Terceirizados acreditam ser vítimas de perseguição após apoiarem denúncias de falta de pagamento
Os vigilantes terceirizados Edilton Mendes e Paulo de Azevedo foram transferidos de seus antigos postos no Insituto de Matemática e Estatística (IME), após apoiarem denúncias de falta de pagamento e assédio moral. Ambos acreditam que o remanejamento é uma forma de punição e, ao mesmo tempo, uma tentativa de desarticular qualquer forma de mobilização entre funcionários.
“Tiram a gente do posto, ficam nos jogando de um lado para o outro e, a cada transferência, escolhem um lugar pior. Querem que a gente perca o pouco de paciência que temos até pedirmos demissão”, afirma Edilton, que estava no IME há mais de quatro anos.
Hoje, ele trabalha na entrada principal da USP, mas prevê que será deslocado sucessivamente até perder a estabilidade profissional e pessoal.
Paulo de Azevedo confessa que quase pediu demissão quando soube da transferência, mas foi convencido por outros vigilantes a continuar no cargo. “É um desrespeito muito grande. A gente faz um bom trabalho, não falta, não tem reclamação e, depois de quatro anos, é punido. Só defendemos nossos direitos e de nossos colegas”, finalizou.
O vigilante faz a segurança da garagem da prefeitura da Cidade Universitária. Local que, segundo ele, é repleto de cachorros soltos e não apresenta iluminação. Paulo acredita que o posto foi escolhido para afastá-lo de professores e outros funcionários do IME, que poderiam lutar pela sua volta.
Retaliações
Os dois são as principais testemunhas de um processo trabalhista contra o IME e a empresa EVIK Segurança e Vigilância, pela qual são contratados. Eles defendem o ex-colega Eliseu de Souza Silva que, desde o primeiro semestre deste ano, busca obter na justiça o pagamento de horas extras e vales transporte atrasados.
O diretor da EVIK, João Palhuca, nega qualquer tipo de punição ou retaliação em relação ao processo. Segundo ele, os novos postos de trabalho são escolhidos pela empresa e visam apenas suprir a necessidade do serviço em outros locais da universidade. “Não há postos bons, nem ruins”, completou.
Palhuca explicou também que o pedido de transferência é feito pelo funcionário ou pelo cliente, isto é, o responsável por cada unidade. Contudo, quando procurado, o diretor do IME preferiu não se pronunciar sobre os motivos de remanejamento dos funcionários.
Outros vigilantes do IME que não querem se identificar também temem pela manutenção de seus postos de trabalho. Segundo eles, todos que acompanharam o caso Eliseu ou que mantêm contato com os funcionários remanejados têm seus cargos ameaçados.
Caso Eliseu
O ex-vigilante da EVIK Eliseu de Souza Silva, que também fazia a segurança do IME, decidiu entrar em greve de fome em frente ao seu posto de trabalho como forma de protesto no último dia sete de maio. Ele reivindicava o pagamento de vales transporte e horas extras atrasados. Além de acusar a Guarda Universitária de abuso de poder e assédio moral.
A greve de fome durou aproximadamente 15 horas até que Eliseu concordou com a realização de uma reunião com representantes da EVIK e com a diretoria do IME, no próprio Instituto. Acompanhado de Edilton e Paulo, ele manteve seu emprego, mas foi transferido de posto duas vezes até pedir sua demissão. O processo contra o IME e a EVIK ainda não foi julgado.