O jornalismo na greve

Christiane Silva Pinto

Estava ansiosa para conferir a edição sobre a greve. São momentos como esse, como o próprio editorial já coloca, que o jornalismo se faz necessário e um veículo como o Jornal do Campus tem a oportunidade de mostrar sua competência. E isso foi alcançado na edição. Em momentos de mobilização política, opiniões e perspectivas divergem entre si, mostrando a pluralidade de posicionamentos dentro da universidade. A edição foi bem sucedida em abarcar todos esses pontos de vista da comunidade uspiana, de forma transparente. O próprio fato do editorial apresentar que existiram dissidências entre os estudantes responsáveis pela produção do jornal escancara essa máxima. O conjunto de matérias esclarece o que já está sendo concretizado e convida a comunidade a cobrar as autoridades responsáveis.

Todos os textos estão bem escritos, com entrevistas completas e sempre apoiados por dados relevantes. O uso de fotos e gráficos foi feito de uma maneira cuidadosa, o que ajuda o entendimento dos assuntos; e mesmo as pautas não relacionadas à greve estão conectadas com o cenário atual da Universidade. A entrevista com Sylvia Lia, primeira professora surda da USP, ressoou particularmente comigo; assim como a docente, também fui desacreditada por professores ao longo de toda a minha trajetória, por ser uma mulher negra.

A discussão sobre diversidade religiosa também mostra essa ânsia por um ambiente universitário mais diverso e acolhedor. Como candomblecista, enfrentei um cenário muito inóspito na USP quando cursei graduação, onze anos atrás. 

A matéria sobre planejamento orçamentário complementa lacunas deixadas pela última edição. Se antes, o texto era excessivamente detalhado e numérico, na edição atual a articulação de infografias e entrevistas foi positiva – e muito conectada com a crise que a universidade está experienciando.

O olhar que edição teve para o histórico de greves e demandas ao longo dos anos, situa um contexto histórico importante para entendermos os problemas atuais da universidade — que já vinham sendo denunciados pelo JC — e mostra que alguns deles perduram por décadas.

A única ressalva a ser feita é a falta de uma conexão com a sociedade fora da comunidade USP – especialmente aqueles que utilizam os serviços da Universidades. Por fim, a matéria sobre a adesão ao Provão Paulista, com uma gama de fontes variadas, como Pró-Reitoria, Pesquisadores e membros do coletivo indígena da Unicamp, mostra o compromisso do JC com um jornalismo sério, atento e preocupado em representar vários lados.