Tocar ou ouvir música são atividades inevitáveis na vida de um universitário. A boa notícia é que estes hábitos fazem muito mais pelo aluno do que simplesmente ocupar um tempo ocioso: uma boa música pode estimular a criatividade, a percepção do outro e até a competitividade saudável entre equipes.
Quem entra numa roda de alunos da USP logo percebe um clima particular. As músicas que tocam nos centros de convivência não são os hits das rádios: é o samba, a batucada, o rock alternativo. Para a professora Maria Teresa de Brito, da Escola de Comunicações e Artes (ECA), essa abertura a novos ritmos não é por acaso: a universidade, diz, é o momento em que o jovem redimensiona sua visão de mundo, seus valores e sua identidade. Teresa explica que o interesse pelo diferente “estimula a capacidade de criticar, de fazer escolhas e de repensar”.
Os alunos, embalados por novas idéias, vez ou outra se arriscam a criar canções. Para a professora, essa expressão pode ser positiva como exercício de comunicação, mas lembra que as letras não são necessariamente o que influenciará o ouvinte. “Mais importante é o mergulho no mundo de sensações que a música provoca e até dispara no ser humano.”
A música também surge como uma tentativa de integrar uma universidade onde os alunos de cursos distintos têm poucas chances de se conhecer. A professora de antropologia Rita Amaral, que estuda festas brasileiras, acredita que os alunos acabam usando a música como uma forma de “recuperar o caráter universitário do campus, já que a sua disposição não favorece o contato entre as áreas.”
Eduardo Ottoni, professor do Instituto de Psicologia (IP), também reconhece o valor da música para a integração, e cita as baterias como exemplo. “Elas lembram muito os grupos que precediam as batalhas romanas: os exércitos usavam a música para mostrar união e habilidade motora, assim como fazem as faculdades rivais em eventos esportivos”. Eduardo ainda ressalta o lado afetivo, e diz que “os treinos dão a sensação de pertencimento a um grupo, e os hinos levam essa sensação aos outros alunos da faculdade”.
Origens
Os estudiosos se dividem quanto às explicações para a origem da música no universo humano. De acordo com Eduardo, alguns pesquisadores defendem que ela se originou da fala, que tem, anda hoje, uma melodia própria chamada prosódia (usada, por exemplo, pelas mães para falar com seus bebês), que teria se desenvolvido. Outros acreditam que a melodia teria vindo antes e incorporado a semântica com o tempo para dar origem à fala. Uma terceira linha enxerga uma origem comum à música e à fala. O que se pode dizer, com convicção, é que a música comunica: ela mexe com os sentimentos, com as sensações, e transmite intenções que palavra nenhuma poderia revelar.