Debate: Deve haver isonomia no reajuste entre funcionários e professores?

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Ambas as categorias arcam com perdas históricas – entrevista com Francisco Miraglia
Servidores já receberam aumentos substanciais – entrevista com Eunice Durham


Ambas as categorias arcam com perdas históricas

Francisco Miraglia é membro da Adusp

Jornal do Campus: Por que a isonomia é justa?
Francisco Miraglia: A isonomia de reajuste e recuperação de perdas é razoável porque o que a gente está reivindicando é de caráter geral sobre a recuperação de salários do corpo de trabalho da Universidade, independente de circunstâncias de carreira. As perdas são comuns. É um índice. Nós não estamos discutindo se um técnico administrativo deve ou não ganhar 3 mil reais por mês ou o mesmo salário que um professor titular. Está sendo discutido quanto arroz e quanto feijão você deixou de comprar nos últimos anos.

JC: É valido o argumento de reestruturação e valorização da carreira docente dado pelo Cruesp?
FM: É difícil entender como reestruturação de carreira na medida em que você dá 6% linear para todo mundo. Não mudou nome de cargo, não foi introduzido outro nível. Nós entendemos isso como recuperação de perdas aos docentes. É bem-vinda. Agora tem que ser estendido aos funcionários. Não significa que na data-base o reajuste proposto não foi isonômico.

JC: O senhor acredita que os funcionários são valorizados na USP?
FM: Eu penso que a Reitoria não dá aos servidores o valor devido. Ela faz o discurso disso. E nem sempre os docentes ou os estudantes dão. E eles têm uma contribuição importante, particularmente aqueles que são contratados pela Universidade e não são terceirizados. O envolvimento do funcionário com a instituição, com a defesa da universidade pública, é muito importante.

JC: A questão dos reajustes e recuperação de perdas teria relação com a melhoria da qualidade de ensino?
FM: Sem dúvida nenhuma. Sem remuneração adequada, você está estimulando que as tarefas da Universidade não sejam as principais a preocupar professores e funcionários. Se você tiver remuneração e valorização do trabalho que é feito aqui, melhora a condição da Universidade e a relação das pessoas com o seu trabalho. Consequentemente, a Universidade se torna melhor.

JC: O orçamento da USP comporta o reajuste aos funcionários?
FM: Eu não tenho dúvidas a respeito disso. Mas mais importante do que isso é estabelecer negociações transparentes. Pelas estimativas que a Adusp faz, a arrecadação do ICMS atingiu recordes. Que bom que os recursos estão aí. Então por que não fazer propostas de planejamento? Eles não sentam para discutir propostas. Isso não é apenas autoritário, intransigente: não é universitário, não é racional. É uma imposição de força. E qual é a força do movimento? Tem que ser assim?

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Servidores já receberam aumentos substanciais

Eunice Durham é pesquisadora do NUPPs – Núcleo de Pesquisa de Políticas Públicas da Universidade de São Paulo

Jornal do Campus: A isonomia entre funcionários e professores é justa?
Eunice Durham: A questão é muito complicada. Nem toda isonomia é justa. Com mão de obra diversificada, é preciso verificar as questões em relação à competição do mercado de trabalho também. Se aumentarmos o salário dos funcionários, que já ganham bem, significa que você não pode aumentar mais o salário dos professores, que está muito defasado. Estamos perdendo professores para as federais e para muitas das privadas. A carreira dos funcionários foi refeita, houve muita promoção dentro da USP na gestão anterior, de modo que eu não acho nesse ponto caiba a isonomia. Mesmo porque ela se refere sempre a uma mesma categoria. Você não tem isonomia entre os funcionários e os faxineiros terceirizados, você não tem isonomia entre o juiz e o escriturário. São carreiras diferentes que exigemum tipo diferente de qualificação, desempenham uma função diferente.

JC: No comunicado do Cruesp, se falou em “reestruturação de carreira”. A senhora acha que a carreira docente deve ser reestruturada?
ED: Não acho que eles estão pretendendo reformular a carreira docente. Mas certamente a recuperação do salário dos docentes era um problema muito mais importante e urgente do que aumentar os salários dos funcionários que já tiveram aumentos substanciais anteriormente. Se você for examinar os funcionários em relação ao setor privado, você vai ver que a diferença é realmente brutal nos valores nossos. Não estou falando que a gente não pague bem, não quero que diminua o salário deles. Mas fazer uma greve em função da isonomia, eu acho inteiramente descabido.

JC: O reajuste poderia trazer benefícios na qualidade nos serviços da Universidade?
ED: Não. Os funcionários estão sendo bem pagos. Eles têm muito benefício, não é só o salário. Eles têm a aposentadoria em tempo integral, têm a aposentadoria mais cedo, vale-refeição, vale-creche. De modo que tudo isso conta bastante como uma carreira muito satisfatória. Se você abrir concurso, vai ter um monte de candidato, para qualquer posição.

JC: A USP valoriza os funcionários?
ED: Os funcionários estão bastante valorizados, em função de qualquer carreira fora da Universidade, para pessoas com mesmo nível de qualificação. A USP paga bem. Não acho que eles estejam sendo prejudicados. Há uma questão do dinheiro público. Tem que haver uma certa isonomia em relação ao mercado de trabalho. Nós devemos pagar um pouco mais que o mercado de trabalho para ter acesso ao pessoal melhor qualificado. Isso está ocorrendo.

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