Futebol feminino cresce em competições da USP

Em meio a ações afirmativas no profissional, modalidade universitária tenta se estabelecer
O futebol de campo feminino estreou como modalidade demonstrativa no BIFE em 2016. Foto: Pietro Portugal
O futebol de campo feminino estreou como modalidade demonstrativa no BIFE em 2016. Foto: Pietro Portugal

O novo regulamento da Taça Libertadores da América, divulgado pela Conmebol há poucos meses, incluiu a obrigatoriedade de que os times mantenham ou associem-se a clubes de futebol feminino para disputar o campeonato a partir de 2019. Ainda é difícil saber se a medida da entidade trará bons frutos para a modalidade no continente sul-americano, mas a experiência estadunidense ― onde a variante feminina é extremamente desenvolvida ― mostra que o sucesso do esporte depende da popularização no circuito escolar e universitário.

Na USP, o futebol de campo feminino ainda dá seus primeiros passos. Pouco atléticas, como a da EACH e de Lorena possuem times ativos, o que acaba tornando inviável a efetivação da modalidade nos principais torneios da Universidade ― a Copa USP e os Jogos da Liga. Consequentemente, a ausência de competições desestimula que novos times passem a treinar, freando o desenvolvimento do esporte.

A ausência de faculdades com meninas treinando o futebol de campo, porém, está longe de significar que a modalidade não tem espaço para crescer. Baseando-se nessa percepção, a Liga das Atléticas Acadêmicas Universitárias da USP (LAAUSP) formou no começo deste ano a primeira seleção da Universidade. Contando inicialmente com mais de 50 meninas de 14 institutos, a inédita iniciativa da LAAUSP começou com a coordenação do técnico Rui Ybarra. A reportagem do JC conversou com ele e uma atleta da seleção para entender quais as perspectivas do esporte na USP.

Selação USP

Reunindo os melhores e as melhores atletas de cada modalidade, as Seleções USP representam a Universidade nos mais importantes campeonatos do circuito estudantil, como a Copa Unisinos e o Campeonato Paulista Universitário. A despeito da ausência de torneios para a modalidade, o selecionado do futebol feminino estreou em 2016 e já estabeleceu-se. Segundo Ybarra, que encabeça o projeto junto com Murilo Facco, os treinos semanais do time têm em média 20 atletas. Para ele, a motivação do inédito projeto “não foi nada mais do que a percepção da existência de material humano para recolocar a modalidade dentro do CEPEUSP e vontade de fazer acontecer”.

Apesar de ter surgido como seleção em 2016, o projeto começou a dar seus primeiros passos em 2015, por uma iniciativa de atletas da FAU. Com a entrada de Ybarra, já no ano passado, o time desenvolveu-se e passou a contar com jogadoras de outros institutos da USP, como a ecana Amanda Carvalho, que continua treinando com a equipe, hoje vinculada à LAAUSP.

Integrante do futsal da ECA, a atleta teve na agora Seleção USP sua primeira oportunidade de jogar futebol de fato. “Eu sempre joguei bola na rua, na várzea, mas nunca existiu pra mim o espaço próprio. E não só para mim, para todas as meninas. E foi um lugar onde eu pude treinar futebol mesmo, e aprender coisas básicas do esporte que a vida inteira eu acompanhei”, explica.

Para ela, a necessidade de contar com um alto número de meninas, além da dificuldade em conseguir espaços para a prática informal do espaço faz com que existam poucos times no meio universitário. “Como existe essa dificuldade, e isso não é só da USP, a gente acaba tendo problemas para armar amistosos com outras equipes. E mesmo as equipes que são mais desenvolvidas, profissionais, também relatam dificuldades de marcar amistosos. Isso é um problema do universitário, ele não ter o poder de agregar as mulheres na modalidade”, afirma a jogadora.

O grande desafio do esporte, portanto, não é a criação de times, mas a manutenção destes, com praticantes engajadas e motivadas. Apesar da ausência de competições oficiais dentro da modalidade, o técnico da seleção, Rui Ybarra, acredita que é possível manter a motivação das atletas. “Temos muitas mulheres que se identificam com o âmbito competitivo e por isso deixam o futebol como modalidade secundária em relação às outras que as mesmas já praticam. Porém também temos muitas mulheres interessadas na prática do jogo e para esse público o treino por si é estimulante”, explica o treinador.

Em relação a recente mudança do regulamento da Libertadores pela Conmebol, tanto Ybarra quanto Amanda concordam que a novidade pode trazer bons frutos para o meio universitário, mas de maneira mais indireta. “Com o devido fomento, todas as formas de práticas, em todos os lugares, crescem. E ao que parece, estamos caminhando para tal”, afirma o técnico.

Para a atleta, a medida afirmativa estabelecida pela Conmebol será positiva para o esporte, especialmente a médio e longo prazo. “Eu acho que rola uma resistência dos clubes de desenvolveram equipes femininas muitas vezes porque as equipes femininas realmente não vão rodar muito dinheiro, não vão trazer muito lucro pro clube, as pessoas não assistem futebol feminino, uma coisa puxa o rabo da outra. Mas talvez uma medida assim mais rigorosa pode fazer com que esse pontapé seja dado, e acho que as coisas começam a rodar” finaliza Amanda.