Onde estão as mulheres na USP?

Por Camilla Almeida e Laura Pereira Lima

Fotomontagem pelo Jornal da USP – Imagens: Reprodução/Amazon

A edição 538 traz uma enquete sobre os hábitos de leitura dos estudantes uspianos fora da sala de aula. Há mais novidades sobre o tema. No fim de novembro, a Fuvest divulgou as novas listas de leituras obrigatórias, que serão compostas, entre 2026 e 2028, somente por mulheres. Em um processo quase arqueológico, a nova lista resgata a memória de autoras dos séculos passados, como Nísia Floresta e Narcisa Amália, que agora dividem espaço com obras contemporâneas. 

O resgate é bem-vindo, depois de séculos de exclusão: Júlia Lopes de Almeida, embora tenha sido a idealizadora da Academia Brasileira de Letras, foi proibida de ocupar uma cadeira na instituição. Paulina Chiziane, que hoje ostenta o título de primeira mulher africana a ganhar o Prêmio Camões, anunciou uma pausa em sua carreira em 2016 devido ao cansaço pelas lutas travadas. 

Apesar de fundamental, a iniciativa está em descompasso com a situação atual da Universidade — que se orgulha da qualidade de seu ensino, mas ainda está longe de ser um espaço que celebra trajetórias femininas.

Tradicionalmente, as bibliografias da Universidade tendem a ser majoritariamente compostas por homens brancos. Os vestibulandos a partir de 2026 serão cobrados sobre uma carga conceitual que não dialoga com a bibliografia da Universidade — nem com os corpos que a frequentam. Somente 37,5% dos docentes são mulheres, uma porcentagem que assusta considerando que elas são maioria nos programas de pós-doutorado. Tanto nos concursos quanto na graduação, a Universidade ainda é um espaço hostil para a população feminina: 55% das mulheres relatam ter sofrido violência física, sexual ou moral no ambiente acadêmico, de acordo com o Observatório USP Mulheres. “Muito machista” foi o adjetivo escolhido por 26% do corpo universitário para descrever a USP. Práticas de trote como as relatadas na página x evidenciam a violência de gênero. Espera-se que tenham ficado definitivamente no passado.

O número de mulheres negras na lista parece mais condizente com a postura da Universidade – o que não é motivo para comemorar. Das dez autoras, somente três são negras – uma quantidade pequena, mas que ainda supera a proporção de docentes negros, 125 em um universo de 5.151 professores.

A Fuvest, porta de entrada para a USP, esconde uma instituição predominantemente branca e masculina. Não basta incluir mulheres na lista de leitura do vestibular quando as alunas ainda sentem medo de circular pelo campus e a hierarquia intelectual ainda exclui corpos femininos e negros.