Financiamento coletivo vira alternativa contra pandemia

Com modelos e objetivos diferentes, campanhas da USP e da São Remo ganham fôlego na internet

Por Hugo Vaz

Universalidade da Covid-19 gera múltiplas necessidades para população — Imagem: Hugo Vaz/Fotos: Pexels

O financiamento coletivo tem sido uma ferramenta valiosa na luta contra o coronavírus. Da busca pela vacina, até a distribuição de máscaras, instituições e lideranças comunitárias traçam objetivos de arrecadação para mitigar os efeitos da pandemia. Até o início da semana, uma página criada pela Associação Brasileira de Captadores de Recursos (ABCR) registrava mais de R$ 6 bilhões em contribuições para causas relacionadas à Covid-19.

A USP e a comunidade São Remo, vizinhas de Butantã, estão utilizando esse modelo para financiar pesquisas científicas e projetos de assistência social. As metas estabelecidas ficam disponíveis nas páginas oficiais das campanhas, com empresas e pessoas físicas doando e acompanhando o progresso de cada projeto, que, de acordo com os organizadores, têm superado expectativas.

Campanha USP Vida

Na USP, pesquisadores de várias áreas do conhecimento passaram a direcionar seus esforços para auxiliar na contenção da Covid-19. Entre os projetos desenvolvidos estão a produção de vacina, medicamentos, respiradores artificiais e estudo de processos antivirais.

Quem acessa o site da campanha USP Vida pode optar por doar recursos diretamente à área de sua escolha, ou direcioná-los a um fundo único, onde serão aplicados na pesquisa mais avançada no momento. O dinheiro da campanha é administrado por um Comitê Gestor de Cientistas, coordenado pelo pró-reitor de Pesquisa e alocado em conta específica na Fundação de Apoio à Universidade de São Paulo (Fusp).

A meta de arrecadação estabelecida foi de R$ 5 milhões e, até o momento, cerca de 65% desse valor foi alcançado. Em um vídeo publicado no canal da USP no YouTube, o reitor Vahan Agopyan disse que “o programa trouxe um aspecto não previsto inicialmente”, referindo-se à quantidade de doações de pessoas físicas, que já contabiliza mais de 1.300, excluindo quem utilizou transferência bancária ou pediu para não ter o nome divulgado.

“É muito gratificante ver uma professora aposentada doar todo seu salário do mês para essa iniciativa, ou um senhor morador de bairro periférico da capital contribuir com um valor que para ele é muito significativo”, disse o reitor. “Essa demonstração de confiança da população aumenta a responsabilidade da USP.”

Ações na São Remo

Na São Remo, entidades e lideranças comunitárias criaram uma campanha para auxiliar moradores a manterem o isolamento social. O projeto começou no início de março e já distribuiu mais de 6 mil cestas básicas incluindo kits de higiene. 

Para obter esse resultado, foi utilizado o modelo de matchfunding, que mistura financiamento coletivo com aporte de parceiros responsáveis por multiplicar as arrecadações. Para cada R$ 1,00  arrecadado, um Fundo Colaborativo contribuiu com mais R$ 2,00, até que o valor estipulado de R$ 30 mil fosse alcançado.

Segundo Ivete Rodrigues, coordenadora do Alavanca Brasil, uma das entidades que capitanearam a iniciativa, a utilização do modelo foi positiva. “Superou nossas expectativas. A Covid-19 despertou nas pessoas a solidariedade e, em pouco tempo, conseguimos montar uma rede de doadores que nos ajudou a bater a meta.”

A entidade estudantil da USP Enactus Cidade Universitária também direcionou esforços para a região. O projeto Ponto Zero, através do crowdfunding, arrecadou R$ 10 mil, que foram convertidos em máscaras de algodão reutilizáveis para cerca de 7 mil sãorremanos, além de beneficiar a microempresa fornecedora.

“Podemos certamente afirmar que o financiamento coletivo foi um sucesso”, conta Igor Costa, líder do projeto. “Atingimos nossa meta de arrecadação em 48 horas e tivemos uma mobilização incrível pelas redes sociais.”

De acordo com estimativa da entidade, mais de 70 mil pessoas foram alcançadas pela campanha, resultando em 226 doadores. Igor atribui a positividade desses números à universalidade da crise da Covid-19. “Acredito que a conjuntura atual contribuiu muito para que tivéssemos apoiadores na causa, afinal todos estamos enfrentando dificuldades causadas pela pandemia.”