 anos, há uma série de livros publicados, inclusive um que virou filme sob a direção de Hector Babenco e ganhou o prêmio Jabuti, Estação Carandiru. Nele, Drauzio conta as experiências que teve na passagem pelo presídio e o combate à AIDS, a que dedicou boa parte de sua vida. Esses aspectos, não ficaram de fora do seu discurso ao receber o prêmio.

Ele emociona-se ao receber a homenagem, começa com agradecimentos, mas logo inicia a falar sobre o que são os direitos humanos na sua carreira. Na década de 1980, Drauzio começou a trabalhar com o tema da AIDS que o levou para as mídias e para os presídios. No meio da comunicação ele começou com entrevistas a rádios sobre o tema, e não parou mais: teve quadro no Fantástico durante anos e hoje possui um site, página no Facebook e canal do Youtube focado em medicina, mas que faz sucesso também com o público jovem. A voz de Drauzio, inclusive, foi uma das pontuações feitas durante o discurso de José Gregori, presidente da Comissão de Direitos Humanos, sobre o seu voto. Ele afirma, sobre o momento atual, que “a recessão se espraia calando todas as vozes e tornando cada vez mais difícil que uma voz seja ouvida. Um dos poucos brasileiros que são ouvidos e acatadas as suas mensagens sobre saúde é o professor Drauzio Varella”.

“As cadeias espelham a realidade nacional como nenhum outro ambiente”, afirma Drauzio.

Mais da metade da fala do médico rodeou o tema do encarceramento, porque quando o assunto é o combate à AIDS, fala-se também sobre o uso de drogas injetáveis e de presídios. Seu trabalho nas casas de detenção começou, no final da década de 1980, com a conscientização sobre o perigo das doenças transmitidas por essas drogas. E a visão dos presídios que Drauzio tem é humana, portanto ele narra a história de pessoas fragilizadas -especialmente quando o tema é mulher.

“Ao longo dessa vivência [nas periferias e em todo o Brasil] eu encontrei a maior violência que a nossa sociedade comete, a violência contra a mulher”.

Com dez anos de experiência fazendo trabalho voluntário em cadeias femininas, Drauzio discorre sobre gravidez na adolescência, pobreza e crianças abandonadas. E ainda, guerra às drogas: essas mulheres de famílias desestruturadas que engravidam cedo se vêem sem opção de sustento, já que pararam de estudar ao ter o primeiro filho, e então “elas fazem o que qualquer uma das mulheres aqui presentes fariam: começam a vender droga, a única forma de viver decentemente e sustentar os filhos”, explica o médico. São essas mulheres que ele conheceu nas penitenciárias. “Os juízes costumam dar 4 a 5 anos de prisão para essas moças. O que a sociedade ganha com isso? Que impacto tem isso no tráfico?”, questiona.

Termina lembrando do papel do cidadão em relação à sua própria saúde, esquecido quando a responsabilidade sobre o tema recaiu completamente no Estado. Reclama ainda do subfinanciamento da saúde e da desorganização do SUS, enfatizando o papel individual na prevenção de doenças desenvolvidas pelo sedentarismo, que são facilmente evitadas e custosas: “Se eu tiver que passar uma mensagem de saúde pública para a população é: tem que andar”.