Aquecimento solar é prioridade para a piscina do CEPE

Espaço interditado durante o inverno obriga usuários a procurarem atividades alternativas

Por Natan Novelli Tu

Todo ano, durante três meses (junho, julho e agosto), o complexo de piscinas do CEPE-USP é fechado por conta do inverno. De acordo com o regulamento do Conjunto Aquático, mesmo fora desse período, toda vez que a temperatura atinge 18ºC, as piscinas devem ser fechadas. Por conta disso, um projeto de aquecimento baseado em energia solar já foi idealizado, mas frente a crise orçamentária pela qual a Universidade passa, ele está estagnado. Em comparação, a Federação Internacional de Natação estima que a temperatura ideal de uso varia entre 25 a 28ºC, mas como Antônio Lepri, Diretor de Modalidade de Natação da ECA, comenta: “A piscina do CEPE bate, nos dias frios, 21, 20, às vezes até mesmo 19ºC”. Fora os prejuízos a performance, como o maior atrito com o corpo, a água fria pode, em pessoas com problemas de coração, causar paradas cardíacas.

Piscina vazia em dia frio de inverno, ilustrando a falta de um aquecedor

Emilio Miranda, diretor do CEPE-USP, fala que a ideia inicial era instalar uma rede de gás, com equipamento cedido e instalado pela Comgás, mas que o projeto se tornou proibitivo quando o contrato previa um gasto de 35 mil reais por mês só de gás, consumindo ou não. Foi daí que o projeto passou a considerar a economia e sustentabilidade das energias renováveis. “Chegamos a conclusão que o melhor dos projetos era a associação do aquecimento por troca de calor com energia solar”. Em outras palavras, energia elétrica como complemento da solar, quando essa não desse conta sozinha da demanda.

Para a implementação, a maior barreira é o custo de instalação, que Marcio Vilela, pesquisador em gestão de energia, energias renováveis e eficiência energética da Poli que contribui com o desenvolvimento do projeto, estima girar em torno de um milhão de reais. Ele explica, no entanto, que em relação ao projeto anterior, o valor se amortizaria em dois ou três anos, já que a manutenção do equipamento seria muito menor que a de um sistema a gás. “Com o recurso em mãos, a instalação dos equipamentos é rápida”, mas explica que com a falta de recursos da Universidade, toda a discussão do aquecimento das piscinas já “se arrasta de três a quatro anos, e o projeto das placas solares há um ano”.

Quanto a isso, Emilio afirma que o sistema de aquecimento é uma das prioridades do CEPE-USP para o semestre que vem, e garante que a mudança de gestão prevista para 2018 não afetará o andamento do projeto: “Estamos acabando o planejamento estratégico para os próximos quatro anos, independentemente de eu estar aqui ou não, o próximo diretor continua”.

Continuidade esta uma palavra muito complicada para as Atléticas de natação, que têm seus ritmos de treino quebrados poucos meses antes de algumas das principais competições do ano. Como Antônio comenta, quando o Complexo fecha, “alugam-se piscinas aquecidas ou montam-se treinos físicos para manter a capacidade de resistência física”. Apesar disso, como as equipes geralmente não dispõem de muito capital, ele lamenta que esse dinheiro poderia ser utilizado para investimento na própria natação, como “comprar materiais de qualidade, investir em treinos melhores e aumentar o número de treinos por semana”.

 

A piscina normalmente mais utilizada pelas equipes é a Olímpica e tanto Marcio quanto Emilio lembram que as Atléticas não são as únicas a utilizar as dependências. “Se você faz na [piscina] de uso múltiplo”, diz Marcio, “além da possibilidade de treinamento, há também o uso para recreação e terapia”. Por isso, o projeto que inicialmente previa aquecer todo o parque aquático foi restrito apenas à piscina de uso múltiplo. Isso se deve a questões orçamentárias, mas também estruturais, já que é necessário um grande espaço para a instalação das placas solares. A proporção é 1 para 1, o que significa que a área com placas deve ser do mesmo tamanho da área coberta pelo aquecimento: “Verificamos do lado da piscina olímpica, e [pegaríamos] um pedaço do gramado que fica próximo ao tanque”.

Mas ele também alerta da responsabilidade que os usuários têm. “Sou testemunha de pessoas que ficam muito tempo [no banho]. Na casa delas, e

las usam chuveiro elétrico, que tem fluxo de água de 3 a 4 litros por minuto. No CEPE-USP são 16 litros por minuto, e com a temperatura que quiser”. Quanto a isso, ele fala que já existem projetos em discussão para melhor aproveitamento e reuso da água na Universidade, já que esse gasto alcança a cifra de 2 milhões de reais ao mês. “Isso só de consumo de água. Se colocar mais o gás, a infraestrutura, a energia elétrica de iluminação, os custos são ainda maiores. Daí, tem-se a restrição de recurso financeiro para um projeto de aquecimento da piscina”. Portanto, existe a questão orçamentária, mas a responsabilidade é também de toda a comunidade uspiana.