Ensaios de Baterias são restringidos nos campi

Medidas fizeram os estudantes buscarem alternativas para os ensaios

No começo deste ano e sem aviso prévio, baterias universitárias formados por estudantes foram impedidas de ensaiar na Raia Olímpica. Desde o final de 2014, os alunos podiam usar o espaço cedido pela Prefeitura do Campus da capital (PUSP) e que continha uma estrutura mínima para o ensaio acontecer: uma área coberta e com tomada para conectar instrumentos elétricos.

São dezenas de baterias espalhadas por todos os campi e, geralmente, cada instituto costuma ter a sua própria composta pelos alunos de graduação. Muitas delas nasceram como forma de torcida e apoio aos times da faculdade mas, atualmente, as apresentações tomaram novas proporções e chegaram a eventos externos à USP, incluindo casamentos, festas, torneios e projetos sociais. Com o crescimento das baterias, houve maior interesse por competições que demandam ainda mais tempo de ensaio e dedicação dos ritmistas. Isso fez com que os ensaios fossem feitos em mais horários e as reclamações por causa do barulho ficassem ainda mais frequentes.

Uma das baterias que utilizam a raia para ensaiar é a Opção Primeira de Pinheiros, da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP). Nos primeiros dias de 2017, os alunos tentaram acessar a raia mas foram informados de que o acesso estava impedido para todas as baterias. “Disseram que a raia estava fechada por conta de uma parceria entre o curso de Veterinária com a organização da raia para castrar as capivaras. Eu perguntei se tinha alguma previsão de retorno e disseram que seria por tempo indeterminado”, diz Omar Ghani, integrante da Opção Primeira de Pinheiros.

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Foto: Regina Santana

 Antes da restrição, a bateria da Medicina tinha um ofício que permitia a entrada em horários pré-determinados. “Mesmo quando precisávamos ensaiar em outro horário, a entrada era autorizada e conseguíamos”, afirma Omar. Sem lugar para realizar a atividade, os alunos foram em busca de alternativas, como a utilização de estúdios. Omar afirma que essa não é a melhor saída porque o preço do aluguel por hora é R$60, valor que sai do bolso dos ritmistas e fica caro pela quantidade de ensaios.

Apesar de não poderem utilizar o espaço interno da raia, os alunos continuam tentando ensaiar nos arredores da estrutura ou na região dos bancos, que fica mais distante dos institutos com aula. De acordo com Omar, esta questão está atrapalhando a dinâmica de ensaio com os calouros, já que a raia era considerada um ponto de encontro fixo dos ritmistas e agora ninguém sabe bem onde será o ensaio.

Não é só no campus da Capital que as baterias estão com dificuldades. Em dezembro de 2016, no campus de Ribeirão Preto, o Conselho do Campus decidiu que os ensaios só podem ser realizados no período diurno, entre seis da manhã e sete da noite. O horário, assim como os locais de ensaio, ainda devem ser definidos entre as agremiações e a Comissão de Prevenção e Proteção do Campus da USP de Ribeirão Preto.

Ana Beatriz Silveira, aluna da Faculdade de Direito de Ribeirão Preto (FDRP) da USP, é mestre da Bateria Estouro e afirma que essa mudança prejudica as baterias do campus. “A prefeitura simplesmente decretar um horário de ensaio sem conversar com a gente é uma coisa unilateral que acabou sendo injusta com as baterias”, afirma a estudante.

A prefeitura do Campus de Ribeirão Preto tentou marcar reuniões com os ritmistas das baterias, mas, de acordo com Ana Beatriz, esses encontros eram marcados em horário de aula, o que inviabiliza a presença dos alunos.

Um dos problemas que desencadearam a mudança feita pela Prefeitura do Campus foi a reclamação de moradores do bairro Monte Alegre, que fica localizado ao lado do campus. Houve discussões entre os estudantes e a comunidade, e a Bateria Estouro até chegou a mudar o local de ensaio, mas o problema não foi resolvido. “É um incômodo para os moradores e a gente entende. Mas as baterias são entidades como todas as outras e buscam se aprimorar e crescer”, diz Ana Beatriz.

Durante os dois primeiros anos de faculdade, os alunos da FDRP estudam integralmente, das 8 às 18 horas. O ensaio começava logo depois da aula, às 18h30, e costumava acabar 20h30. Com essa mudança, os alunos terão que chegar na USP às 6h30 da manhã para ensaiar. Ana Beatriz afirma que essa mudança no horário afetará a rotina dos estudantes e ela tem medo de que isso acabe fazendo as pessoas desistirem da bateria. “Eu não sei se todo mundo vai se empenhar em ter que chegar na faculdade tão cedo para ensaiar. Não tem mais conversa porque o decreto já foi feito e temos que nos adequar a isso”.