Protozoário atinge 61% das amostras de esgoto na capital

Você com certeza já ouviu falar de “amarelão”, “tênia” ou “barriga d’água”, mas já se preocupou com a giardíase? Ela é provocada por um parasita chamado Giardia intestinalis, que causa diarreia em animais e humanos. Uma pesquisa da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP analisou amostras de esgoto da cidade de São Paulo e esse protozoário estava presente em 61% delas. O esgoto, como um um espelho das doenças que a população sofre, apresenta um índice bastante preocupante.

Segundo Francisco Miroslav Ulloa Stanojlovic, pesquisador responsável pelo projeto, um dos fatores mais preocupantes desse dado é que o esgoto, após ser tratado, é utilizado para a irrigação de campos agrícolas. Ele cita que as formas atuais de tratamento não eliminam completamente todos os microorganismos que podem se tornar patogênicos, facilitando a contágio de alimentos pelos cistos e alastrando a contaminação, que ocorre por via oral. “Eles podem se alojar nos produtos que se está cultivando, como legumes, frutas e verduras”, afirma.

Em parceria com a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), que já faz monitoramento desses organismos, a pesquisa aproveitou o método de coleta para tentar isolar e caracterizar a presença de Giardia nas amostras de esgoto. As coletas ocorreram em locais com alto tráfego de pessoas, como aeroportos (Congonhas, em São Paulo; Cumbica, em Guarulhos, Viracopos, em Campinas e Emissário Rebouças, em Santos) e Rodoviárias (Terminais Rodoviários do Tietê e Barra Funda), durante o ano de 2012.

O pesquisador comenta que o monitoramento do esgoto bruto é importante pois é “através dele que se pode traçar um perfil epidemiológico da população”. Além disso, aponta que, na forma de cisto, “muitas vezes a Giardia resiste às formas convencionais de tratamento de esgoto e de água para consumo humano, podendo representar um risco para a contaminação para os mananciais e as pessoas”.

OCORRÊNCIA

A giardíase é uma doença muito comum em cães e gatos. A ocorrência dela varia muito de acordo com as condições de vida dos animais, sendo que, em geral, nos animais de rua, abrigos ou canis o índice é maior do que nos que vivem em domicílios. Segundo o site do Conselho Regional de Medicina Veterinária, uma pesquisa identificou a ocorrência da doença em cerca de 5% dos cães com dono, ao passo que aproximadamente 72% dos cães de rua de uma de uma comunidade apresentavam a moléstia. O fato de os cistos sobreviverem por longos períodos no ambiente e serem resistentes a muitos desinfetantes aumenta o risco de contágio.

O site aponta ainda que não é apenas nos animais que as condições de vida influenciam na ocorrência do parasita. Em países desenvolvidos, o protozoário atinge apenas 2% da população. Já em países subdesenvolvidos, o número salta para 30%. Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde) a Giardia é um parasita zoonótico, o que significa que as infecções podem ser transmitidas dos animais para os humanos.

FALTA DE ÁGUA

O Ministério da Saúde já recomenda o monitoramento da presença de Giardia e outros microorganismos em mananciais, mas a discussão sobre a utilização de esgoto para fins urbanos torna necessário intensificar o controle. Stanojlovic afirma que, no caso do reuso do esgoto bruto, “o tratamento que é feito na atualidade pela Sabesp não garante ainda a eliminação completa dos cistos de Giardia”, entre outros parasitas. Dessa forma, a utilização para consumo humano pode ser um risco.

Assim, as recentes propostas políticas à respeito do tratamento de esgoto para utilização em fins urbanos devem esbarrar em  um novo empecilho para sua implementação.

Transmissão

O principal meio de aquisição do parasita é a via hídrica. A água contaminada contém os cistos, que são a forma infecciosa do protozoário. Assim, frutas, legumes e verduras que tenham sido irrigados com água contaminada ou com esgoto tratado também são focos de transmissão. Outra forma de contágio é a falta de saneamento básico ou de higiene, pois os cistos são eliminados pelas fezes.

Sintomas

A giardíase causa problemas gastrointestinais, mas não possui nenhum sintoma característico. Diarreia, dores abdominais, eliminação de gases, mal estar e má absorção de nutrientes são possíveis reações. Há casos, porém, que o portador não apresenta sintomas, o que o pesquisador julga ser ainda mais perigoso, pois a pessoa se torna um transmissor de cistos sem perceber.

Diagnóstico

Stanojlovic afirma que, em geral, para problemas gastrointestinais, faz-se exames de fezes por microscopia. Porém, no caso da Giardia, esse processo pode apresentar falhas. “A eliminação de cistos é intermitente, ou seja, não é contínua. Assim, pode ser que se elimine em alguns dias e em outros não, e dependendo do dia que o exame for feito, a presença do protozoário pode não ser identificada”.

Prevenção

O tratamento é simples, bastando a ingestão de medicamentos antiparasitários. Porém, é preciso um trabalho de prevenção, pois se a fonte de contaminação não for combatida, é possível que os indivíduos adquiram novamente o protozoário. No caso dos lugares monitorados em São Paulo através da pesquisa, que inclui áreas bastante movimentas, o risco de se readquirir o microoganismo é grande.

por THAIS FREITAS DO VALE