Voz aos sobreviventes do holocausto

Coordenada por professora da FFLCH, iniciativa reúne relatos de judeus refugiados

O Arquivo Virtual sobre Holocausto (Arqshoah) está desenvolvendo um novo projeto. Sob a coordenação de Maria Luiza Tucci Carneiro, professora da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), a iniciativa tem o objetivo de colher depoimentos de sobreviventes da perseguição nazista durante a Segunda Guerra Mundial. A coletânea terá o nome “Vozes do Holocausto”.
Segundo a professora Maria Luiza, a importância do projeto está no fato de as memórias coletadas completarem a história do holocausto. Ao ouvir sobreviventes, o projeto reconstitui um dos lados pouco explorados do genocídio, reescrevendo a história a partir de testemunhos de pessoas que realmente viveram o acontecimento. Além disso, a iniciativa é capaz de criar uma identidade entre os colaboradores, uma vez que suas narrativas de vida os aproximam. “É importante para os sobreviventes saberem que existem outros, as vezes mais perto do que imaginam. As vezes um deles não faz nem ideia que o outro, com a mesma história, está morando perto, em São Paulo mesmo”, afirma a coordenadora Maria Luiza.
A professora também acredita que o projeto deixa um importante legado histórico ao mostrar, através dos relatos, a postura do Brasil perante os massacres nazistas. Apesar de contar hoje com um número considerável de sobreviventes do holocausto, o país muitas vezes se omitia perante os pedidos de refúgio de judeus que escapavam dos campos de concentração. “O projeto explicita a postura antissemita do governo brasileiro perante as atrocidades nazistas”, afirma Maria Luiza.
Os colaboradores do projeto não contribuirão somente com a história de sua trajetória. Segundo a equipe do Arqshoah, os depoimentos serão complementados por um conjunto de documentos históricos, sendo que a grande maioria deles pertence aos próprios sobreviventes ouvidos.
Ao fim do projeto, parte da coletânea será disponibilizada gratuitamente para museus, bibliotecas escolares e arquivos brasileiros, no formato de livros contendo os depoimentos, que serão acompanhados por 10 DVDS que conterão o registro audiovisual dos testemunhos.

Motivação

O projeto “Vozes do Holocausto” é o resultado de anos de trabalho da professora Maria Luiza. Segundo ela, sua busca por relatos de sobreviventes começou há mais de duas décadas e foi motivada por um convite de um conhecido. Após a publicação de seu livro “Antissemitismo na Era Vargas”, ela recebeu a ligação de um sobrevivente, que lhe disse que se identificava com as narrações na obra, e a convidou para ouvir testemunhos de um grupo em Riolândia, no norte do Paraná. A partir dessa viagem, passou a reproduzir documentos, álbuns de família e outros arquivos pessoais. Desde então, ela tem se dedicado a reconstruir essa parte da história.
O incentivo para dedicar tanto tempo ao projeto vem da necessidade de construir documentos históricos que explicitem a ocorrência do genocídio. Segundo a professora, a iniciativa ocupa um papel importante na tarefa de evitar que existam grupos que neguem o holocausto. Essa negação representaria uma grave discriminação da minoria étnica judaica, uma vez que isso ofenderia sua identidade histórica.

Depoimentos

Alguns testemunhos de sobreviventes podem ser acessados no site do Arqshoah (www.arqshoah.com.br). Os relatos disponibilizados contam com informações pessoais do colaborador. Além disso, a posição frente ao nazi-facismo também é divulgada, revelando as passagens por campos de concentração, os esconderijos usados e se o sobrevivente teve ou não participação em frentes de resistência.

(Ilustração: Marcelo Grava)

Por Pâmela Carvalho