Filiados do Sintusp definem nova diretoria

Eleições ocorrem em momento de dificuldade para a categoria dos trabalhadores da USP

A cada três anos, os 4 mil trabalhadores da USP filiados ao sindicato votam para chapas de diretoria do Sintusp e, para a gestão 2017 a 2020, as eleições ocorreram nos dias 23 e 24 de novembro na sede do sindicato. Duas chapas são candidatas: a primeira, guiada pelo lema “Sempre na luta – Piqueteiros(as) e Lutadores(as)” e filiada à Central Sindical Popular (CSP) – Conluta, é situação desde a criação do Sintusp nos anos 1980. A segunda, de oposição, é chamada “Alternativa de renovação e luta – todas as vozes!”.

O Jornal do Campus conversou com representantes das duas chapas para saber o que cada uma propõe para o sindicato:

Magno Carvalho, representante da chapa 1
Magno Carvalho, representante da chapa 1 | foto: Carla Monteiro

Jornal do Campus: Há quanto tempo você está engajado com o Sintusp?
Magno: Desde que entrei em 1977 na USP. Mas quando comecei a trabalhar na Universidade, existia a Asusp, que não era nada de sindical. Aí começamos a construir uma oposição. Nós nos reuníamos no estacionamento da História e Geografia e ali surgiu o Sintusp. Desde então, eu só não participei ativamente das duas primeiras diretorias do Sintusp, apesar de ajudar a coordenar. Agora eu estou na diretoria e estou na chapa para a próxima.

JC: Quais são as principais conquistas que o sindicato teve?
Magno: A questão salarial, que é central na luta dos trabalhadores. Antigamente, quando era o governador que dava os salários, nós tínhamos o salário igualzinho ao do resto do estado e era baixíssimo para algumas funções. A nossa luta, considerada radical por muitos, acabou com essa vala comum do salário: fez com que ganhássemos uma carreira própria e mudou a nomenclatura dos funcionários da USP. Nós triplicamos o salário com relação ao resto do estado.

JC: Quais são as propostas da sua chapa?
Iniciais (ex: JCS): Nossa briga sempre foi para elevar os salários mais baixos. Não somos tão preocupados em elevar os mais altos. Isso fez com que nossos pisos salariais subissem e os tetos nem tanto, o que é combatido por todos os reitores.

Hoje a luta está muito mais difícil. Esse ano, por exemplo, nós perdemos: a inflação foi de 10% e recebemos 3% de reajuste. Mas nós vamos estar sempre lutando para recuperar o salário de todos, sempre se preocupando com o salário mais baixo antes. E mais preocupados ainda para que não haja rebaixamento.

E tem uma coisa da história de luta dos trabalhadores que tem a ver com a nossa chapa. Sempre tivemos um perfil de ter um enfrentamento muito combativo, e isso não é um perfil da categoria, dos trabalhadores em geral. Então, junto com estudantes e professores, lutamos pelos mesmos objetivos: universidade pública de qualidade, envolvendo salário, assistência estudantil e permanência.

JC: Quais são as grandes dificuldades do sindicato dentro da universidade?
Magno: Um dos principais obstáculos é que o nosso número de associados está baixo. De 2014 para cá nós perdemos quase 1,5 mil sócios com o PIDV (Programa de Demissão Voluntária) e mais 500 que não aguentaram a barra. E há uma pressão enorme para as pessoas não se filiarem. A Reitoria está ameaçando tomar nossa sede; estão criminalizando nossa atuação com processos administrativos. Eles querem nos demitir até acabar com o sindicato.

JC: O que esperar do futuro e da luta do sindicato?
Magno: Nós achamos que vai ser muito difícil, mas não impossível. A natureza dos ataques é tão grande que eu acredito que em um determinado momento a classe vai acordar. De médio a longo prazo, nós conseguiremos ganhar, junto com os estudantes.

Marcelo Cardagi, representante da chapa 2
Marcelo Cardagi, representante da chapa 2 | foto: Carla Monteiro

JC: Há quanto tempo você está engajado com o Sintusp?
Cardagi: Sou funcionário da USP desde 1981. Quando entrei, os funcionários se organizavam pela Asusp (Associação dos Trabalhadores da USP). Um ano depois de entrar, eu já estava participando da associação e do ativismo político junto com o meu trabalho. Com isso eu acompanhei os acontecimentos da Universidade. Fiz parte da diretoria uma vez durante a Asusp e outra vez no Sintusp na década de 1990.

JC: O que você e a chapa acreditam que é de maior importância no sindicato?
Cardagi: A entidade sindicato é importantíssima, extremamente necessária. Mas a direção tem uma variação de acordo com a conjuntura e é muito importante ela estar presente nos locais de trabalho. Quando isso falha, a direção não consegue acompanhar o que o trabalhador está precisando. De uns anos para cá isso aconteceu muito.

JC: Por que você acha que isso aconteceu?
Cardagi: O conjunto dos trabalhadores mudou muito, hoje há desde trabalhadores que estão fazendo pós-graduação até trabalhadores analfabetos. A diretoria atual não assimilou essa mudança. Isso aconteceu por medidas que a reitoria tomou no sentido de terceirização, que afastou muitos trabalhadores. Houve desmonte de muitos setores, como é o caso da prefeitura, nos restaurantes universitários. Isso interferiu muito na formação e na resposta do sindicato. São apenas 3 mil e poucos filiados em uma categoria com quase 15 mil funcionários.

JC: Quais as principais propostas da chapa que você representa?
Cardagi: Principalmente que o sindicato volte aos locais de trabalho. Vamos lutar para que o sindicato dê espaço para os trabalhadores e volte a ser um lugar aglutinador, que hoje não é. Também nos preocupamos com a composição da chapa.

Temos pessoas bem mais experientes — como é o meu caso —, pessoas com participação média e pessoas mais novas. Além disso, é uma chapa composta por mais de 30% de mulheres. Por fim, queremos fortalecer o conselho de base, tornar as propostas mais claras. Considerando que estamos em uma conjuntura extremamente difícil para a coisa pública, para a educação, e as pessoas estão querendo mais para se organizar.

JC: De que maneira a chapa se posiciona frente à gestão da universidade?
Cardagi: Vamos buscar um canal de negociação sério, que hoje a Reitoria não oferece. Tem um órgão hoje chamado Coperte (Comissão Permanente de Negociação com o Sindicato dos Trabalhadores) que não negocia nada e que a atual gestão tolera. Mas nós não vamos entrar numa coisa enganosa como essa. Seremos bem resistentes e vamos abrir portas novas que essa gestão não consegue mais.

JC: E quais são as suas expectativas para o futuro do sindicato?
Cardagi: Tenho uma posição otimista. Tenho impressão que é um momento que as coisas vão apertar de tal forma que as pessoas vão reagir pela dor. Quando o povo quer, ele consegue.