Militarização avança na USP

O Jornal do Campus erra ao não bancar em sua manchete que a USP terá um militar no comando da segurança dos campi. O ex-PM, cravado no título, não dá ao leitor a real dimensão de que será um militar que chefiará a segurança na Universidade.

Se manchetasse: coronel assume segurança da USP ou militar assume segurança da USP, o jornal não incorreria em nenhum erro e deixaria absolutamente clara a informação para seu leitor. O coronel Luiz de Castro Jr. é e, sempre, será um militar. Não é porque está na reserva, que deixou de sê-lo. Aliás, mantém a mais alta patente da hierarquia da Polícia Militar.

E foi justamente sua condição de militar que fez com que o reitor, João Grandino Rodas, o contratasse para chefiar a segurança da Universidade.

O ineditismo de um militar assumir o comando da segurança da maior e mais importante universidade do país, perdeu força com a manchete. O caráter singular do fato também exigia que a publicação desse mais espaço para a abordagem do tema. Era absolutamente pertinente o aprofundamento do assunto que envolve diretamente milhares de pessoas que trabalham, estudam ou circulam no campus.

A coluna Opinião, da página 2, poderia ter sido utilizada para o debate em torno da questão. Cabia também uma arte com um raio X do novo comandante da segurança na Universidade de São Paulo. A reportagem também deveria ter citado que além de Castro Jr., outros dois coronéis vão atuar na vigilância da USP. Seria interessante destacar quais são os salários que os coronéis contratados pela reitoria da Universidade de São Paulo vão receber.

Faltou dizer também que o coronel Castro Jr., antes mesmo de tomar posse oficialmente, participou de reunião do Conselho Gestor, sem que os demais conselheiros tivessem sido comunicados antecipadamente sobre sua participação no encontro.

Juristas poderiam ter sido ouvidos para esclarecer se juridicamente há alguma possibilidade de reverter as contratações feitas pelo reitor João Grandino Rodas, que criou cargos e contratou pessoas sem concurso público para as novas funções.

O título da matéria também incorreu no mesmo erro da manchete, porque, como já foi explicitado, não se trata de um ex-militar.

O destaque da edição vai para a boa matéria sobre a ameaça que espécies raras de vegetação correm na USP, devido às obras que estão sendo realizadas na Cidade Universitária. O texto explicita o desprezo com que a reitoria trata a biodiversidade que existe no campus.

Lúcia Rodrigues é jornalista e cientista social. Já trabalhou na revista Caros Amigos e no jornal Folha de São Paulo. Atualmente, é repórter da Rádio Brasil Atual. Você, leitor, também pode entrar em contato com a nossa ombudsman. Basta mandar um e-mail para luciarodrigues[@]estadao.com.br