Licenciandos não têm vagas em curso de Libras

Matrículas na disciplina da FFLCH são dificultadas por turmas lotadas e falta de docentes

Por Natan Novelli Tu 

(arte: Dado Nogueira/ Nomes preservados para a não exposição das fontes)

O excesso de inscritos na disciplina Língua Brasileira de Sinais (FLL1024) é reflexo do número limitado de vagas disponibilizadas. Todo semestre, são oferecidas cinco turmas com cerca de 100 alunos cada aos mais de 1700 estudantes de licenciatura da FFLCH – de acordo com dados do primeiro semestre de 2017. Considerando que licenciandos de fora da FFLCH também podem se inscrever e que os alunos acabam se acumulando de tentativas anteriores de cursar a matéria, a situação fica ainda mais complicada. Não à toa, em muitos casos, alguns acabam tendo o fim da graduação atrasado. “Tentei por três semestres seguidos me matricular e não fui aceito, mesmo com requerimento”, comenta Daniel Silva, licenciando em Letras.

Desde dezembro de 2005, o Decreto Federal nº 5.626 instituiu a obrigatoriedade de disciplinas curriculares de Libras nos cursos de formação de professores. A medida é importante por garantir, para a comunidade surda, maior acesso ao aprendizado. De lá para cá, ministrado por Felipe Venâncio, o curso foi oferecido na Faculdade de Letras inicialmente como optativa, tornada obrigatória aos licenciandos em 2015, através de vídeos de Ensino a Distância (EAD). Mesmo virtual, a limitação de vagas existe porque a disciplina conta com horários de monitoria para os alunos, sendo impossível expandir o oferecimento com a equipe disponível.

Para contornar a lotação, a última alternativa dos licenciandos é apelar para um recurso na Seção de Alunos explicando o porquê da matéria precisar ser cursada naquele momento. “No meu pedido, mencionei as três vezes que havia tentado a matrícula e comentei que já havia colado grau no bacharelado. Também falei que era a última matéria obrigatória que precisava cursar e que se não fosse por ela já estaria formada”, diz Jessica Leite Santos, já licenciada em Letras. Ela ainda comenta que isso nem sempre é bem-sucedido, o que quase chegou a mobilizar alguns estudantes no Facebook a mover uma ação judicial contra o curso de Letras da FFLCH.

Vale mencionar que alguns cursos – como o da Faculdade de Educação, o da Física e o da Química – possuem disciplinas próprias, que em menor proporção também sofrem com essa lotação. “Há  acordo entre os estudantes de Educomunicação para que os mais novos deixem as vagas para os mais velhos, porque quando passa o período ideal é mais difícil [se matricular]”, diz Naíma Rocha, licenciada em Educomunicação pela ECA, que explica a estratégia utilizada pelos alunos.

Evani Viotti, chefe do Departamento de Linguística da FFLCH, esclarece que o compromisso acordado com a Pró-Reitoria de Graduação (PRG) era o de oferecer 500 vagas. “Não é nossa atribuição resolver quem vai ou não ter prioridade no Júpiter”. E completa que, apesar do curso ter sido montado por um professor da Linguística, ele foi construído com verba da USP, cabendo então à PRG fornecer recursos para a melhora da disciplina. “Temos um único professor em período integral, uma professora temporária em meio período e cinco monitores que são estagiários. Não temos condições de abrir mais turmas, ou de aceitar mais alunos por turmas, porque já estamos atuando no limite para dar conta desses 500 alunos”.

Apesar de considerar o material em vídeo bom, Evani reconhece que o inchaço pode prejudicar o aprendizado dos licenciandos. Para muitos, essa é uma segunda complicação, já que o atendimento às dúvidas acaba sendo demorado. E aqui, Daniel, licenciando em Letras, vai além: “A plataforma não condiz com o instrumental adequado para o aprendizado de uma língua, principalmente se considerarmos que se trata de uma língua de sinais, modalidade com a qual poucos tiveram contato”.