Entrevista com João Grandino Rodas: Mudanças e investimentos

JC: Por que devolver a reitoria ao prédio da Antiga Reitoria?
Rodas: No governo militar, o Crusp usava apenas uma parte dos prédios já prontos. Lembro que uma noite, cheguei à USP e mais da metade dos colegas não estava na sala porque os ônibus tinham parado em frente ao Crusp com a Policia Militar e todos que moravam lá foram levados. A partir daí, duas coisas aconteceram: derrubou-se um prédio e construiu-se uma avenida, para separar a nova reitoria [do Crusp], e se mudou para lá a administração. Os dois prédios, completamente prontos, foram usados para a reitoria, com o intuito de não se usá-los para aumentar a permanência estudantil da época. Essa questão é histórica, no momento o Crusp ficou fechado muito tempo. Depois, foi usado só para alunos estrangeiros e a reitoria ficou lá. Isso ocorreu por volta de 1967.

A segunda coisa é que temos aqui uma praça, um prédio histórico, embora em extremas más-condições, que é a reitoria. De certa forma, é simbólico que se resgate aquilo que aconteceu em 67. É claro que a reitoria não vai sair de um dia pro outro de lá para cá, mas o gabinete do reitor e as coisas mais importantes vêm. E vamos liberar aqueles prédios, num momento em que pudermos acomodar as pessoas, para o Crusp.

Outra coisa, não tem sentido ter a praça do relógio extremamente mal cuidada em termos de jardins, etc. Certamente a vinda do gabinete vai trazer uma melhora para este lugar simbólico e histórico. E de certa maneira também trará uma melhoria para este prédio, que é grande. Outras coisas, como a Editora da USP, já têm um projeto de prédio próprio, que parece que já tem um certo orçamento.

Assim, daríamos uma dignidade maior para a reitoria. Já vi pessoas chegando à Cidade Universitária e dizendo “É isso a USP?”. Precisamos mudar, tentar através de uma busca por verbas do BNDES, Bancos Mundiais, para um upgrade do campus.

JC: Como medir os locais que precisam de investimento?
Rodas: Existem planos diretores deste campus e de outros, que tem décadas e precisam ser revisados pelo conjunto. Eles vão detectar como os planos são e onde há fugas das metas. É preciso reavivá-los.

Na ultima gestão, ou melhor, nos últimos 8 anos, dobraram os alunos de graduação. Mas a infraestrutura não dobrou, e estou falando em prédios, laboratórios, bibliotecas, infraestrutura computacional. O que se pretende é que se dê uma prioridade muito grande para isso. Não é que não vão começar coisas novas, mas é preciso que o que já existe se estruture. E se daqui a 2 anos tivermos 30% a mais de alunos de graduação? Aqui ficaria ingovernável pois não teríamos salas de aula, bibliotecas. Precisamos estruturar a Universidade para sanar as dificuldades de alunos e cursos que já existem. Dentro do plano diretor vamos nos certificar de que todas as Escolas terão alguma coisa: as que precisam mais um pouco mais, mas que todas tenham.

E a reitoria fará uma busca externa por verbas. Podemos considerar que aquilo que o Estado dá seja pouco, mas o Estado tem que pagar saúde, educação básica, segurança da população, e em geral e isso tudo é caríssimo. Não podemos achar que todo o dinheiro tem que vir para a Educação Superior. E se quisermos, em número menor de anos, fazer um upgrade dos campi, principalmente deste, bastante deteriorado, uma busca incessante de financiamento é necessária. Esses bancos já dão para iniciativa privada de ensino superior. Claro que para eles não é fundo perdido para eles, para nós seria. Mas todos sabem: as escolas superiores brasileiras privadas, que atendem a 75% da demanda, algo nada desprezível, têm empréstimo do BNDES para ser pago em 20 anos com 5 de carência e juros de menos de 1% ao mês. Não estou fazendo crítica, isso é ótimo. Por exemplo, o prédio bonito e espelhado da São Judas, duvido que tenha sido feito com dinheiro próprio. Certamente foi um empréstimo do BNDES.

É preciso considerar que as Universidades públicas possam ter acesso também a esse dinheiro, não como empréstimo, mas na mesma categoria que o BNDES dá para países vizinhos aos nossos para educação. Claro que precisam continuar dando, é uma questão de política externa, mas precisamos de certa forma fazer com que eles entendam que é necessária infraestrutura para fazer uma universidade de excelência. Um exemplo são as bibliotecas que parecem do século XVIII, que não são interativas e nem têm digitalização.