O tempo corre

Quem nos dera ter a expressividade do Jornal do Campus nos anos 80, suficiente para uma matéria causar tamanho alvoroço a ponto de motivar que o Jornal da USP fizesse uma edição-extra em que se afirmava: “nem sempre se pode esperar seriedade e tarimba de estudantes”. Naquela época, o jornal chegou a ter 20 mil exemplares impressos.

Os tempos mudaram, é verdade. Estão mais rápidos do que nunca. A leitura e os leitores diminuíram. E o JC mudou junto. Mudou no visual, no formato, na tipografia, nos enfoques.

Mas não mudou no objetivo de ser um laboratório que forma jornalistas; as seis, sete, oito edições edições por semestre são (apenas) parte do processo. Nosso fim justifica nosso meio – sempre dentro do limite da ética jornalística -, mas a princípio esse meio ainda se orienta pela demanda por informação. E por acaso temos a dimensão dessa demanda? Ou, ao menos, conseguimos discutir isso com calma?

Um dos pilares da metodologia original do Jornal do Campus é o espaço para crítica e autocrítica. Com questionamentos pertinentes e muita investigação, aprendemos a criticar. Pelo outro lado – por ora – o principal objetivo deste editorial não é fazer um mea-culpa.

Afinal, não temos tempo para isso. Temos mais dados para apurar, mais matérias para escrever, mais projetos de outras disciplinas para entregar. O tempo escorre por nossas mãos e pela grade-horária, que insiste em nos fazer faltar a aulas para poder fechar o jornal. É isso que quer dizer “fazer parte do processo”?

Mas, veja, o processo dessa histórica edição 500 nos trouxe uma boa surpresa. Ao longo das próximas páginas, você encontrará trechos e resumos de matérias antigas.

Fomos surpreendidos ao encontrar no arquivo do JC as mesmas pautas, mesmos temas, mesmos debates vigentes há mais de 35 anos (a primeira edição é de 1983) – o Crusp é provavelmente o campeão.

Parte de nós ficou surpresa – e até envergonhada – por descobrir que, nas edições anteriores, não estávamos inovando como achávamos estar e por ter demorado tanto tempo para consultar nosso próprio arquivo.

Mas não é sempre que dá para voltar as atenções para outras 499 edições. Temos que fechar esta. O tempo corre por aqui: até professor-responsável do JC tem sido temporário, forçado a largar a disciplina após dois anos de casa.

A nossa sorte é a história, que de tempos em tempos nos lembra que é importante conhecê-la.

A história e o jornalismo. Esse, felizmente, nos mostra que repetir temas nem sempre é sinal de desconhecimento; às vezes é simplesmente parte do compromisso jornalístico de acompanhar as demandas sociais.

Especial Edição 500

No JC, cargo de Ombudsman surgiu em meio à crise do jornal

Por Beatriz Gatti

JC 56 – Outubro/1987

“O ombudsman é o advogado do leitor e lhe cabe investigar suas queixas.” Foi assim que, há 31 anos, Ciro Marcondes Filho definiu a função de ombudsman, ao ser a primeira pessoa a ocupar o cargo neste Jornal do Campus.

A estreia da seção se deu na edição de número 54 e traduziu o termo sueco ‘Ombud’ como ‘delegado’ ou ‘mediador’ entre jornal e leitor.

O surgimento do cargo acontece depois de uma crise motivada pela matéria “A casta que domina a USP”, em que foram relatados os mais altos salários na Universidade, e seus detentores, classificados como “marajás”.

A reação desencadeou uma grave ameaça à continuidade do jornal – uma vez que parte dos anúncios que o mantinham foram suspensos –, além de duras críticas à linha editorial do JC.

Neste contexto, a edição seguinte debateu amplamente o papel do jornal-laboratório, trazendo esclarecimentos do então editor do JC, Bernardo Kucinski, sobre o projeto didático-pedagógico do jornal.

Foram criadas, ainda, duas comissões para o JC: a Didática, formada por sete membros, e a de Ética, composta por três professores, mais o ombudsman.

A coluna fazia parte de uma seção com espaço para cartas, queixas e opiniões, “voltada ao atendimento de reclamações dos leitores prejudicados pelo tratamento dado à sua pessoa pelo JC”, apresentou Ciro à época.

O jornal passou por diversas mudanças ao longo do tempo. Isso evidentemente transformou os espaços e estilos de escrita de cada seção. Apesar de hoje os ombudsmen ficarem mais restritos a apontamentos específicos sobre o fazer jornalístico, a coluna de nossa ombudsman retoma, nesta edição, a mediação e interlocução que remetem ao formato original desse tipo de crítica.