Teatro Universitário ganha destaque em diversos institutos

O espetáculo Piratas de Galochas, do Coleti­vo de Galochas, formado por alunos do curso de Artes Cênicas, estreará dia 5 de novembro na ocu­pação Prestes Maia . É uma amostra do teatro que vem sendo feito na USP, mas se engana quem pensa que essa produção está restrita à quem pensa em se profissionalizar na área. O grupo do Largo, da Faculdade de Direito, por exemplo, ganhou o prêmio pela melhor trilha sonora com a peça Apoca­lipse ou o Capeta de Carua­ru no IV Festival de Teatro Universitário de Pato de Minas; e o Grupo de teatro da Poli (GTP) existe há mais de 50 anos e tem se focado em pesquisas cê­nicas.

Coletivo de Galochas (foto: Divulgação)
Coletivo de Galochas (foto: Divulgação)
Piratas de Galochas

Piratas de galo­chas é a segunda peça encenada pelo Coletivo de Galochas, que exis­te há dois anos e fez suas primeiras apre­sentações na Praça do Relógio. Foi dos ensaios a céu aberto na USP que surgiu o curioso nome do grupo teatral: o coletivo ensaiava diversas vezes debaixo de chuva e o úni­co modo possível de fazer isso era usando galochas. “O interessante é que as galochas fazem sentido também no Prestes Mais. Estamos ensaiando no nono andar, um lugar ina­bitável e cheio de goteiras. Elas continuam essen­ciais”, diz Lopes.

A ocupação Prestes Maia, local onde a peça será encenada, é a maior ocupação vertical de de­sabrigados do país. Lá, atualmente, estão aloja­dos membros do MSTC (Movimento Sem Teto do Centro). Um mandato de despejo para os atuais ocupantes do prédio já foi expedido e os integrantes do Coletivo informam nos cartazes que divulgam a peça que, caso isso ocorra, não haverá encenação.

“A ideia do Coletivo é fazer teatro fora do teatro. Usar outros ambientes além do palco comum, ficciona­lizar o real e criar leituras diferentes para os lugares em que encenamos”, diz Daniel Lopes, integrante do grupo. Ele explica que o prédio Prestes Maia não serviu apenas de local ce­nográfico: os membros do Coletivo interagiram com as pessoas que moram lá e as incluíram em sua dramaturgia.

“A relação que se estabe­leceu foi de troca. Nós ten­tamos mostrar a eles como é feito o teatro, incluí-los nas etapas de produção e não apenas como público, e eles, dessa forma, con­tribuíram também com a elaboração do espetáculo”, conta Jéssica Paes, outra integrante do Coletivo.

O Coletivo de Galochas realizou outras atividades cênicas enquanto elabo­rava a peça, como jogos teatrais e leitura de livros infantis com as crianças da ocupação, experiên­cias de que Jéssica fará uso em seu TCC. Eles pretendem trazer tam­bém outros espetácu­los para serem encena­dos no Edifício: “não que­remos ser a única refe­rência tea­tral para eles”, explica Lopes.

O capeta de Caruaru

Já o grupo de Teatro do Largo seguiu um rumo diferente com a comédia nordestina Apocalipse ou o capeta de Caruaru. O grupo foi criado em 2008 pelos calouros daquele ano com objetivo de fomentar uma produção teatral na Faculdade de direito Largo São Francisco e manter no meio universitário um espaço de expe­rimentação e inovação artís­ticas.

O grupo foi vence­dor do IV Festival de teatro Universi­tário de Pato de Minas, pri­meiro em que se inscre­veu. Ariel, que participou da en­cenação, diz que todos fi­caram surpresos e satisfei­tos com o resultado, pois competiram com outros espetáculos de nível quase profissional, ganharam a premiação de melhor trilha sonora e foram in­dicados em diversas outras categorias. “No grupo de teatro da Sanfran ninguém está preocupado com o lugar onde vai chegar fa­zendo teatro, a questão da profissionalização não é relevante: fazem por gosto, por sentirem vontade de criar um laço mais íntimo com a arte e isso causa re­sultados surpreendentes”, conta Oliveira.

Apesar dessa falta de preocupação em se profis­sionalizar, Oliveira acredi­ta que isso pode acontecer naturalmente quando se faz teatro universitário, mesmo que a pessoa não tenha esse objetivo como principal. Ele percebe tam­bém, por meio da da sua experiência com o festival e outras áreas do teatro, que a pro­dução atual no âmbito das universidades tem sido muito interessante. “As pessoas que pensam que a arte e a cultura já tiveram um auge e que não voltarão a ser tão ricas como foram em épocas anteriores, em breve, vão se surpreender”.

Espetáculo "O Capeta de Caruaru" do Teatro do Largo (foto: Divulgação)
Espetáculo "O Capeta de Caruaru" do Teatro do Largo (foto: Divulgação)
Teatro às exatas

Outro grupo de teatro uni­versitário que se destaca na USP é o GTP (Grupo de Teatro da POLI), criado há pouco mais de 50 anos, com o objetivo de trazer cultura por meio do teatro à Faculdade. No período de ditadura militar, serviu como núcleo de debate político e, em 2002, foi desconstruído. Foi reto­mado em 2003 com uma nova organização.

Atualmente, o GTP divide-se em núcleos de pesquisa. Cada grupo estuda os mais diferen­tes temas, como por exemplo lin­guagem corporal, teatro épico e dramático e o desenvol­vimento da expressão teatral. “O GTP tem um en­foque na pesqui­sa teatral, exercícios intensos e discussões profundas sobre textos”, conta Igor Zenker, integrante do GTP que fez uma par­ticipação em 2009 no filme As melhores coisas do mundo.

Zenker acredita que o teatro universitário permite à seu praticante ampliar sua capacidade de expressão e oferece momentos de relaxa­mento que são impor­tantes quando se está sob períodos de stress, como uma semana de provas. Porém, segundo ele, a atividade ainda não tem no Brasil a valoriza­ção que merece e é vista como inferior às outras artes. “Se houvesse uma expansão do teatro uni­versitário, com certeza os estudantes lidariam melhor com a vida aca­dêmica”, diz.