“Toca um techno aí, por favor” Quem são os DJs da USP?

Tocar no campus é estratégia de permanência e pertencimento universitário

por Carolina Sena e Suelyton Viana

É sexta-feira à noite e as festas organizadas por estudantes movimentam o ambiente universitário. Em um canto de qualquer uma dessas festas, por trás de uma mesa controladora que toca desde MPB até funk, é provável que você encontre alguém como Caroline Peralta, estudante de Educomunicação na Escola de Comunicações e Artes (ECA-USP), Takahara dos Santos, estudante do Instituto de Química (IQ-USP) e também Mari Aleixo e Rafa Kim, ambos estudantes de Design na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU-USP). Esses jovens são alguns dos disc jockeys (DJs) que apresentam sua musicalidade no campus.

Ingressante no ano de 2018, DJ Peralta – como Caroline é mais conhecida – se envolveu com os eventos universitários durante a pandemia de Covid-19 para evitar o completo distanciamento. Durante o período de isolamento, foi DJ de festas virtuais, que ajudavam os alunos a se conhecerem para além das aulas feitas por transmissão on-line. Com o fim das limitações sanitárias, a jovem ganhou experiência e hoje é conhecida por tocar em festas dentro e fora do campus.

Foi também a pandemia que inspirou o DJ Takahara a sair de Campinas para estudar na USP em 2022, mas ele confessa que o que o fez continuar no curso até então foi despontar como DJ em 2023. “Ser DJ me fez frequentar mais à faculdade, e ir mais às aulas, porque eu tinha que estar aqui de qualquer jeito, e fazer muito mais coisas, conhecer mais gente. Me senti mais acolhido”, explica.

A dupla de DJs MariKinha, junção do nome de Mari e sobrenome de Rafa, viu na discotecagem uma forma de trazer representatividade, dividindo-se entre tocar funk, comum na região em que Mari cresceu, e k-pop, gênero musical do país da família de Rafa. Como pessoas não binárias, na setlist das duas não faltam músicos LGBTQIAPN+.

Há quem pense que o trabalho como DJ não tenha grande significado, mas para alguns a discotecagem é uma maneira de expressão artística e afirmação política dentro da universidade.

“Principalmente a gente que toca num lugar como a USP, muito elitista, é uma forma de mostrar de onde viemos, quem a gente é. Rafa pega mais para esse lado das pessoas trans. Para mim é sobre colocar a favela dentro da faculdade, sabe? Sempre que eu vejo pessoas que são de origem parecida com a minha curtindo, eu fico bem feliz”, relata Mari. Encontrar uma atividade extracurricular significativa pode ser essencial para a permanência de alunos durante a graduação. Nesse cenário, DJ Peralta afirma: “Se eu não fosse DJ, provavelmente iria conseguir me formar, mas sem nenhuma perspectiva enquanto artista. Essa é uma pergunta que me faço com certa regularidade. A permanência é só dar as condições estruturais para nossos estudos? Acho que não”.

Ainda tendo a permanência como prioridade, o Sindicato de DJs da USP (SINDJUSP), que surgiu primeiramente como uma piada de Takahara, hoje em dia assume o papel de promover oficinas de discotecagem no campus em parceria com coletivos de arte como o Canil, da ECA-USP, que servem para fomentar a cooperação entre os alunos, essencial para preparar a próxima geração por trás das mesas controladoras.

“Essas oficinas são importanes porque os atuais DJs da USP são pessoas que não vão mais frequentar a universidade em algum momento. Afinal, vão se formar e vão começar a tocar em outros lugares”, explica Rafa. “Vai ter de haver essa renovação, com novas pessoas para tocarem novos sets.”