Professores e funcionários da capital suspendem a greve; alunos mantêm

Estudantes discutem em assembleia prós e contras de continuar em greve (foto: Lia Segre)
Estudantes discutem em assembleia prós e contras de continuar em greve (foto: Lia Segre)

As assembléias dos docentes e funcionários na terça-feira (30) deliberaram suspensão da greve, com retorno das atividades no dia 1/7/09. Já a assembléia geral dos estudantes manteve a greve por 150 votos a 147.

A maioria dos estudantes presentes na assembléia (aproximadamente 300 pessoas) não considera que houve avanços suficientes para sair da greve. Entre os que defendiam a suspensão, estava o Diretório Central dos Estudantes (DCE), que defendia a continuação de mobilização a partir de agosto. Para a entidade, a adiação da Univesp e o ato no Largo São Francisco (no dia 18) são sinais de vitória política e, ante o atual esvaziamento da Universidade – devido ao recesso –, suspender seria a melhor alternativa.

Pela deliberação, os estudantes continuarão realizando as atividades de greve durante o mês de julho, como reuniões semanais do comando de greve (terças-feiras) e o “cinema de quebrada” (terças e quintas-feiras). A próxima assembléia foi marcada para 14.

No dia 30, os estudantes decidiram pela retomada das negociações das pautas específicas com a Reitoria. Desde a penúltima assembléia (23), tinham suspendido as negociações enquanto Suely Vilela permanecesse como reitora.

Alguns grupos estudantis acusaram o Sintusp de sair da greve ao alcançarem apenas detalhes de suas pautas específicas, enquanto ainda havia reivindicações compartilhadas não cumpridas. “Hoje teve a conversa com a Reitoria e foram decididos os últimos pontos do acordo das pautas específicas. Mas nossa greve não acabou em função do acordo com ela, mas sim porque a greve foi extremamente vitoriosa. Conseguimos alcançar uma discussão que nunca foi posta nesta Universidade, não apenas em relação às nossas reivindicações, mas também sobre a Universidade em si”, explicou o funcionário Alexandre Pariol Filho, da Faculdade de Direito, após a negociação entre Sintusp e Reitoria.

As conquistas específicas dos funcionários, segundo Aníbal Cavali, diretor do Sintusp, foram decididas depois de idas e vindas da Reitoria. Alguns pontos foram acertados: “as reivindicações que dizem respeito às vagas postas como irregulares pelo tribunal de contas, o reajuste de 6,05% aos salários, questões relacionadas à carreira, à saúde, nomenclatura de trabalhadores da creches e na Aplicação denominados como educadores tiveram a mudança para professores. Também algumas questões isonômicas, como o auxílio-alimentação: de 320 reais conseguimos ajuste de 25%”. Por último, Cavali citou a implantação de um auxílio de 422 reais para funcionários que têm filhos portadores de necessidades especiais (leia nota da Reitoria).

As categorias que suspenderam a greve insistiram no ponto de que ainda assim a mobilização continuará em torno dos eixos centrais: “A assembléia dos docentes deliberou suspensão da greve. Mas cada um, dentro das suas necessidades e limitações, dentro da sua capacidade de ação, lutará por estes pontos em comum: a questão da democracia, e a questão da luta contra a Univesp e o sucateamento do ensino superior no estado de São Paulo. Acho que esses são pontos que unem a todos”, declarou Otaviano Helene, representante da Adusp, após o término da assembléia dos docentes.

Negociações: a montanha pariu um rato

Na segunda-feira (29), aconteceu a última reunião do Fórum das Seis com o Cruesp (Conselho de Reitores do Estado de São Paulo) antes da suspensão da greve dos professores e funcionários da USP da capital. Nessa negociação, não houve avanços em relação à semana anterior, a não ser no caso da Univesp: como medida para estudar o caso, o Cruesp se comprometeu a, juntamente com as entidades, criar um fórum de discussão sobre a Universidade Virtual a partir do segundo semestre.

Também na segunda feira, foi o lançamento da Frente pela Democratização da USP, já prevendo o fim da greve pelo enfraquecimento com a chegada das férias. Segundo o professor Américo Kerr do Instituto de Física (IF), “esse foi o primeiro passo pela democratização: o lançamento da Frente nas três universidades estaduais. Claro que o foco tem de ser a USP, que está algumas décadas atrasadas em relação à Unicamp, por exemplo. Nosso estatuto foi votado em 1971, com a Universidade sob o controle de Miguel Reali. Ele usou a posição que ele tinha da época da ditadura militar para cercear a reforma universitária. O reitor José Goldemberg mudou o estatuto um pouco em 88, e a Suely está fazendo esse arremedo de mudanças agora”.

Para que o processo de conquista da democracia aconteça, Kerr acredita que um passo importante é que o processo de escolha de reitor se esgote dentro da USP, “oferecer uma lista para governador não é uma boa coisa porque a universidade tem que ser autônoma, e o processo de escolha de reitor se esgotar aqui dentro. A Reitoria não é uma questão de servir ao governo de plantão, mas de servir ao público. O processo de escolha de reitor, quanto à democratização, vai depender de mobilização. O poder constituído não tem a iniciativa de se auto-transformar”.

Criticando as negociações, Kerr utilizou o provérbio a montanha pariu um rato. “Quando você [reitora] faz que vai fazer uma discussão da reforma universitária, vai reformar o estatuto, e no fim só acontece a discussão de reforma de carreira, o rato parido pela montanha é o projeto de carreira. É a única coisa que acabou tendo mais destaque nessa reforma estatutária feita agora”.