Estádio do CEPEUSP deve entrar em obras só a partir de 2014

Com a prioridade para as reformas do velódromo, piscina e módulos, “obra de arte” deve virar arena multiuso daqui a alguns anos

E se você soubesse que há na USP um estádio com capacidade para 30.000 pessoas, construído para os Jogos Panamericanos de 1975 e que já organizou uma final de Copa São Paulo de Futebol Júnior? Hoje, ele está abandonado e subutilizado pela universidade. As atuais reformas de outras áreas do CEPE têm prioridade e uma possível reforma do estádio está prevista para começar apenas para o ano da Copa.

Há pelo menos 30 anos um estádio dentro do CEPE poderia ser mais bem utilizado em prol do esporte universitário e até de políticas esportivas públicas. Para Juca Kfouri, jornalista formado em Ciências Sociais pela USP, “o fato revela o descaso institucional pelo esporte e a total ausência de uma Política de Esportes para o Brasil”.

Esses fatores atrapalham diretamente o fortalecimento do esporte universitário na USP e no Brasil. “A principal dificuldade é a falta de Política Esportiva e o tradicional desinteresse da universidade brasileira pelo esporte. Nossa cultura esportiva é clubística, não estudantil, ao contrário dos EUA. E, burramente, nossos intelectuais olham com desdém para a prática esportiva”, completa Juca.

O diretor do Cepeusp, Carlos Bezerra, enaltece a obra arquitetônica do estádio, mas culpa a organização dos Jogos Panamericanos, que nem chegou a acontecer em São Paulo por um surto de meningite, pela forma como o estádio foi abandonado durante as últimas
décadas. “Foi muito bem feito. É uma obra prima de arquitetura. Esse estádio é uma obra de arte. Mas a organização dos Jogos Panamericanos construiu um estádio dessas proporções e não pensou que a universidade não teria condições de mantê-lo.”

Em função da prioridade de outras reformas que estão sendo realizadas no CEPE, como no Velódromo (já noticiado na penúltima edição do JC), ginásios e piscinas, o que vai acontecer com o estádio ainda é incerto. Mas o mais provável, como destaca Bezerra, é que no ano que vem seja feito um estudo e em 2014 comecem a ser feitas as mudanças. “A ideia é fazer uma arena multiuso com restaurantes, banheiros e estrutura adequada que solucionem os problemas atuais, que são falta de vias de acesso e estacionamento para veículos. É necessário sermos suficientemente criativos para que tenha uma utilização correta. Uma gerência adequada e inteligente é fundamental.” Os problemas com burocracia e obtenção de verbas ainda são citados pelo diretor como fatores a serem resolvidos para uma resolução do problema.

Para o presidente da Liga Atlética Acadêmica da USP (Laausp), Leonardo Marinho da Cunha, o Tocantins, as reformas nos módulos e em outras áreas do CEPE realmente são mais importantes para o cenário esportivo universitário atual. “Sem dúvida que será muito
bom poder fazer partidas de relevância no estádio com sua reforma, mas creio que no cenário esportivo universitário atual, principalmente dentro da USP, esse não é nossa principal prioridade de espaço físico. Precisamos na verdade da reforma dos módulos, além da necessidade de uma quadra de futsal coberta e de um campo de grama sintética, que também estão nos planos de reestruturação.”

Para Juca, questões básicas, como a democratização do acesso da população aos mais diversos esportes, ainda são problemas a serem enfrentados e, enquanto o Comitê Olímpico Brasileiro não centralizar suas forças em difundir o acesso às práticas esportivas esse quadro não se alterará. “A sociedade deveria se mobilizar para fazer cumprir a Constituição de 1988, que trata o esporte como direito do povo e dever do Estado. Estado, que deveria olhar para o esporte como fator de saúde pública. O COB sonha em manter sua mordomia, não em fazer potência olímpica, até porque não se faz potência olímpica sem a democratização do acesso à prática esportiva, numa palavra, sem massificação”.

Abandono do estádio pode ser constatado nas arquibancadas. Foto: Gabriel Roca