Patente da USP contribui com proteção solar da pele negra

Instituto de Química registra ingrediente essencial para um produto de cuidados e saúde da pele, mas ainda ignorado pelo mercado

Por Gabriele da Luz Mello e Laisa Dias

Pesquisadores do Instituto de Química (IQ) da USP tiveram concedida uma patente de invenção pela criação da nanossílica revestida com melanina. O nome complicado descreve um ingrediente para a proteção solar da pele negra — que sofre com a carência de produtos que atendam às suas necessidades.

A nanossílica é um silicato natural como a areia. “Com uma camada de melanina, ela adquire a função de proteção solar especialmente contra raios UVA e luz visível, responsável pela claridade”, explica Maurício Baptista, um dos pesquisadores responsáveis pela invenção e professor do IQ-USP.

[Arte: Thaís Moraes]

Esse fator faz diferença para pessoas negras, cujos tons de pele já possuem mais proteção contra outro espectro da luz solar, o UVB. Explicando melhor: o tal “fator de proteção solar” dos produtos no mercado diz respeito justamente à proteção contra UVB, conhecido por causar queimaduras. Ou seja, serve pouco para a pele negra. “A melanina gera uma proteção que não funciona contra UVA e luz visível”, diz Maurício. Agências internacionais e nacionais, como a Anvisa, determinam que os voluntários aptos aos testes de protetor solar tenham pele dos tipos 2 e 3 da classificação de Fitzpatrick, ambas brancas. “O correto é irradiar com uma fonte que imita o sol por inteiro, não apenas o UVB”, relata o pesquisador.

Maurício destaca que para o desenvolvimento de um protetor solar adequado para peles negras é preciso mudar a cultura de testagem. Os testes atuais usam a classificação de Fitzpatrick, com 6 fototipos divididos por tons, sensibilidade ao sol e capacidade de bronzeamento. Daí a importância do “pozinho” desenvolvido pelo IQ. Porém, ele ainda é uma tecnologia inicial que precisa ser vista por empresas do ramo e abraçada para testes, até se tornar um produto final.

Para a patente virar um produto que preencha as prateleiras de alguma loja, ainda é necessário um “aprimoramento, com mais detalhe e sofisticação”, como a escolha do meio em que ele vai ser utilizado — um creme, um spray, ou outros produtos com definição de aspectos químicos como a cor —, explica Maurício. Ou seja, seu uso ainda depende de um produtor final, que abrace um dos maiores mercados do Brasil.