E agora, para onde vamos?

Vivemos uma época de impasse. Mais do que uma crise política ou econômica, parecemos estar diante de uma série de modelos em xeque, e isso diz respeito a todos os que trabalham com comunicação (tanto para o “negócio” quanto para a tarefa de cobrir e repercutir esses tempos de incertezas).

Veículos tradicionais, com suas editorias e linguagens simplificadoras, já não dialogam com uma sociedade cada vez mais complexa, conectada e ativa. Ao mesmo tempo, os “novos” modelos ainda não têm força suficiente para destronar o que ainda é hegemônico, embora envelhecido.

Esse impasse reforça a certa sensação de desamparo, como se não soubéssemos para onde ir – ou como se, de fato, não estivéssemos indo a lugar nenhum.

No último semestre, tive a oportunidade de visualizar, de certa maneira, o desdobramento desta tensão. Testemunhei o trabalho de estudantes à frente do meu tempo – ao menos o tempo que me é relatado pelos jornais.

Esta última edição tem um pouco de tudo o que espero encontrar na imprensa num futuro próximo. Temos ali uma capa forte, criativa, informativa, com várias chamadas para uma edição cuja sensibilidade pode e deve pautar cada vez mais o jornalismo contemporâneo. Não sei quanto tempo levarei para ler expressões como “LGBTfobia” na cobertura tradicional, mas ela já está incorporada ao JC.

Numa época em que tanto falamos de representatividade, inclusive nas redações, coube a duas repórteres mergulhar a fundo e analisar os desdobramentos da CPI das Violações de Direitos Humanos nas Faculdades Paulistas. A apuração de um tema praticamente ignorado pela imprensa tem números, contexto, histórico, relatos e serve como cobrança e alerta para que as coisas de fato mudem.

A universidade não é um mundo à parte. É, sim, parte do mundo. Ela édesafiada pelos mesmos desafios do mundo fora da sala de aula. Um exemplo é a apatia política, como mostrou o relato sobre a baixa participação na eleição do DCE.

A edição atual acerta ao dar voz a estudantes do intercâmbio da Venezuela para falar da situação do país, e não repetir fórmulas e discursos de quem não vive (e ignora) aquela realidade.

Acerta ao aplicar um exercício de checagem, a exemplo dos (ótimos) grupos surgidos recentemente, como Aos Fatos e Agência Lupa, à entrevista do reitor ao jornal Valor Econômico.

Acerta ainda ao trazer, na crônica de encerramento, um balanço do que foi o ano – e que ano!

Tenho orgulho de ter acompanhado, com meus pitacos, o trabalho de vocês neste semestre. Espero reencontrar estes empenhos, sensibilidades e engajamentos muito em breve por aí.

 

Por Matheus Pichonelli