Não há consenso sobre monitoramento do trânsito na USP

Projeto da PUSP-C e CET deveria entrar em vigor no início de 2005, mas segue sem execução

Pelo campus Butantã da USP passam aproximadamente 100mil veículos todos os dias. Além de carros, o fluxo de ônibus, ciclistas, pedestres e esportistas também é intenso. Com tamanho movimento, os acidentes são constantes. Em 2015, foram 145 acidentes, sendo 36 deles com vítimas, de acordo com dados da Prefeitura do Campus da Capital (PUSP-C). No entanto, além dos números, há outro agravante para tantos incidentes: a falta de fiscalização.

A Companhia de Engenharia de Tráfego de São Paulo (CET) é a empresa responsável por fiscalizar e autuar o trânsito na capital. Apesar do Código de Transito Brasileiro (CTB) ser válido dentro da USP, a empresa não tem jurisdição para a operação interna do campus, por ele não ser parte do sistema viário municipal. “A Universidade de São Paulo é pública, mantida pelo Estado de São Paulo e ligada à Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia. Não sendo de responsabilidade da Prefeitura de São Paulo”, explicou, em nota, a companhia. Com a falta de supervisão, as velocidades máximas permitidas são constantemente ultrapassadas e o espaço destinado aos ônibus, às bicicletas e aos atletas são invadidos.

Para solucionar o impasse, o Professor Arlindo Phillipi Júnior, ex-prefeito do campus, reuniu-se em 2014 com a CET e o Ministério Público Estadual para formular  convênio que permitiria a atuação da Companhia dentro do Campus. O projeto, previsto na época para entrar em vigor em 2015, ainda está na fase de estudos. Em entrevista, a PUSP-C afirmou não haver previsões no momento. Segundo a CET, “a Prefeitura do Município de São Paulo, em conjunto com o Departamento de Operações do Sistema Viário (DSV) e a Companhia, estão desenvolvendo estudos para um possível convênio que solucionaria as necessidades operacionais e de segurança no campus. Tal estudo envolve também a Secretaria de Governo Municipal (SGM) e a Secretaria de Segurança Pública (SSP)”.

A fiscalização hoje em dia depende da denúncia dos cidadãos e da atuação da Polícia Militar. Para auxilar neste monitoramento a Prefeitura do campus conta com câmeras de vigilância, que estão em fase de implantação. Os motoristas, todavia, não se sentem intimados. O aluno de graduação Gabriel Margato Marques afirmou dirigir acima das velocidades permitidas no campus, que variam entre 40 e 50km/h. “Eu dirijo sem pensar muito nos limites de velocidade, algo que eu não posso fazer fora da cidade universitária”.

Além das altas velocidades, muitos carros utilizam a faixa exclusiva de ônibus e estacionam em locais proibidos, como rotatórias e canteiros centrais. “Dentro do campus parece mais difícil de obedecer as regras de transito porque menos pessoas obedecem”, diz a aluna Marina Moaes Leite. Segundo a PUSP-C, no ano passado foram 26 notificações de acidentes de trânsito com vítimas, 85 de acidentes de trânsito sem vítimas, 3 de atropelamentos e 31 de incidentes com ciclistas.

Recentemente, o aluno André Spigariol chegou muito perto de ser atropelado enquanto atravessava a avenida Professor Luciano Gualberto à noite, pela faixa e com o sinal aberto para pedestres. “O motorista não viu que o farol tava vermelho e passou reto. Dois outros carros pararam, daí eu fui atravessar e passou esse cara na última faixa. Ele passou a 30 cm de mim e ainda buzinou. Eu parei antes que ele me levasse junto e ele correu, não tive como ver a placa”. Já o graduando Filipe D’Elia, bateu em outro veículo na Avenida Professor Mello Moraes quando estava atrasado para a aula. “Aconteceu porque era um caminho que eu conhecia e fazia rapidamente e de forma meio imprudente”, apesar de ser passível de multa, o acidente não foi notificado pelos órgãos competentes. “Resolvemos entre nós mesmos e corremos para aula, pois estávamos os dois atrasados.”

Também estava previsto para 2015 a inauguração do PedalUSP, um sistema de empréstimo de bicicletas dentro do campus que atenderia alunos, docentes e funcionários. A PUSP-C também afirma não haver mais previsão para sua conclusão. As soluções, de acordo com a Prefeitura do Campus, são as ações educativas para usuários do espaço e uma melhor oferta de transporte coletivo no município para desestimular o uso do transporte individual.

Júlia Moura