Greve faz diretor da Brasiliana renunciar

 

No último dia 29, o ex-diretor da Biblioteca Brasiliana Mindlin (BBM), professor Carlos Guilherme Mota, distribuiu uma carta entre colegas como pedido de demissão do cargo que ocupava desde fevereiro deste ano. Ele defende que “bibliotecas não devem entrar em greve”.

No documento, Mota se posiciona a favor da paralisação, mas contra os métodos utilizados para impedir o funcionamento dos prédios da USP, como os piquetes que bloquearam a entrada da BBM. O acadêmico já havia afirmado numa carta anterior que “sobre a greve,  estou de acordo, mas não com seus métodos, que considero bárbaros. No caso de bibliotecas, considero que devem permanecer em funcionamento, pois muitos pesquisadores com prazos a cumprir delas dependem. Nem durante a ditadura foram fechadas!”.

O historiador lamenta a “falta de mentalidade institucional dos funcionários” e reconhece o apoio e liberdade que teve a partir da Pró-Reitoria de Cultura e Extensão, a qual a biblioteca está subordinada, para implementar algumas políticas durante a sua gestão.

“Acho que as lideranças sindicais e docentes não evoluíram nos últimos 30 anos. São as mesmas, só que envelhecidas, desatualizadas. O que afasta ainda mais a USP de seus docentes e da própria sociedade que nos paga. Mas começa a haver uma reação, no sentido da renovação”.

Mota lembra de seus esforços para formar um Comitê Acadêmico, que faz a intermediação entre a BBM e as pesquisas realizadas a partir de seu acervo, além de restabelecer relações com outras bibliotecas, nacionais e internacionais.

O acadêmico culpa a gestão de João Grandino Rodas (reitor anterior) pela “pesadíssima herança” de “gastos monumentais” e a gestão do atual reitor, Marco Antônio Zago, por não deixar claras as medidas administrativas que minimizam os efeitos da inflação e refletem nos salários dos funcionários.

Mota já havia se posicionado formalmente contra os piquetes e o fechamento da biblioteca por meio de carta enviada aos funcionários da BBM e datada de 20 de agosto. Ele questiona: “como pode um Diretor não ter acesso à sua sala, para assinar – como sabem – documentos relativos a compromissos com prazos inexoráveis? Até o arquiteto Eduardo de Almeida, detentor do maior prêmio internacional de Arquitetura, no dia 18 de agosto não pôde entrar na BBM com Comissão premiadora visitante, por conta de piquete”.

O cargo de direção foi ocupado por Sandra Vasconcelos, que também é professora titular da FFLCH (Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas), representante dos professores titulares na congregação da Faculdade, e curadora dos fundos João Guimarães Rosa no IEB (Instituto de Estudos Brasileiros).

Sandra já fazia parte do Comitê Acadêmico da BBM e foi nomeada, em 30 de agosto, pela Pró-Reitoria de Cultura e Extensão, que , por meio de diálogo com o Sintusp (Sindicato dos Trabalhadores da USP), conseguiu que o piquete fosse retirado para que a nova diretora tivesse acesso a sua sala, ainda que a biblioteca continue sem atender ao público.

A professora se diz a favor da greve como direito, que tem motivos justos, mas afirma que “piquete não me convence, é simbolicamente agressivo”. Ela também lamenta que as salas da FFLCH estejam todas fechadas, uma vez que, para ela, a greve não deve afastar as pessoas, mas chamá-las para o diálogo.

Sandra comenta a intenção de ter uma reunião de apresentação e diálogo com os funcionários da BBM, não apenas para que eles possam conhecê-la, mas também para ajustar o trabalho. Ela aponta que, dentre seus planos, estão o desejo de elaborar acordos com instituições nacionais e internacionais, como a Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, British Library, King’s College e Brown University. Existem eventos sendo organizados pela BBM com representantes dessas instituições, mas ainda sem data definida.

(JOÃO PAULO FREIRE)