Cursinhos populares, em conjunto com ações afirmativas, mudam perfil socioeconômico da USP

Diversos cursinhos, que têm mensalidades acessíveis ou até mesmo gratuitas, ajudam estudantes da rede pública a ingressar na universidade

 

por Emylly Alves

Alunos da Escola de Comunicações e Artes (ECA). Foto: Cecília Bastos/USP Imagem.

 

Em 87 anos de existência, a Universidade de São Paulo (USP) teve, pela primeira vez, mais da metade dos alunos matriculados vindos de escolas públicas. Em 2021, das quase 11 mil vagas preenchidas, 51,7% foram ocupadas por alunos que estudaram na rede pública.

Além das ações afirmativas, cursinhos populares, que têm mensalidades acessíveis ou até mesmo gratuitas, ajudaram a mudar o perfil socioeconômico da USP. Para comparação, a mensalidade dos cursinhos pré-vestibulares, como Anglo e Poliedro, chegam a quase dois mil reais.

A USP, uma das melhores e maiores universidades do país, conta com duas formas de ingresso: pelo Sistema de Seleção Unificada (Sisu) e pelo tradicional vestibular, que é organizado pela Fundação Universitária para o Vestibular (Fuvest).

Apenas dentro da universidade, são mais de 15 cursinhos comunitários organizados pelos próprios alunos e professores de diversas unidades em São Paulo, Ribeirão Preto, São Carlos e Lorena, que costumam abrir processos seletivos no início e no meio do ano.

A Fuvest é o vestibular mais concorrido do Brasil. Na prova realizada no ano passado para o ingresso em 2021, foram quase 120 mil inscritos, mais 10 mil “treineiros”, que são estudantes que ainda não concluíram o ensino médio, mas que prestam a prova para testar conhecimentos.

Democratização do acesso à universidade

“Sem o cursinho popular, eu não teria ingressado na USP”, afirma Natalia Calixto, aluna do quarto ano de Publicidade e Propaganda. Ela frequentou o Cursinho Comunitário Pimentas, em Guarulhos, criado há quase vinte anos pelo professor Rômulo Ornelas. 

A estudante explica que se sentiu acolhida no ambiente, por encontrar pessoas com a realidade parecida com a sua. “Talvez, em um cursinho pré-vestibular convencional, eu ficaria desanimada por não me sentir representada”, comenta.

Além disso, explica que no cursinho comunitário aprendeu a desenvolver uma rotina produtiva de estudos, na qual estudava de domingo a domingo: “de início, eles já sentaram conosco e montaram um cronograma”.

Após conquistar o sonho de ingressar em uma universidade, também virou professora voluntária no cursinho que estudou: “é uma forma de retribuição”.

Daniel Barros, estudante do quinto ano de Turismo, que participou do cursinho da Fundação Instituto de Educação de Barueri (FIEB), também se tornou professor voluntário.

“Aprendi no cursinho essa dádiva da hospitalidade: a gente recebe e devolve”, afirma.

Ele é corretor de redação do projeto Salvaguarda, que motiva estudantes do ensino médio de escolas públicas a entrar na universidade. “É uma forma de repassar o conhecimento que eu aprendi no ensino médio”, explica.

Lucas Chicuta, aluno do quarto ano de Publicidade e Propaganda, estudou no GeraBixo, cursinho da Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Sorocaba. “No cursinho, eu tive a oportunidade de conviver com pessoas com uma situação muito parecida com a minha, que vêm de realidades parecidas também, então há uma troca”, comenta.

Ele diz que, quando ingressou na universidade, tinha o desejo de se tornar voluntário em um dos cursinhos também. “Infelizmente, acabou não dando certo. Na época, a ECA ainda não tinha um cursinho, que foi criado recentemente”, lamenta.