Referência na América Latina, projeto da Faculdade de Ciências Farmacêuticas é base para o trabalho de nutricionistas
Por Maria Trombini e Mariana Zancanelli
Se você estiver lendo esse texto de manhã, provavelmente está se perguntando qual o cardápio do bandejão, se a fila vai estar grande ou se já pode almoçar. Depois de alguns meses na Universidade, é fácil decorar os pratos mais recorrentes: frango assado, moussaka de PVT, lombo ao molho de abacaxi e outros clássicos. Por mais que já sinta na ponta da língua o sabor dessas iguarias, o que você sabe sobre os componentes que constituem cada um dos pratos?
A resposta para essa pergunta é oferecida pela Tabela Brasileira de Composição de Alimentos (TBCA), iniciativa que completa, em 2023, 25 anos desde o lançamento de sua primeira versão. Atualmente, o projeto é uma parceria da Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF-USP) com a Rede Brasileira de Dados de Composição de Alimentos (Brasil Foods) e coordenado pelo Centro de Pesquisa em Alimentos (FoRC-USP).
Acessível pelo site ou app de celular, a TBCA é um banco de dados que descreve a composição centesimal de diversos alimentos, bebidas e receitas. Ou seja, ela especifica as quantidades de carboidratos, lipídeos, proteínas, vitaminas e outros compostos de cada item. A primeira versão reunia informações sobre cerca de 300 alimentos; hoje, são mais de seis mil. Além de produtos in natura, industrializados, sem lactose e sem glúten, a Tabela aborda alimentação para vegetarianos, veganos e bebês.
O Projeto Integrado de Composição de Alimentos foi criado em 1989 pelo professor Franco Lajolo, da FCF. O objetivo inicial era agregar uma equipe de pesquisadores que se dedicasse a melhorar a base de dados de composição de alimentos no Brasil, algo pouco discutido à época. Dessa iniciativa surgiu a TBCA, em 1998. A partir de 2013, com o subsídio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), passou a ser elaborada a versão atual da Tabela, agregando os dados em um só lugar e criando padrões estatísticos.
Segundo Kristy Soraya Coelho, doutora em Nutrição Humana Aplicada pela FCF-USP e colaboradora do projeto, a TBCA está sempre sendo aprimorada. “Desde 2019, temos projetado novas formas de busca para facilitar a navegação de quem acessa o site. Hoje, existem dois tipos: alimentos em medidas caseiras ou comparação entre dois alimentos.”
Bárbara Lourenço, professora do curso de nutrição na Faculdade de Saúde Pública (FSP-USP), explica que a metodologia da TBCA é extensamente descrita, de fácil acesso e padronizada de acordo com os critérios da FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura, na sigla em inglês). Além disso, todas as informações estão disponíveis também em inglês, o que permite o acesso à plataforma não só por usuários lusofalantes.
Na disciplina de planejamento dietético, os estudantes da FSP aprendem, com ajuda da TBCA, a elaborar planos nutricionais em conjunto com os pacientes. Para a professora, é fundamental que o nutricionista saiba aproveitar o uso da tecnologia e saiba passar seus saberes técnicos para a população. A TBCA colabora com esse processo. “A Tabela tem uma usabilidade superlegal. Os estudantes gostam bastante das possibilidades de consulta que ela permite”, diz a docente.
Gisele de Paula, que atua com nutrição clínica, explica que os nutricionistas consultam esse tipo de tabela para poder fazer a adequação de diferentes componentes no preparo de dietas. Ela conta que é comum recorrer a softwares que ajudem na montagem de cardápios e na contabilização de calorias. Porém, essas plataformas não têm todos os alimentos cadastrados. A TBCA é útil porque proporciona o acesso a novas informações, especialmente as brasileiras. “[A TBCA leva em conta] o jeito que a gente prepara um certo tipo de alimento, várias preparações que tem aqui no Brasil. Isso facilita o nosso trabalho”.
A professora Bárbara reforça a importância de um banco de dados que busca fornecer informações de qualidade sobre elementos da culinária brasileira: “É diferente da gente ter que se valer de produtos em outras formas de consumo, que não são praticados aqui no Brasil, como quando consultamos tabelas internacionais”.