Quadrinhos ganham espaço com nova Quadreca

Projeto de alunos da ECA é apresentado em evento internacional e inédito sobre quadrinhos, que reuniu 190 trabalhos em três dias
Organizadores da Quadreca e da Jornada (foto: JH Casquel e Renata Hirota)
Organizadores da Quadreca e da Jornada (foto: JH Casquel e Renata Hirota)

O mês de agosto marcou a volta da Quadreca, revista produzida por alunos do curso de Editoração da Escola de Comunicações e Artes (ECA), parte de um projeto que extrapola as páginas impressas e cria uma oportunidade para os artistas da universidade. O Projeto Quadreca, comandado há um ano por Daniel Argento, 24, aluno do 4º ano do curso de Editoração na ECA, engloba diversas atividades voltadas à criação, crítica e análise de histórias em quadrinhos, aproveitando as novas mídias. A revista deixou de estar vinculada a uma disciplina do curso e está aberta a colaboradores externos.

“A ideia era reviver a história da publicação”, explicou Daniel. Todo o acervo foi digitalizado e a edição 10 da Quadreca, considerada um marco na história da publicação, tornou-se a base para o novo trabalho. De acordo com Daniel, a revista impressa deve ser editada anualmente, mas ele ressaltou que “vai depender da resposta dos interessados”. O objetivo é torná-la um anuário da produção de quadrinhos autorais na USP.

O projeto vai utilizar a internet como ferramenta de comunicação com os autores. “Poderemos receber quadrinhos sempre”, disse Daniel. A equipe do Quadreca vai receber desde histórias completas a esboços e ideias, analisá-las e propor sugestões aos autores. As melhores serão selecionadas para a revista. De acordo com Daniel, o critério de seleção é simples mas exigente: “Queremos histórias que tenham algo a mais, seja arte ou roteiro, e sejam adequadas à linguagem.”

A professora da ECA Sônia Luyten, responsável pela concepção da Quadreca em 1977, acredita que a modernização da publicação, utilizando os meios digitais, desvincula o projeto da necessidade de verbas para sua publicação. “O novo projeto em forma digital é excelente. Foi a saída criativa para poder continuar e ter um alcance global”, afirmou Sônia.

O Projeto Quadreca destaca-se por permitir que os artistas aproveitem ao máximo o potencial criativo típico da fase universitária. Para o prof. Waldomiro Vergueiro, da ECA, “os autores universitários estão em seu auge de criatividade”. O prof. Paulo Ramos, que leciona na Unifesp e participa do Observatório de Histórias em Quadrinhos da ECA, destacou a liberdade do autor independente na universidade: ”A produção autoral permite a você fazer o que quiser, do gênero que quiser, no estilo que quiser. O limite é a sua criatividade”.

Momento certo

O Projeto Quadreca foi apresentado durante um evento inédito no meio acadêmico nacional, as 1as Jornadas Internacionais de Quadrinhos, realizadas entre os dias 23 e 26 de agosto na ECA. Organizado em conjunto pelos professores Waldomiro Vergueiro, Paulo Ramos e Nobuyoshi Chinen, todos do Observatório de Quadrinhos, o encontro contou com participantes de três países, que apresentaram um total de 190 trabalhos em diversos eixos temáticos.

A ECA é sede da disciplina acadêmica mais longeva sobre histórias em quadrinhos, criada em 1972 pela prof. Sônia. O prof. Waldomiro assumiu a disciplina há 12 anos e afirmou que o momento foi oportuno para o evento: “As histórias em quadrinhos sempre tiveram dificuldade para se firmar na universidade. O interesse pelo formato está surgindo em todas as faculdades, então nós sentimos que era o momento de propor um evento grande”. O prof. Nobuyoshi disse que a intenção é tornar o evento bienal. “Haverá tempo para acúmulo da produção”, justificou.

O mercado de quadrinhos no país também passa por uma boa fase. “Você tem um mercado melhor. Algumas editoras estão investindo nisso. Você não tem só histórias de humor ou infantis. Tem histórias maiores, narrativas mais longas e com textos muito bons chegando ao mercado de trabalho”, analisou o prof. Paulo Ramos.

Outro filão do mercado editorial atual são as adaptações de obras literárias para a linguagem dos quadrinhos, que conta com programas de incentivo do governo federal (Programa Nacional de Bibliotecas Escolares – PNBE) e estadual (Programa de Ação Cultural – Proac). “O governo federal entende que as adaptações são um bom ponto de partida para criar interesse nas obras originais, mas não tem nenhuma pesquisa que baseie isso”, disse Paulo.

Existe, entretanto, uma pesquisa que comprova que os quadrinhos são ferramentas para a formação de leitores proficientes. Esse foi o tema da tese de doutorado de Valéria Bari, da ECA, que explicou o fenômeno. “A pessoa precisa de experiências significativas para que práticas se fixem em sua vida. A leitura das histórias em quadrinhos representam uma experiência de leitura significativa, que se ingressa no seu cotidiano e se integra no seu ambiente social”, explicou Valéria. A conclusão de seus estudos é clara: “A leitura dos quadrinhos foram um leitor e prepara seu cérebro para outras leituras.”