Quando o prato principal não é o que interessa

Exposição do Museu de Arte Contemporânea surpreende por aquilo que, talvez, não pretendesse

Por Jade Rezende 

Mostras de arte podem chegar ao público de uma forma diferente da que foram pensadas pelos curadores. As 53 gravuras da nova exposição do Museu de Arte Contemporânea (MAC) da Universidade de São Paulo foram (bem) mais que suficientes para despertar meu interesse, mas por detalhes que talvez nem eu, nem os curadores, tivessem imaginado destacar.

“Atelier 17 e a Gravura Moderna nas Américas” surgiu de uma parceria do MAC com o Terra Foundation for American Art, que emprestou sua própria coleção e também as de outros dois museus, o Brooklyn Museum e o Art Institute of Chicago. São gravuras do início do século 20 produzidas por artistas do Atelier 17, um centro experimental para inovação das gravuras que surgiu em 1927 em Paris e foi reinstalado em Nova York, em 1940.

Foto: Ariédhine Carvalho

A mostra, em cartaz até junho, atrai pela variedade de cores e beleza das obras — mas, principalmente, por aquilo que não foi colocado em primeiro plano, como o documentário sobre o Atelier 17 produzido por Julian Hayter e exibido no canto da sala. Ele prendeu mais a atenção do que metade das obras daquele terceiro andar. Assistir o artista produzindo gravura e explicando o processo de criação transmitiu um tom bastante pessoal a uma exposição de muito conteúdo, que ainda não havia me ganhado.

Como a quantidade de gravuras é grande, ítens de formatos diferenciados acabam atraindo mais olhares, como “O Beijo”, fotografia dividida em quadradinhos de madeira que se mexem num movimento de abre e fecha. A obra também me segurou por alguns bons minutos no mesmo lugar. A forma “objeto eletro-mecânico e fotografia pb sobre papel sobre madeira” é única em toda a mostra.

A exposição do MAC permite imersão no universo das gravuras. O número de 53 obras e os formatos similares, porém, tornam quase metade delas um pouco desinteressantes. Encontramos também, é verdade, cores vivas e narrativas divertidas junto a dados históricos interessantíssimos atraem pr’além do foco da mostra.