Helena Ignez e o jogo autoral no Cinusp

A figuração única da atriz é uma porta de entrada para o universo autoral que a mostra propõe

Por Daniel Medina

A exibição de Barão Olavo, o Horrível (Brasil, 1970), parte da mostra Autor/Ator promovida pelo Cinusp Paulo Emílio em abril, evidenciou um horror que, quase completamente comandado por Helena Ignez, capturou a essência do tema da mostra. Exibido após Copacabana, Meu Amor, também com Ignez, o filme encapsula as produções da Belair, parte do movimento do cinema marginal no Brasil dos anos 70. Com apenas 6 produções, a fugaz experiência da produtora propunha-se trazer uma ruptura com quaisquer outras produções brasileiras daquela época.

Nessa cena de Barão Olavo, o Horrível, Ignez é retratada em sua modulação autoral. Arte: Daniel Medina

O filme gira em torno do barão Olavo, necrófilo, que procura cadáveres para perpetuar sua perversão. Com cenas difusas, diálogos curtos, por momentos até sem sonoridade, a sensação é de incerteza e desconforto com a ruptura trazida pelo enredo.

Tudo isso se sumariza na presença de Helena Ignez. Centro da produção, Ignez exprime na tela um estilo único de atuação, com maneirismos, trejeitos e um verdadeiro jogo autoral que colocam sua participação no filme e, no movimento em geral, como dignos de destaque para a mostra. Uma característica atriz moderna, Helena consegue modular sua atuação para promover o desconforto e transgressão necessários para elevar o longa.

O filme vale ser assistido pensando na proposta do Cinusp, entendendo os motivos que levaram à sua escolha: é um sumário da estilística única que os atores escolhidos colocavam em seus filmes, e Ignez congrega não apenas as características de uma verdadeira atriz-autora, mas carrega essa expressão como atriz brasileira na ativa até hoje.

Se a proposta do Cinusp era capturar trabalhos autorais, a escolha de Ignez acerta em cheio, e deixá-la de fora seria incoerente. Sublime, conseguiria carregar a temática do Cinusp por si só. Apesar de Barão Olavo, o Horrível, correr o risco de não valer a pena sem ela, é justamente por sua presença que o filme se eleva.

A seleção de filmes segue aquilo que Ignez congrega: um jogo de atuação característico dos que o fazem e essencial para a consolidação dos filmes. Individualmente, suas participações tornam os filmes indissociáveis a eles e a mostra, enquanto conjunto, imperdível.