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Sem homenagens, não haveria salas modernas – entrevista com José Carlos Madia
Faltou discussão mais ampla na São Francisco – entrevista com Marcelo Chilvarquer
Sem homenagens, não haveria salas modernas
José Carlos Madia, presidente da Associação dos Antigos Alunos da Faculdade de Direito.
Jornal do Campus: A nomeação das salas da Faculdade de Direito (FD) foi feita de forma adequada?
José Carlos Madia: A maneira como o processo se oficializou não é uma coisa que está dentro de nossa capacidade de decisão, e sim da diretoria da faculdade. Porém, concordo inteiramente com o que foi realizado. A Associação tem um papel preponderante nesse processo todo que foi o contrato, a busca e a sensibilização dos antigos alunos.
JC: Faltou transparência na nomeação?
JCM: Nunca houve unanimidade na Faculdade de Direito. A contestação é inerente ao Largo do São Francisco. Mas, no caso específico ela é desprovida de razões. Na verdade, essa discussão acabou causando um dano muito grande para a faculdade, porque afugentou os prováveis futuros doadores.
JC: Não há problema no fato de alunos e professores pensarem que doadores não os representam?
JCM: Isso é um engano. A Universidade é constituída de professores, alunos e ex-alunos. Nós não trouxemos estranhos para doar, nem pessoas jurídicas. Os dois antigos alunos são parte integrante da universidade.
JC: Os alunos e professores não deveriam ter sido consultados antes?
JCM: Não sei se uma discussão prévia chegaria em algum lugar. Porque a faculdade é o lugar da contradição. Em janeiro, o reitor Grandino Rodas coletou um número de assinaturas de apoio à iniciativa muito maior do que o de professores componentes da congregação. Ratifico inteiramente o que foi decidido. O resultado dessa movimentação é negativo para a FD. Como eu vou sensibilizar alguém agora? Somente doaria quem não tem medo de arriscar ter o nome enxovalhado, como as pessoas que nos ajudaram.
JC: A nomeação foi exigida pelos doadores?
JCM: Foi negociada entre nós. Conseguimos que dois antigos alunos, um representado pelos seus familiares e outro por seus colegas de escritórios, se mobilizassem para fazer uma doação de grande porte. Só fariam doações se fosse para homenagear essas pessoas.
JC: É admissível que a USP receba doações com contrapartida?
JCM: Sem dúvida nenhuma. Isso é uma constante no mundo todo. Você não consegue sensibilizar as pessoas se não oferecer um crédito. Mas não deveríamos aceitar contribuição que exigisse em troca homenagens para pessoas jurídicas ou para alguém que não fosse antigo aluno da USP. A contestação está prejudicando a faculdade e alunos. Os próximos estudantes poderiam ter uma escola com mais condições materiais para um ensino melhor.
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Faltou discussão mais ampla na São Francisco
Marcelo Chilvarquer, presidente do “XI de Agosto”, Centro Acadêmico da Faculdade de Direito
Jornal do Campus: Qual é a posição do Centro Acadêmico quanto à nomeação das salas?
Marcelo Chilvarquer: Um plebiscito aferiu ano passado que os alunos discordavam dar às salas os nomes de Pinheiro Neto e Pedro Conde.
JC: A maneira em que se deu a nomeação foi adequada?
MC: Não. Antes de se contruírem as salas, deveria ter existido uma discussão
um pouco mais aprofundada. Uma coisa é fazer uma discussão previamente, outra coisa é ver uma sala pronta e acabou. Essas salas estavam prontas desde o ano passado. Faltou comunicação. Rodas não se interessava em ouvir o que os alunos pensavam sobre os mais diversos temas.
JC: É um problema quebrar a tradição de nomear as salas com nomes de ex-professores importantes?
MC: Como a tradição é uma coisa importante na FD, deveria haver uma discussão
mais aprofundada. Embora seja uma faculdade que sempre prezou pela vanguarda, as mudanças às vezes geram desconfortos.
JC: O contrato entre a FD e os doadores era claro?
MC: Ninguém sabe muito bem sobre esse tema. Quem fez as obras? Foi uma licitação? Qual é o modelo? Precisa ser discutido logo uma regulamentação, porque nós precisamos do capital dos doadores. O que o Centro Acadêmico está discutindo é o ‘daqui para frente’. Depois que forem regulamentadas, doações tornam-se seguras tanto para faculdade quanto para o doador. É importante que o doador saiba muito bem as regras do jogo.
JC: Como a FD deve decidir sobre receber as doações?
MC: A faculdade deveria ter um processo de decisão em que os alunos fossem
consultados a priori. Acho que deveria ser um modelo com uma comissão que tivesse representação discente, para pelo menos opinar sobre os temas. O alunado não precisa ter o mesmo tipo de ‘autoritarismo’ que aparenta ter a diretoria quando dá uma ordem de cima para baixo. Tem que ter uma construção conjunta. Uma estrutura em que professores, alunos e funcionários consigam ter uma dinâmica e façam uma comissão.
JC: As novas salas não trouxeram benefícios?
MC: Elas são melhores que as antigas. Mas, a forma como se deu a construção é definitivamente um retrocesso. O modelo de tomada de decisão é um retrocesso dentro da faculdade. Não adianta construir salas modernas e ter uma situação extremamente
maléfica.
JC: A USP deve receber investimento privado?
MC: Se os alunos participarem desse processo, não vejo problemas.