Escola de Aplicação é a melhor de São Paulo

O Índice de Desenvolvimento do Ensino Básico da EA é de 7,3

Escondida atrás do prédio da Faculdade de Educação(FE), próximo ao portão 1 da Cidade Universitária, está o melhor colégio público de São Paulo na educação básica. A Escola de Aplicação (EA) alcançou as maiores notas da cidade no Índice de Desenvolvimento do Ensino Básico (Ideb): 7,3 no 5º ano do Ensino Fundamental e 5,8 no 9º ano.

A EA nasceu em 1956 como um Centro Experimental que, três anos mais tarde, foi transformado na Escola de Aplicação. A ligação institucional com a USP, entretanto, é posterior. Esteve sob responsabilidade do Centro Regional de Pesquisas Educacionais (CRPE) da região sudeste até 1973, quando a Faculdade de Educação (FE) a incorporou. “Antes dessa incorporação, havia um outro Colégio de Aplicação, ligado à então Faculdade de Filosofia Ciências e Letras (FFCL), mas ele foi fechado pelo governo militar”, explica Patricia Martins, atual diretora da EA.

Uma grade marca da escola é a heterogemeidade, lidar com a diferença.
Patrícia Martins, diretora da EA

Hoje, 56 anos após a sua fundação, a Escola atribui seu sucesso no Ideb ao conjunto de experiências disponíveis aos alunos como as atividades no contra turno, os estudos de meio, as saídas de estudos, a possibilidade de pré-iniciação científica para o ensino médio, a formação constante dos professores e a intensa participação das famílias e dos alunos nos momentos de discussão. Segundo Patrícia, os alunos têm tantas possibilidades que às vezes não proveitam nenhuma. Além disso, a EA se dispõe a pensar as fases do ensino diferentes de acordo com suas demandas próprias.

A seleção de alunos por sorteio gera bastante diversidade no ambiente escolar, o que se reflete no ensino. De acordo com Patrícia, a escola não tem uma linha pedagógica definida. O planejamento é feito em momentos de discussão da prática, na jornada de trabalho existem quatro horas reservadas para reuniões, que propõe fazer e pensar ao mesmo tempo, garantindo a heterogeneidade e a coerência pedagógica. Este é o conceito de aplicação, fazer valer a teoria na realidade da sala de aula.

Não há a figura do coordenador pedagógico e a estrutura é bastante horizontal, com autonomia para os professores, que tem como base as orientações curriculares, mas podem agir livremente na prática do ensino. Assim, a responsabilidade individual acaba se tornando maior. “Em nenhuma outra escola tive uma experiência de participação tão intensa”, conta Patrícia, que já trabalhou em outras escolas da rede pública.

Uma marca da EA são os estudos de meio, viagens de estudos atreladas ao currículo que são “uma experiência que [os estudantes] levam para o resto da vida”, afirma Patrícia. Elas não são financiadas com dinheiro público, pois é inviável fazer uma licitação para este tipo de atividade, portanto tem custo para os alunos. A Universidade custeia o transporte e disponibiliza uma verba para alunos de baixa renda, que tem direito a uma bolsa de atividade didática, assim nenhum aluno deixa de ir por não poder pagar.

A escola não tem os indicadores externos como uma finalidade e não faz uma preparação específica para eles. Os pais e alunos são avisados da seriedade da prova e sobre seu significado, mas a escola lida de forma natural com o exame, sendo mais um dia de atividades na escola, por esse motivo a diretora considera o resultado real e positivo. O olhar sobre os resultados é crítico, e ajuda na avaliação do ensino.

Frente a Problemas

Apesar dos bons resultados em avaliações externas, a Escola alguns problemas sérios. O primeiro deles é a infraestrutura precária. Não existe, por exemplo, um refeitório no espaço, o que impede que a Escola forneça merenda aos alunos. Além disso, a pintura das paredes está descascando em vários pontos e os banheiros precisam passar reformas. “Um plano diretor, que prevê essas obras, foi enviado à Superintendência do Espaço Físico (SEF) da USP. Não temos uma previsão de quando ele será ou não aprovado, mas sabemos que a tramitação é demorada”, explica Patricia.

Outro problema enfrentado pela EA é a classificação dos seus  professores no quadro de funcionários da USP. Segundo informa o Serviço de Pessoal da FE, “eles cumprem a função de Educadores, com nível uperior. Por isso, são servidores técnico-administrativos.” Esse enquadramento funcional não garante aos docentes os mesmos direitos que professores de outras escolas de ensino básico. A diretora Patrícia explica que existe um encaminhamento para solucionar essa situação: “Foi designada pela reitoria uma comissão para criar a função de Professor de Educação Básica. Essa carreira ainda se enquadraria como servidor técnico-administrativo e não docente,  como acontece nos Colégios de Aplicação das Universidades Federais.”

Crianças brincam durante intervalo na Escola de Aplicação (foto: Sofia Franco)
Crianças brincam durante intervalo na Escola de Aplicação (foto: Sofia Franco)


Cálculo do Ideb

O Ideb tem valores de 0 a 10 e é o resultado da multiplicação entre os indicadores de fluxo e aprendizado. O fluxo é obtido a partir das médias calculadas pelo somatório das taxas de aprovação em cada ano escolar dividido pelo número de anos avaliados. Se o resultado for 1, significa que a taxa de aprovação foi de 100% em todos os anos escolares do segmento, ou seja nenhum aluno repetiu o ano neste período. Para o indicador de avaliação são utilizados os resultados da Anresc (Avaliação Nacional do Rendimento Escolar), também chamada Prova Brasil. Ela é aplicada censitariamente em alunos de 5º e 9º anos do ensino fundamental público a cada dois anos.