Peça de dança teatral alemã adiada

O espetáculo “Unterweg(s)” seria exibido na Áustria, mas foi suspenso após corte de gastos

A nova montagem deve ser finalizada até o final de 2014. Além dela e de Unterweg(s), o laboratório também concebeu a premiada peça Momento(s) de Silêncio, exibida no Teatro da USP (TUSP) em 2011 Foto: Patrícia Figueiredo

Nem dança, nem teatro. O espetáculo Unterweg(s) é baseado na filosofia alemã do Tanztheater, que propõe uma forma de arte dançada que se empenha em respeitar todas as exigências do teatro. Unterweg(s) –  que significa “estar a caminho” em alemão – explora os sons interiores de cada um, de modo a promover nos espectadores novos olhares sobre eles próprios e sobre o mundo ao redor.

Desenvolvida pelo Laboratório de Pesquisa e Estudos em Tanztheater (LAPETT), do Departamento de Artes Cênicas (CAC) da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP, a peça foi apresentada pela primeira vez nos dias 16 e 17 de maio na Tenda Cultural Ortega y Gasset. Depois, a montagem seria exibida em Salzburgo, na Áustria, como parte de um projeto de intercâmbio cultural promovido pela professora Sayonara Pereira, coordenadora do laboratório. No entanto, após o corte no orçamento promovido pelo reitor Marco Antônio Zago, algumas etapas do projeto foram suprimidas. A próxima apresentação do Unterweg(s) será dia 21 de agosto no Teatro Laboratório da ECA, às 20h.

Financiadas majoritariamente por editais da Pró-Reitoria de Cultura e Extensão, as atividades do grupo LAPETT sofreram diretamente com o corte de gastos. Dois projetos liderados pela professora Sayonara agrupavam as diversas atividades do grupo: o Janela Digital e o Caligrafias Digitais. “Acredito que, de todo o valor que seria destinado a essas atividades inicialmente, tenha sobrado só uns 12% disso depois do corte”, revela Sayonara.

A proposta inicial da pesquisadora incluía também um projeto de cooperação com o Instituto Alemão de Videografia em Dança da Universidade de Bremem para a criação e desenvolvimento da primeira base de dados e informações multimeios sobre Tanztheater e outras técnicas de dança contemporânea no Brasil. A iniciativa consistia na doação de um banco de dados com mais de 200 filmes e documentários de dança, que ficaria disponível no site da Escola de Comunicações e Artes.

Outro projeto que sucumbiu à crise orçamentária foi a viagem dos integrantes do grupo para a Áustria. O grupo apresentaria a peça Unterweg(s) na Universidade de Salzburgo para reforçar o diálogo com a professora e pesquisadora Claudia Jeschke, especialista em história da dança, análise do movimento e reconstrução de caligrafias de dança cênica. “Infelizmente a única parte desse projeto que resistiu ao corte foi a visita da pesquisadora austríaca à ECA para ministrar um seminário aberto a todos os públicos”, conta Sayonara.

Nova montagem

Apesar das dificuldades, o grupo LAPETT continua ativo e está agora trabalhando na concepção de uma terceira peça, ainda sem título. O processo de criação também segue a filosofia alemã do Tanztheather. Sayonara, que estudou na Alemanha de 1985 a 2004 e especializou-se no tema, ajuda os estudantes a construírem suas próprias performances. Também chamadas  partituras coreográficas, as coreografias individuais refletem aspectos da identidade e da memória de cada membro, que é responsável por traduzir esses elementos em movimentos corporais.

Letícia Araújo, aluna da graduação em artes cênicas, está no LAPETT desde março de 2011, quando o grupo começou. Ela exalta a composição das partituras como um processo de autoconhecimento. “Foi possível encontrar lugares em mim com a dança, novas formas de me movimentar e de me expressar. Algumas memórias minhas que as vezes eu nem sabia que tinha, com esse processo que a gente vive aqui, foi possível relembrar”.

Rafael Sertori, mestrando do programa de pós-graduação em artes cênicas, concorda: “A gente faz uso de memórias e de um pouco da identidade de cada um e tenta materializar isso em alguma coisa poética”.  Ametonyo Silva, aluno do segundo ano da gradução em artes cênicas, conta que criou um movimento para sua partitura inspirado por uma lembrança de infância de seu avô tirando leite da vaca.