O vice-diretor da Faculdade de Direito da USP, Paulo Borba Casella, pediu licença do cargo por 30 dias, após o que alunos e professores chamaram de “tentativa de golpe”. Casella é acusado de desobedecer orientação do diretor da faculdade e uma ordem judicial de retornar as bibliotecas departamentais, que estavam encaixotadas num prédio anexo, para o edifício central no Largo São Francisco. Há mais de quatro meses os alunos não têm acesso integral à biblioteca jurídica da FD, considerada a maior da América Latina.
O caso fez a Congregação da Faculdade de Direito abrir sindicância para apurar os fatos. No dia anterior à decisão, estudantes organizaram um ato em repúdio ao vice e à demora na entrega das bibliotecas. As aulas também foram paralisadas por três dias e cartazes foram espalhados pela faculdade cobrando a renúncia de Casella e o retorno dos livros. O antigo diretor e atual reitor da USP, João Grandino Rodas, também foi criticado. Segundo os alunos e alguns professores, Casella e Rodas são próximos e concordam com a permanência do acervo no novo prédio.
“Simplesmente não é aceitável que a Faculdade de Direito da USP não tenha biblioteca” lamenta Stephanie Samaha, do Centro Acadêmico da FD. “O acervo ficou jogado em caixas de papelão, num prédio literalmente abandonado. O mínimo que deveria ser feito é voltar com os livros”.
Após a crise ser veiculada na mídia, o reitor divulgou uma carta à comunidade USP explicando a necessidade da mudança e minimizando os protestos. A carta foi repudiada por alunos e professores da FD, que apontaram diversas incongruências no documento.
O outro lado
Casella ficou espantado com a repercussão do caso. “Magalhães queria trazer os livros de volta, eu achava melhor deixar lá e resolver o problema de uma vez”, explica. No dia que substituiu Magalhães, Casella só autorizou a mudança dos livros após ordem expressa do diretor, que estava hospitalizado.
De acordo com Casella, sua licença visa não comprometer as investigações e não há qualquer possibilidade de renúncia. Sobre a manifestação dos alunos, o vice minimiza: “na Era Vargas, os estudantes protestaram contra a ditadura. De 1964 a 85, também. Hoje, num estado democrático, é mais difícil achar algo para lutar. É um protesto meio vazio”.
Ameaças
O vice-diretor é acusado ainda de ameaçar uma funcionária de demissão no mesmo dia que tentaria revogar a ordem de Magalhães. Há três meses, Casella sofreu acusação similar em relação a um professor da faculdade. Ambos os casos também estão sendo investigados na sindicância criada pela Congregação. Ele nega ambas as acusações.