Cultura pop invade a Cidade Universitária

Fenômeno ultrapassa as barreiras do universo geek e cativa públicos diversos
Arte: Giovanna Wolf
Arte: Giovanna Wolf

Dentro da universidade, a excitação causada por Pokémon GO não foi diferente. Seja pela nostalgia trazida pelo jogo àqueles que, na infância, tiveram grande contato com o desenho, ou ainda pela influência de amigos, uma enorme parcela de estudantes correu para baixar o aplicativo em seus celulares logo na noite de seu lançamento no Brasil. No dia seguinte, todos os campi já se encontravam tomados pelos mais novos Treinadores Pokémon. Isso porque, dentro da USP, diversos pontos oferecem aos jogadores a presença dos pokémons, além de pokestops, ginásios, entre outros diversos itens que fazem parte da dinâmica do jogo.  

Mas não são só alunos que estão utilizando o espaço da Cidade Universitária para jogar. Muitas pessoas que antes não frequentavam o campus agora vêm com seus filhos, amigos ou namorados caçar pokémons nos espaços da universidade. Carlos, que é estudante da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), estava nos arredores da Escola de Comunicações e Artes (ECA) esperando pelo ônibus que o levaria até sua faculdade, mas aproveitou o intervalo para jogar. “Essa é uma franquia que eu acompanho desde criança, eu cresci jogando Pokémon, então não podia deixar de baixar o  aplicativo quando foi lançado”, afirma o estudante. “A USP é um bom lugar para jogar porque tem vários pontos de atração dos pokémons, além de que, em comparação com outras regiões da cidade, é um lugar razoavelmente seguro”.

Estudantes e o aplicativo

Uma semana após a chegada de Pokémon GO ao Brasil, o Jornal do Campus realizou uma pesquisa com 200 alunos da universidade a respeito do uso do aplicativo dentro dela. Aberta a estudantes de qualquer unidade da USP, a pesquisa teve grande participação de alunos dos cursos de Engenharia (em geral), Física, Química, entre diversos outros. Questionados sobre o que eles consideram mais interessante no jogo, muitos fizeram menção ao próprio ato de pegar pokémons – algo diferente e que nunca antes havia sido experimentado pelos fãs da franquia – ou à relação entre mundo real e ficção que o aplicativo fornece. Também foi bastante citada a interação social que é promovida com a possibilidade de formação de equipes com outros jogadores ou batalhas entre eles.

Concentrações de pokestops, como a ECA, se tornam polo de atração de alunos de toda a USP (Foto: Liz Dórea)
Concentrações de pokestops, como a ECA, se tornam polo de atração de alunos de toda a USP (Foto: Liz Dórea)

Em busca de lugares com maior oferta de pokémons ou pokestops, por exemplo, estudantes têm gastado um tempinho a mais dentro da universidade – ou aproveitam-se de intervalos de tempo livres, como o horário de almoço ou a pausa entre uma aula e outra – com atividades ligadas ao aplicativo. A pesquisa procurou saber quais os lugares que têm sido mais atrativos aos jogadores, e mais da metade dos entrevistados diz frequentar constantemente as dependências da ECA. Segundo Wesley Silva, estudante de Meteorologia, este é um bom lugar para se jogar “porque sempre há alguém que utiliza artifícios do jogo, como os incensos, para atrair pokémons ao local, e assim fica mais fácil capturá-los”. Já o estudante de Física, Alexandre Abreu, em sua primeira ida à ECA para jogar, se surpreendeu com a quantidade de pokémons que é possível encontrar no local: “Falaram que era bom aqui e estou vendo que é mesmo!”. Outros pontos, como a Escola Politécnica (Poli) e o Instituto de Física (IF), também foram citados como alvo dos jogadores dentro da universidade.

Toda essa busca por locais que ofereçam vantagens aos usuários do Pokémon GO tem trazido mudanças à rotina dos jogadores. De acordo com a pesquisa feita pelo JC, diversos estudantes têm caminhado muito mais, dentro e fora da USP, em razão de atividades ligadas ao aplicativo exclusivamente. Heloisa Zago, estudante do curso de Letras, afirmou que joga desde a chegada de Pokémon GO ao Brasil e que, nesse período, já saiu de casa muito mais do que normalmente. “Estou indo muito mais para parques ou museus que antes eu não ia”, declara. Porém, há quem não tenha alterado seu dia a dia e aproveite para jogar enquanto vai ao trabalho ou faz caminhada, por exemplo, segundo a pesquisa.

Grande parte dos estudantes-jogadores também acredita que o aplicativo tem propiciado muito mais contato entre eles. 76,5% dos alunos ouvidos pela pesquisa consideram que Pekémon GO contribui para maior interação entre eles e outras pessoas, seja pelo fato do jogo se tornar, facilmente, assunto em comum em rodas de conversa entre estudantes de diferentes institutos, ou pela possibilidade de se formar equipes dentro do jogo, por exemplo. Essas equipes, inclusive, disputam batalhas entre si em ginásios, que têm exemplares localizados em alguns pontos da universidade, como na Poli, no IF e também na Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA).

Por outro lado, há quem acredite que Pokémon GO peca por não apresentar atividades que tragam ainda maior diálogo entre os jogadores, como a permissão de visualização das conquistas um do outro ou mesmo de batalhar fora dos ginásios. Da mesma forma, o jogo ainda apresenta problemas de compatibilidade com alguns aparelhos celulares e de gasto excessivo de dados de internet e bateria. Porém, a Niantic, desenvolvedora do aplicativo, já se pronunciou dizendo que ainda está o aperfeiçoando e corrigindo as diversas falhas ocorrentes – algo compreensível visto o seu pouco tempo de existência – para que, assim, a experiência dos Treinadores Pokémon se torne a cada dia melhor.