Docente apoia nome social em lápide de mulher trans

Falecida há 16 anos, Andréa de Mayo recebeu homenagem de professor da FAU
Andréa de Mayo ao lado de seu inseparável cachorro, Al Capone. Foto: Claúdia Guimarães
Andréa de Mayo ao lado de seu inseparável cachorro, Al Capone. Foto: Claúdia Guimarães

No dia 17 de novembro, o Cemitério da Consolação foi palco de uma homenagem inédita no país. Andréa de Mayo, importante militante pelos direitos de travestis e transexuais nas décadas de 80 e 90, foi a primeira transexual a ter o nome social incluso em sua lápide, 16 anos após seu falecimento. A iniciativa foi coordenada pelo Serviço Funerário Municipal e contou com a colaboração de Renato Cymbalista, professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU).

Segundo ele, o projeto surgiu a partir de uma cooperação entre a USP e o Serviço Funerário Municipal, em um seminário sobre o Cemitério da Consolação, ocorrido em março deste ano. “Naquela ocasião, o Serviço Funerário falou que estava diversificando as visitas guiadas no local… Então lembrei que a Andréa de Mayo estava sepultada lá, e os avisei”, conta.

O trabalho do Serviço Funerário consistiu em localizar o túmulo e conversar com seus concessionários a respeito da instalação da placa com o nome social de Andréa. Doado por Cymbalista, o granito foi inaugurado em uma cerimônia feita entre os representantes do projeto e artistas que prestaram homenagem à Andréa.

Para Cymbalista, responsável por pesquisar como lugares podem representar oportunidades de afirmação de direitos, a renomeação do túmulo funciona como ato de reparação. O professor explica que a iniciativa é uma das formas do Estado reconhecer que violou historicamente os direitos dos transexuais e expressar um desejo de mudança. “Uma homenagem como esta seria impossível há alguns anos”, afirma.

Neste contexto, Marcelo Soler, professor da Escola de Comunicações e Artes (ECA) que assinou a performance durante a homenagem, acredita que o ato contribui para o imaginário do grupo LGBTT, que precisa se sentir representado. “Pessoas que nasceram antes dos anos 2000 não usufruíram de elementos que falassem desse universo”, diz. “A cerimônia é uma maneira de trazer à tona personagens históricos”.

Sobre Andréa de Mayo

Nascida Ernani dos Santos Moreira Filho, Andréa de Mayo foi um dos nomes mais importantes da noite gay paulistana entre as décadas de 80 e 90. Além de cafetina de travestis e dona da Prohibidu’s, renomada boate da Amaral Gurgel, a transexual foi conhecida por reivindicar direitos cívicos a integrantes da comunidade LGBTT e ajudar com alimentos e remédios as travestis vítimas do boom da Aids.

Polêmica, Andréa chegou a participar de debates de TV, como o Programa Livre (SBT), de Serginho Groisman. Faleceu poucos dias depois de completar 50 anos, em maio de 2000, devido a uma embolia causada pela retirada de silicone industrial das nádegas e de suas coxas. O obituário do jornal Folha de S. Paulo chegou a homenageá-la, descrevendo-a como “um mito na vida de São Paulo”.

Agora, o circuito de visitação do Cemitério da Consolação, que inclui visitas às lápides de personalidades como Tarsila do Amaral, também apresentará Andréa de Mayo. “É um passo importante na visibilização da população trans”, conclui Cymbalista.

Lápide está localizada na Rua 25 LE, Terreno 22, na Consolação. Foto: Aline Naomi
Lápide está localizada na Rua 25 LE, Terreno 22, na Consolação. Foto: Aline Naomi