Pesquisas ainda enfrentam problemas

Não é fácil ser pesquisador no Brasil, mesmo pertencendo a uma universidade como a USP. Dificuldades como falta de espaço físico, extrema burocracia na importação de equipamentos, carência de verbas e insuficiência de pessoal para dedicar à pesquisa desafiam pesquisadores de exatas, humanas e biológicas.

Enrico Lippi Ortolani, vice-Diretor da FMVZ-USP, aponta uma “melhora significativa” tanto na captação de verba, quanto na quantidade de profissionais de 30 anos para cá. Mesmo assim, ele acredita que a pesquisa no Brasil ainda enfrenta problemas.

Marly Monteiro, vice-presidente da Comissão de Pesquisa da Escola Politécnica, diz que “infra-estrutura [de laboratórios] quase sempre significa importação”. Pela lei, a importação de produtos destinados à pesquisa conta com uma isenção de impostos. Mesmo assim, a burocracia por trás dos pedidos de importação, bem como o tempo que tais produtos demoram presos na alfândega, tornam o processo dispendioso para pesquisadores. Eles acabam tendo que arcar com as despesas da armazenagem.

Segundo Ortolani, “a área biológica é a mais afetada” porque as importações envolvem produtos perecíveis e delicados, que podem ser danificados por mudanças de temperatura ou pela má estocagem.

Os problemas enfrentados pelos pesquisadores de Humanas ultrapassam a falta de recurso. Ana Lúcia Pastore, presidente da Comissão de Pesquisa da FFLCH, diz que a maioria dos fornecedores de verba parte de um pressuposto de que, numa pesquisa nessa área, não há laboratório. Por isso, o valor oferecido não precisa ser tão alto.

A professora apontou que os editais não cobrem os verdadeiros gastos das pesquisas, que envolvem os recursos humanos e a melhora dos acervos nas bibliotecas. “A biblioteca é o nosso laboratório”, afirma a professora, que coloca a melhora dos acervos bibliográficos e de periódicos como um dos requisitos para a “qualificação de mão-de-obra” em Humanas.

Marly apontou que faltam pessoas para se dedicar exclusivamente à pesquisa na Poli. Ela ligou essa carência ao aquecimento da economia nos últimos anos. Segundo a professora, os alunos são “tragados” pelo mercado. Dessa forma, quando se comprometem em fazer alguma pesquisa, fazem-na com dedicação parcial.