A USP pandêmica tem boas pautas, e cabe ao Jornal do Campus encontrá-las

por Diogo Magri

Foto: Acervo pessoal

 

Encontrar boas histórias é tarefa básica do jornalista, ao mesmo tempo em que é proporcionalmente desafiador. Abraçar essa missão num jornal que busca colocar em evidência pautas universitárias —nem sempre as mais chamativas— num momento em que todos estão há um ano e meio sem pisar na USP se torna especialmente complicado. Mas minha primeira impressão foi de que a edição 519 do Jornal do Campus cumpriu bem o desafio. Tocou em assuntos relevantes, para dentro e para fora da comunidade uspiana, em praticamente todas as editorias.

A começar pelo que considerei as duas matérias mais importantes da edição, sobre as reformas no Crusp e a volta às aulas presenciais. É importante que o JC dê voz a assuntos como o primeiro, uma vez que muitas pessoas fora do campus nem saibam que o Crusp exista, quanto menos que seja essencial para alunos de baixa renda. Senti falta apenas de ouvir a Reitoria ou ter um outro lado que representasse a instituição no assunto, porque são várias as acusações feitas à gestão. Pelo que entendi, as reformas são necessárias, certo? É um ponto relevante.

Já na segunda, minha única crítica é para o título “Volta às aulas”, sem verbos, informações e despertando pouco interesse, quando a notícia —retorno às aulas presenciais permitido em outubro— deveria guiar a matéria a partir da sua chamada. De resto, foi feito um ótimo resumo (infográfico, inclusive) que leva em conta a situação de todas os campi da USP, abordando uma série de pontos válidos: opinião dos alunos, da universidade, dificuldades do EAD, segurança sanitária etc.

As duas matérias servem para ilustrar o restante da edição. O episódio da universidade plural deu a chance de discutir um assunto relevante que viralizou de dentro da USP para fora, mas se perde ao não ouvir um pesquisador que esclareça ou exemplifique a importância da pluralidade e ao transformar o texto em um segundo editorial, com perguntas direcionadas ao leitor. A entrevista sobre o Projeto Salvaguarda conversa com o assunto e por si só já vale o ping pong, mas passa um ar pouco natural com perguntas mais genéricas e respostas tão extensas. Fiquei curioso para ler a respeito dos treinos presenciais no campus, mas me decepcionei com um texto sem aspas e sem informações de horários. Poderiam ser melhor contadas, mas as histórias são, antes de tudo, bem selecionadas.

Da mesma forma, é um serviço essencial utilizar o corpo científico que a USP tem para explicar a importância da terceira dose da vacina contra covid-19. E uma excelente oportunidade também para falar do esporte paralímpico da universidade no mês das Paralimpíadas. A exceção, para mim, ficou na pauta das baterias: não sei se é o mais adequado chamar de “luta” os desafios que a atividade tem (comuns a várias outras) durante a pandemia na mesma edição em que se fala da possibilidade de alunos serem expulsos do Crusp, por exemplo.  

Minha tentativa de ler a versão online do JC como se fosse a impressa me fez começar pelo editorial. Não sei se era a intenção da autora, mas achei que o texto “absolve” o trabalho de repórteres que, dentro do seu quarto, precisam ser estudantes, filhos, amigos e profissionais em formação há um ano e meio. Não existe demérito nisso. Li a edição com esse editorial em mente e tive uma impressão positiva. Com ou sem pandemia, por vezes mais relevantes ou menos exploradas, mas a USP tem boas histórias. E o Jornal do Campus as encontrou. Fica o desafio para que continue ao longo das próximas edições.