Irregularidades no Crusp não têm perspectiva de solução

(ilustração: Stephan Vichr)
(ilustração: Stephan Vichr)

“Se você entrar nos apartamentos do Crusp é raridade ter só três pessoas morando”. É assim que Lúcia (nome fictício), moradora do conjunto residencial e estudante da Escola de Comunicações e Artes, define as irregularidades ali presentes. No ano passado, ela se instalou em um apartamento onde já havia outras cinco pessoas. Não conseguiu alugar algo próximo a USP por questões financeiras.

A Coseas define “morador irregular” como a pessoa que não está em seus registros como morador ou hóspede. Casos comuns de irregularidades acontecem quando os três moradores regulares aceitam abrigar outros colegas, colocando colchões extras na sala e nos quartos, ou quando um morador regular deixa a habitação antes do prazo limite sem dar baixa na Coseas. Assim, o quarto vago é ocupado por alguém que não passou pela seleção. Como a reavaliação só é feita anualmente, também há moradores que terminam seus cursos e continuam ocupando a vaga.

Rafael Alves e Amanda Freire, integrantes da Gestão Aroeira, que esteve à frente do Associação de Moradores do Crusp (Amorcrusp) em 2010, acreditam que as irregularidades existem por conta de um déficit histórico na demanda por moradia. Originalmente, o Crusp contava com doze blocos. Hoje, são apenas sete. “Enquanto isso, as vagas na universidade aumentaram quatro vezes” colocam. E acrescentam: “Irregular é a Coseas fazer com que as pessoas morem clandestinamente para continuar o curso”.

A ocupação da sala de estudos do Crusp pelos estudantes que não conseguiram espaço nos alojamentos coletivos provisórios no início do ano seria um exemplo do excesso de demanda.

Aniel Lima, membro da Nova Amorcrusp, que assumiu a entidade no último mês, concorda: “se tem morador irregular é porque faltam vagas”. Ele afirma que a moradia será uma das prioridades nesta gestão, não só propondo o aumento do número de vagas, mas também incentivando alternativas como a bolsa moradia. Ele comenta que já conheceu pessoas sem vínculo com a USP que residiam no Crusp, mas que isso é responsabilidade dos moradores oficiais que as aceitam em seus apartamentos.Ele defende “que a Coseas deveria ter uma burocracia mais eficiente”.

Critérios de seleção

Os critérios para a seleção de novos moradores são há alguns anos motivo de atrito entre os estudantes e a Coseas. Em resposta enviada ao Jornal do Campus, a coordenadoria afirma que eles são socioeconômicos e elaborados com a participação da Divisão de Promoção Social.

Segundo Rafael Alves, os critérios são conhecidos, mas há discordância em relação a alguns deles. Ele relata que as assistentes sociais dão um parecer técnico a partir das entrevistas e que seriam feitas perguntas como a posição política do candidato, cujas respostas influenciariam em sua nota final. Lúcia comenta que os alunos que mantém um contato mais próximo com as assistentes sociais também obteriam vantagem sobre os demais. Carlos (nome fictício), que veio do Peru para fazer doutorado e está tentando uma vaga no Crusp, contesta a forma como são organizadas as entrevistas. De acordo com ele, a falta em uma reunião é considerada falta de interesse na vaga, de modo que as agendas dos candidatos ficam submissas ao horário determinado pela Coseas.

O Jornal do Campus procurou as assistentes sociais para entrevistá-las mas não obteve autorização do coordenador da Coseas, professor Waldyr Antonio Jorge. Em sua resposta, porém, Waldyr afirmou que “membros que representam a comunidade discente são informados previamente sobre os critérios e as ponderações, estando o Serviço Social aberto para discussão de tais ponderações na tentativa de atender, da melhor forma possível, suas observações”.

Números do Programa de Apoio à Permanência e Formação Estudantil