Símbolo da resistência na Ditadura foi professor da ECA

Vladimir Herzog ainda lecionava no curso de jornalismo quando foi preso no DOI-CODI

Durante a ditadura, alguns professores da ECA foram perseguidos, demitidos ou se demitiram voluntariamente como reflexo de um período de intolerância e violência. Vladimir Herzog estava entre eles. Antes de ser assassinado, ele ministrava, como professor voluntário, a disciplina de Telejornalismo no Departamento de Jornalismo e Editoração (CJE) da Universidade.

Em 1975, o professor Sinval Medina não foi aprovado em seu mestrado por perseguição política, fato que o impedia de lecionar. Esse foi mais um dos atos de repressão do diretor da Escola, Manuel Nunes Dias, que apoiava o regime. Em apoio ao docente, a maioria dos professores da ECA se demitiu, episódio conhecido como “Delito Medina”. Os ecanos entraram em greve, e na sequência, todos os alunos da USP.

Com a falta de professores no CJE, a aluna de pós graduação Dilea Frate sugeriu o nome de Herzog à Gisela Ortriwano, que levou ao professor José Coelho Sobrinho. Apresentado ao Conselho de Graduação por Coelho, o jornalista foi aprovado como professor convidado, no segundo semestre de daquele ano.

Foto: Instituto Vladimir Herzog
Foto: Acervo – Instituto Vladimir Herzog

Àquela altura, Vlado já sabia que estava na lista de suspeitos do Destacamento de Operações e Informações (DOI-CODI) e suspeitava que muito em breve seria interrogado. Na sexta-feira, dia 24 de outubro, ele devolveu os trabalhos da turma para Gabriel Priolli, seu aluno e estagiário na TV Cultura, por estar inseguro com o contexto político da época. Aquela foi a última vez que Priolli viu o professor. No dia seguinte, ele foi intimidado a depor no DOI-CODI do II Exército em São Paulo e acabou assassinado.

Atônitos com a notícia, os estudantes se reuniram na ECA em solidariedade. Eles tentavam entender o que havia ocorrido e pensavam o que ainda estava por vir, afinal, outros amigos também estavam presos.

Embora breve, a passagem de Herzog pela ECA gerou polêmicas. Seu nome não consta nos registros oficiais da universidade, supostamente por não ser concursado. No entanto, a Adusp, em matéria publicada em sua revista em outubro de 2012, alega que a diretoria da ECA da época apagou seu nome dos documentos.

A morte de Vlado despertou uma série de reações na sociedade civil, como o ato ecumênico na Praça da Sé, no dia 31 de outubro. Elas começaram a minar as bases de sustentação da ditadura militar, que culminaram, em 1979, com a aprovação da Lei da Anistia, o retorno dos exilados políticos e o início da distensão do regime.

Hoje, Vladimir Herzog é referência da luta dos jornalistas. Ele dá nome ao auditório do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, ao prêmio que reconhece as melhores reportagens sobre Direitos Humanos, entre outras homenagens, como a do Laboratório de Redação da ECA-USP.

Por Gabriela Sarmento e Júlia Moura