O Bichusp na voz de seus personagens

Campeonato de integração universitária na USP tem mãe na arquibancada e doutor na bateria

Marina Caiado, bixete da ECA. (Foto: Lázaro Campos)

Por Lázaro Campos

Enquanto Dudu e Ralf levavam confusão à final do Paulista, Mari Rox dava o último chute do Bichusp. Pela regra, o cronômetro pode zerar, mas o jogo só termina quando a trajetória da bola acaba. Só que ela acabou dentro do gol. Terminou assim a final do futsal feminino entre a SanFran, Faculdade de Direito, e EEFE, de Educação Física, que venceu por 2×1 na prorrogação. Quem tivesse visto somente a cena das franciscanas decepcionadas pela derrota não imaginaria que o tom da competição era de festa e brincadeira.

Às 8h da manhã, o Centro de Práticas Esportivas (CEPE) da USP abriu suas portas para integrar bixos e bixetes. Organizado pela Liga da Atléticas Acadêmicas da USP (LAAUSP), o Bichusp, torneio disputado só por calouros, acontece desde 1971 e integra quem acabou de chegar à USP e ao esporte universitário.

Nem sempre as faculdades possuem alunos suficientes para formação de times nos esportes coletivos.  Por isso, desde o ano passado existe a possibilidade de junções. Segundo Nathália Fukase, presidente da entidade organizadora, a ideia é que nenhum bixo deixe de participar das modalidades.

Calouros da FE e da Fofito disputam vôlei masculino. (Foto: Lázaro Campos)

No domingo de encerramento da edição deste ano, a Física fundiu-se ao IME para o futsal feminino; no vôlei masculino, a Geologia somou-se à Odontologia, e as atléticas da Pedagogia e Nutrição se juntaram, formando o Merenda.

A soma de forças é essencial para unidades menores. Agatha Cheng, presidente da Atlética XXIII de Agosto, que une as faculdades de Nutrição e Saúde Pública, conta que, “como somos uma atlética menor, a nossa bateria ainda está sendo montada. Mas vejo um ponto positivo na nossa união: chamamos os bixos e todos que se animam participam de nossos eventos e festas”.

No encerramento da 48ª edição do Bichusp, a reportagem do JC encontrou a diversidade de personagens que dão forma ao campeonato.

O doutor da bateria

Toda competição de esporte universitário que se preze tem baterias. “Às vezes os alunos se esquecem que a faculdade não se resume à vida acadêmica. É também participar da bateria e praticar esporte”, diz Bruno Ipaves. Apesar de cursar doutorado em Física, ele chegou cedo para tocar na Cherateria, bateria do IF e IAG e apoiar o time. “Minha motivação de vir é que eu já fui calouro. É importante os bixos se sentirem queridos e acolhidos pelos outros alunos”.

Com família e sem família

Além de boas-vindas dos veteranos, alguns calouros contam com a torcida da família. É o caso do politécnico Felipe Totini, que teve a companhia da mãe Gisele Mastrogiovanni durante todo o dia.

Felipe Totini, bixo da Poli.  (Foto: Lázaro Campos)

Para ela, o esporte é uma parte importante da experiência universitária do filho. “Aqui ele pode canalizar os desgastes dos estudos”. Felipe joga vôlei desde o ensino fundamental e pretende competir no esporte universitário depois do Bichusp . “Essa é uma oportunidade para eu entrar no time principal da Poli”, projeta o calouro.

Nem todos têm a família por perto, como a bixete ecana Marina Caiado, de Goiânia. “Entre as meninas do time, principalmente nos esportes coletivos, você se sente numa família. No Bichusp temos que trabalhar em conjunto para conseguir material e água e como eu não tenho uma família aqui, o time é um ótimo apoio.”

Marina participou do handebol, basquete, tênis, futebol de campo, futsal e rugby. Ela destaca a importância de conhecer modalidades de outras culturas. “Acho importante participar e quebrar alguns preconceitos. Um deles é do rugby ser violento, o que não é verdade”.

Ela explica que disputou na modalidade Touch, em que o toque na cintura substitui o ato de derrubar o adversário. Para ela, o melhor do evento também é a integração. “O principal é o sentimento de pertencimento, jogar pela sua faculdade e sentir que faz a diferença dentro do seu time”.

Festa competitiva

É possível que o clima festivo ofusque os profissionais à beira da quadra. O futsal feminino tinha jogos apitados por Renata Leite. A paraibana foi a primeira mulher a apitar um Mundial de futsal, na Tailândia, em 2012. Para ela, participar do Bichusp é uma forma de retribuir a experiência universitária. “Eu faço questão de estar aqui porque é também uma forma de fomentar a regra e promover o acesso ao esporte”.

Renata define Bichusp o como uma “festa competitiva”. “Você não vê aqui briga entre torcida, briga de atléticas e a coisa exacerbada do ‘eu tenho que ganhar’. Todos querem vencer, mas vemos essa parceria, atléticas uma do lado da outra, brincando e convivendo. Aqui vemos o que o esporte deveria ser”.

Nas decisões, contudo, a competitividade vem à tona. Depois de jogar por oito horas, ninguém quer perder. As finais do vôlei masculino e do futsal feminino foram nas quadras da EEFE, com a equipe dona da casa disputando ambas. No vôlei, os politécnicos contavam com apoios como o da mãe do calouro e os eefeanos torciam com algumas provocações ao adversário – seus bixos vencerem por larga vantagem.

Victor Calixto, bixo da EEFE.  (Foto: Lázaro Campos)

Durante a final do futsal, enquanto o ginásio ecoava gritos de “Vamo EEFE” e “SÃO FRAN-CISCO”, o eefeano Victor Calixto contou que sua motivação era o voleibol, “querer jogar e ganhar pelo time, porque eu desejo o melhor para a EEFE. Mas o melhor foi a integração e o envolvimento de todo mundo em querer vencer, sempre respeitando o adversário”.