Fora dos muros da USP

 

por Diogo Magri

Foto: Acervo pessoal

 

Uma boa discussão que deveria permear as reuniões de um periódico universitário como o Jornal do Campus é o equilíbrio na abordagem de assuntos fora e dentro da USP. Afinal, o público-alvo é formado por pessoas que frequentam ou se interessam pelo que acontece na universidade. Mas não significa que o jornal tenha que ficar preso a essa bolha.

Esse foi o ponto forte da edição 521 do JC. As matérias publicadas trouxeram uma rica mistura entre assuntos universitários relevantes e temas de amplitude nacional essenciais para quem está dentro da USP.

E o fizeram com pautas nada simples. O relatório da CPI da Pandemia foi explicado de forma didática, detalhando seus principais pontos como nem todo grande veículo faz. O título poderia ter ido mais ao lado analítico, com o comentário de algum jurista, do que a pura notícia datada. Ainda no campo da saúde, a reportagem sobre a volta da Europa como epicentro da pandemia —apesar de não citar a variante ômicron— também contextualiza o assunto com dados, opiniões de especialista e alerta para os brasileiros. É muito completa.

A matéria “Taxem os ricos” não tem o melhor título, mas o imperativo que me incomodou ficou só na chamada. O texto sobre distribuição de renda e desigualdade é atual e relevante. Assim como a reportagem sobre repatriação de fósseis brasileiros. Assunto extenso, pouco explorado na imprensa, que ao que parece exigiu uma apuração trabalhosa. Entregou um texto que casa o interesse acadêmico da universidade e o descaso com a ciência nacional. E o gancho não poderia ser mais atrativo do que a aranha batizada com o nome da Pabllo Vittar.

Ao mesmo tempo, a necessidade de jogar luz em pautas uspianas também foi contemplada. Eu passei 5 anos na USP e não sabia de metade do que é contado na matéria sobre o aniversário da Praça do Relógio. Fundamental também falar da festa anual do livro, um evento muito divulgado que passou do físico para o online nos últimos dois anos. Mas senti falta de informações sobre vendas, gastos, faturamento e opiniões dos clientes sobre o evento virtual ao invés da história da festa.

Quebrar os muros da USP é dar voz ao que é discutido dentro dos campi e, simultaneamente, trazer para o contexto universitário o que acontece no resto do país. Foi uma função do Jornal do Campus muito bem cumprida na terceira edição desse semestre.

 

Diogo Magri é formado em jornalismo pela ECA-USP e trabalha como repórter do jornal EL PAÍS em São Paulo desde 2017.