Com a aproximação do fim do semestre, o estresse e a ansiedade ficam mais evidentes na vida dos uspianos
Tudo ao mesmo tempo agora. Essa é a definição mais comum para a rotina das pessoas no final de cada ano. Na Universidade, a correria para entregar todos os trabalhos a tempo, bem como cumprir outros compromissos, aumenta o estresse dos uspianos. A estudante da FAU Rita Wu conhece bem esse problema. A futura arquiteta acumula duas faculdades (ela também faz Tecnologia Gráfica), trabalhos freeelancers e iniciação científica. Rita, que se acostumou a ficar até três dias sem dormir, vem sentindo na pele as conseqüências do excesso de atividades. “Estou com problemas de colesterol e início de diabetes. Alimento-me mal e a ansiedade faz com que eu coma doce compulsivamente”, constata.
Não é apenas Rita que sofre com uma rotina atribulada. A estudante de Letras Elizabete Pereira Kutner concilia não só a graduação, mas também a vida de mãe e dona de casa. “Vida acadêmica com filhos e família é muito difícil. É impossível você fazer as duas coisas ao mesmo tempo de uma boa maneira”, diz a aluna da FFLCH. Na tentativa de equilibrar a rotina familiar e estudantil, Elizabete cursa menos disciplinas e acaba por sacrificar sua vida social.
Esse dia-a-dia agitado dos uspianos não é visto por todos como um fator negativo. A também estudante de Letras Lia Raquel Amaral Teixeira cursa graduação, mestrado, aulas de francês, trabalha e é casada. Para ela, “ter poucas atividades durante o dia faz com que o estresse apareça”. O corre-corre rotineiro é uma condição essencial para se sentir bem, já que, para Lia, “o que faz mal é não fazer”.
Estresse e ansiedade
Um ingrediente comum em algumas épocas do ano é o estresse. Uma pesquisa feita pela Isma-BR (Internacional Stress Management Association in Brazil) mostra que o nível desse problema aumenta 75% no fim do ano. Para Fernando Ramos Asbahr, especialista em transtornos ansiosos e coordenador do Programa de Transtornos Ansiosos na Infância e Adolescência do HC da FMUSP, o estresse é um importante fator que pode levar a uma intensificação de muitos problemas físicos e psicológicos. “A questão da correria pode reforçar e aumentar diversos comportamentos, inclusive a ansiedade”, afirma.
É errado, porém, dizer que a ansiedade e o estresse são a mesma coisa. Para Asbahr, o estresse é considerado “a esticada da corda”. É uma grande tensão, oriunda também da imensa quantidade de afazeres acumulada, que pode acarretar em intensificações de problemas psicológicos ou físicos existentes nas pessoas. Já a ansiedade, que pode ser boa ou ruim para a saúde, é uma combinação de elementos da própria pessoa com o ambiente. “A correria, muitas tarefas propiciam a ansiedade, mas temos que pensar que não são todos que estão na mesma situação e que são ansiosos”, ressalta o médico.
Ansiedade
A ansiedade não pode ser considerada apenas uma doença, pois é importante para despertar o medo em situações de perigo. “Costumo falar que, se a gente não tivesse ansiedade, haveria uma chance de sobrevivência muito menor”, enfatiza Asbahr. Por isso, as pessoas com maior nível de ansiedade puderam ser favorecidas no decorrer dos tempos. “Imagine que em uma floresta estão você e outra pessoa, que possui zero de ansiedade, e os dois estão em frente a um leão. Quem tem mais chance de sobrevivência? Quem tem medo! Quem não tem medo não terá uma reação de fuga. O problema é quando essa situação de perigo é despertada em atividades normais”, explica.
Já o excesso de ansiedade é considerado um problema médico. De acordo com o especialista, o medo desproporcional e a sensação de perigo que aparecem em situações comuns do cotidiano são exemplos do tipo de ansiedade considerada patológica. O Transtorno Obsessivo Compulsivo, conhecido como TOC, também é outra forma de manifestação da patologia. “Pode começar muito cedo e, em geral, se desenvolve ao longo da vida. Se não for tratado precocemente, fica mais difícil na idade adulta”, afirma Asbahr. Esse tipo de transtorno pode ser exemplificado por alguns rituais como sentir as mãos constantemente sujas e lavá-las até sangrar.
Um dos maiores problemas quando o TOC é percebido na idade adulta é a vergonha do paciente em relação à ansiedade. “O adulto tem vergonha de ficar lavando 50 vezes a mão ou verificando alguma coisa e, por isso, não procura serviço médico especializado”, enfatiza.
Infância
Na maioria das vezes, o problema da ansiedade começa a ficar visível no início da infância. Um tipo bastante comum, mas não único, dessa patologia em crianças é chamado de ansiedade de separação, que é o medo excessivo de ficar sozinho e a necessidade da presença contínua de alguém ao lado. “É uma manifestação ansiosa precoce e bastante observada por volta dos quatro ou cinco anos de idade”, explica Asbahr.
O grande problema da ansiedade infantil é a dificuldade de reconhecimento dos pais diante da patologia. O especialista conta que, em geral, “os pais dizem que é frescura, é birra e que vai passar. Por isso o transtorno não é detectado, o que é muito ruim”. Uma característica individual bastante importante nesse caso é a timidez excessiva da criança, pois ela terá uma maior chance de desenvolver, ao longo da sua vida, o problema da ansiedade. Em virtude disso, o tratamento precoce é tão importante. “A gente sabe que, se tratar desde o início, melhora o prognóstico, com certeza”, afirma Asbahr.
Terapias alternativas
O combate ao estresse e à ansiedade é feito de diversas maneiras. Rita Wu, por exemplo, conta que vive à base de “calmantes, energéticos, pó de guaraná e complexos vitamínicos”. No entanto, o auxílio de um profissional é necessário para a indicação de um tratamento adequado. Elizabete Kutner procurou ajuda e foi orientada a fazer um esporte e controlar a alimentação. Segundo o professor de Ioga do Cepeusp Marcos Rojo Rodrigues “a grande maioria das doenças tem um fundo emocional. As pessoas deveriam buscar atividades que façam com que elas pensem um pouco mais nessa relação corpo e mente”.
Há quem encontre seus próprios meios para combater o estresse. A estudante Lia Raquel, por exemplo, adota uma alternativa curiosa: “se estou cansada de dar aulas, gosto de estudar. E se estou cansada de estudar, gosto de preparar aulas”. Já para Greice Tavares, aluna de Administração da FEA, além do chá preto, a leitura é uma das maneiras encontradas para relaxar. “Antes eu ficava no ônibus só ouvindo música, agora eu comecei a ler. É uma das coisas que eu faço para dar uma fugida porque, às vezes, é interessante uma leitura não acadêmica”.
Há algumas terapias alternativas como o tratamento ortomolecular e os Florais de Bach. Porém, o médico Fernando Asbahr alerta que tais terapias não podem substituir o tratamento médico, pois “ainda não têm nenhum respaldo científico”. Já o tratamento ideal possui dois componentes principais: o uso de remédios e o acompanhamento psicológico.
De todos os meios indicados para resolver os problemas da ansiedade e do estresse no final do ano, o melhor mesmo é manter a calma. Afinal, como ressalta Greice, “todo mundo fica acelerado no final do semestre”.