Primeiro semestre de 2007. Greve na USP. Trinta ou quarenta manifestantes, em frente à reitoria ocupada, cantam para a imprensa. “Nossos inimigos dizem/ A luta terminou/ Mas nós dizemos/ Ela começou”. Os versos do dramaturgo e poeta alemão Bertolt Brecht, musicados, viraram o “hino” da ocupação. Em resposta aos pedidos insistentes de entrevistas, a intervenção foi idéia de um grupo de alunos de Artes Cênicas e envolveu grande parte dos ocupantes da reitoria.
Dois anos depois, uma nova greve se estende pelo campus. E o grupo das Artes Cênicas volta a aparecer, dessa vez com o OcupaUSP. “É uma mostra, um experimento, um ato de greve”, definem os organizadores, intencionalmente sem muita precisão. “Vamos juntando pessoas para ver no que dá”.
A ideia é abrir inscrições para que todo interessado possa se manifestar em forma de arte. Dos dias 25 a 27 deste mês, vale tudo: fotografia, teatro, intervenções, debate, poesia, artes plásticas. Funcionários, professores, outras universidades e “até a reitora”, são todos bem-vindos. O cronograma ainda está em aberto, mas deverá ser incluído no calendário de greve do Sintusp, que conta com show do Tom Zé no Velódromo do Cepeusp, no dia 26.
E, como a principal bandeira do OcupaUSP é a defesa do espaço público, o palco das apresentações serão o DCE ocupado, a Prainha e o Canil da ECA, a Praça do Relógio, a Rua da Reitoria e o Paço das Artes. “Não existe Movimento Estudantil, embate ou conversa sem espaço”, explica Tchello Gasparini, aluno das Cênicas e organizador do OcupaUSP. “E esse espaço é o estudantil, tanto para o debate como para a livre manifestação. E esse espaço precisa ganhar vida”.
Roberto Zink, aluno de Artes Plásticas e organizador do OcupaUSP, acrescenta que a ideia é, também, propiciar uma reflexão sobre a produção dos cursos de Artes da USP. “Queremos levar criar uma reflexão sobre o que aprendemos aqui e compartilhar o nosso trabalho com a Universidade e toda a população”. Tchello acrescenta que “é função do artista entender o que se passa ao seu redor para poder criar e dividir. “Até porque o que acontece dentro do campus é um reflexo do que acontece lá fora”.
É por isso que Tchello defende que a arte é, essencialmente, coletiva, já que “pressupõe um diálogo (com o público). Um artista cria a partir do e para o mundo em que vive”. Para Tchello e os demais organizadores da mostra, “uma manifestação artística já é por si só política, porque significa o posicionamento do artista perante o mundo – e não somente partidarismo”.
As inscrições para o OcupaUSP podem ser feitas pelo http://ocupausp.blogspot.com/