Eleição no IRI é acusada de ilegitimidade

Para parte da comunidade, chapas inscritas para disputa não apresentam concorrência entre si

Assembleia Geral no IRI encaminhou moção à diretoria com objetivo de permitir a inscrição de nova chapa. Foto: Camilla Freitas

Por Carolina Unzelte e Giovanna Querido

A inscrição de chapas para as eleições para diretor e vice-diretor do Instituto de Relações Internacionais (IRI) tem gerado polêmicas. Parte dos alunos, professores e funcionários alega que as chapas inscritas apresentam o mesmo projeto político pedagógico, e, por não apresentarem oposição, seriam ilegítimas.

A chapa 1 é encabeçada pelo atual vice-diretor do IRI, Amâncio Jorge de Oliveira e para vice,  professor de Ciência Política, Rafael Villa. A segunda composição é formada por Janina Onuki, também da área política, e por Moacyr Martucci, da Engenharia Elétrica da Escola Politécnica.

Para a votação, que acontece no dia 22 de novembro,  houve a primeira chamada, entre 6 e 16 de outubro. Ela permitia a inscrição de chapas encabeçadas por professores titulares, podendo serem formadas também por professores associados 3, ou seja, aqueles associados com mais tempo de carreira. A segunda chamada, entre 26 de outubro e 6 de novembro, seria aberta caso ainda não tivessem sido inscritas duas chapas, permitindo a candidatura de associados 1 e 2. No entanto, no dia 19, foram divulgadas duas chapas já inscritas na primeira chamada, o que impossibilitou a inscrição desses professores.

Controvérsias

Em pronunciamento oficial, o Centro Acadêmico Guimarães Rosa chamou a chapa 2, de Onuki e Martucci, de “fake” e considerou a ação um “golpe”, uma vez que os candidatos à diretoria “representam um mesmíssimo projeto político para o IRI”. Além disso, acusa a segunda chapa de apenas se inscrever para garantir que não exista concorrência para a primeira chapa. A professora Janina alega que como professora Titular do IRI, tem esse direito e nunca teve “intenção de bloquear outras candidaturas.”

Para o C.A., Janina Onuki e Amâncio Oliveira possuem mesmo alinhamento político-pedagógico, devido histórica colaboração acadêmica entre os dois, e além disso, já concorreram juntos à diretoria da Associação Brasileira de Relações Internacionais (ABRI). Também compartilham 3 projetos de pesquisa. Amâncio contra-argumenta, no entanto, que essa leitura sobre a colaboração acadêmica poderia inclusive ser feita entre ele e a docente da chapa de oposição, “Por um IRI Disciplinar”, Maria Antonieta Lins, de Economia. “Trabalham juntos no NAP Caeni; em um projeto promovido pela Comissão Europeia e estamos juntos em um segundo projeto da mesma instituição,” afirma. O vice de Amâncio, Rafael, complementa “A grandeza da USP é poder ter parcerias acadêmicas em meio a diferenças políticas e substantivas”.

Para a docente, em carta de apresentação, a acusação de ilegitimidade está vinculada ao fato de ser mulher. “A candidatura de uma mulher não pode, em uma visão discriminatória, ser nada além de ilegítima”, afirma.

Além disso, a docente enfrenta críticas por sua escolha para vice. “A coisa mais grave é, além de ter dois professores que a comunidade vê que têm o mesmo projeto, trazer um professor de quem a comunidade nunca ouviu falar”, afirma Felipe Loureiro. “É necessário um professor que conheça profundamente a realidade do IRI”.

Janina afirma que convidou Moacyr para vice “por sua trajetória na área da cooperação acadêmica internacional”. Em entrevista, ela lembra outros ex-diretores que também eram de outros institutos como o Professor Walter Colli, do Instituto de Química. Para ela o convite expressa um incentivo à multidisciplinaridade.

Reação

Em assembleia realizada em 19 de outubro, com presença dos três setores, formou-se a chapa “Por um IRI multidisciplinar”, encabeçada pela professora da área de Economia Maria Antonieta Lins, conhecida como Tuca, e completada por Felipe Loureiro, de História.

“Nosso objetivo é evitar que esse Instituto perca toda essa riqueza da multidisciplinaridade que foi construída ao longo de doze anos”, aponta “Tuca”. Rafael Villa, da outra chapa, concorda e argumenta que seu objetivo e de Amâncio é consolidar esta identidade  multidisciplinar – “revelamos especial preocupação com esse tema”.

Um dos encaminhamentos da assembleia foi a entrega à diretoria de uma moção com 154 assinaturas para a inscrição da chapa recém-formada.  “Nossa reivindicação não é a desistência de uma das chapas, mas sim que exista concorrência pelos associados”, afirmam representantes do C.A. “Como isso vai acontecer é problema deles”.

No que concerne a desistência das chapas, Loureiro aponta que a “viabilidade da inscrição depende da vontade política das outras chapas”. Amâncio afirma, “coloco-me à disposição para o diálogo. A prioridade deve ser o IRI e a Universidade. Temos que construir o consenso.”

Janina alega estar sofrendo “enorme assédio para retirar a candidatura”. “Sempre estranhei a baixíssima presença de mulheres dirigentes na universidade. Tenho, agora, mais clareza para entender esta sub-representação.” Além disso, lembra que o respeito às Normas é essencial para o exercício pleno da democracia.

Histórico de conflito

A tensão entre professores do IRI remonta ao final de 2015, com a abertura de um concurso para professor titular.  Em dezembro daquele ano, as expectativas eram que o concurso seria na área de Economia Internacional, uma vez que havia cinco economistas no Instituto e as áreas de  Direito e Política já tinham titulares, os professores Pedro Dallari e Amâncio Jorge, respectivamente.

No entanto, não foi o que aconteceu. “Sem mais aviso, esse concurso apareceu na reunião da Congregação como de Economia Política Internacional”, lembra a professora Maria Antonieta. A adição da palavra “política” deu margem à participação de docentes de Ciência Política no concurso.

Janina Onuki afirma não compreender a polêmica em torno da ocasião. “O tema do concurso foi aprovado pela Congregação do IRI em dezembro de 2015. Teve apenas um voto contrário. Duas docentes da área de economia estiveram presentes na reunião e aprovaram o tema.”

As professoras economistas optaram por não participar do concurso, que deu titularidade à Janina Onuki. Essa condição possibilitou sua candidatura à diretoria na primeira chamada. “O fato é que isso levou à situação que estamos vivendo aqui: nós não temos uma titular economista e então não pudemos ter uma chapa com uma cabeça titular”, explica Maria Antonieta.

Ela ainda adiciona que, como coordenadora da Graduação, sentiu uma série de dificuldades de diálogo e cooperação entre os professores. Felipe também conta que enfrentou obstáculos para negociar a composição da Comissão de Pós-Graduação. Ele lembra que, no começo de 2017, houve uma tentativa compor em conjunto uma chapa para a diretoria, já que trata-se da menor unidade da USP, com 16 professores. Por intermédio do diretor Pedro Dallari, Loureiro mediou a conversa e a tentativa de conciliação, sem resultados. “Na interpretação de parte dos professores da ciência política, não seria possível”, lamenta.