Para Glaucius Oliva escolha do governador não se baseou em uma análise aprofundada das qualidades dos candidatos
Primeiro colocado em ambos os turnos das eleições para reitor, o professor Glaucius Oliva, do Instituto de Física de São Carlos, tornou-se uma figura política forte na USP. Nesta entrevista, ele comenta a decisão do governador José Serra de indicar para a Reitoria João Grandino Rodas, segundo colocado nas votações. Além disso, fala de sua campanha eleitoral e dos planos para o futuro.
Jornal do Campus: A decisão do governador José Serra foi bastante rápida, um dia após o segundo turno. Houve alguma conversa e discussão de projetos com os candidatos? A decisão, se política, como muitos apontam, não fere a lógica da lista tríplice de que o governador deve escolher como representante da sociedade – e não de um determinado grupo político?
Glaucius Oliva: A sociedade é quem paga as contas da Universidade, portanto, nada mais justo que ela opine sobre seus projetos e visão de futuro. A forma encontrada em nosso estatuto foi atribuir ao governador do estado, representante eleito da sociedade paulista, a responsabilidade da escolha do reitor a partir de lista tríplice eleita pela universidade. Neste sentido, estranhou um pouco, não só a mim, mas a toda a comunidade universitária, a forma rápida com que esta decisão foi tomada, aparentemente sem uma análise mais aprofundada dos projetos e das qualificações dos candidatos. Ficou a impressão de que a escolha teve outros contornos, talvez políticos, partidários ou pessoais, e isso não é muito bom para a Universidade como um todo.
JC: Na sua visão, o que faltou na sua candidatura para que o governador ratificasse a escolha dos colégios eleitorais?
GO: Entendo que minha candidatura obteve sucesso porque tinhamos um programa de gestão moderno, com amplo leque de ações concretas, construído de forma compartilhada e defendido com grande entusiasmo nas diversas palestras, debates e visitas às Unidades. Faltou mostrar isso tudo à classe política externa, secretários de estado e ao próprio governador.
JC: Alguns apontam o apoio da atual reitora Suely Vilela como ponto fraco de sua campanha. O que o senhor pensa sobre isso?
GO: Na qualidade de Diretor do IFSC e membro do Conselho Universitário (CO), tive a honra de servir à Universidade como presidente da Comissão de Atividades Acadêmicas (CAA), eleito pelos meus pares, e como presidente da Comissão de Planejamento, indicado pela reitora, como previsto no Regimento Geral. No processo sucessório, a Reitoria demonstrou isenção e equilíbrio, até porque entre os candidatos havia colaboradores diretos da sua gestão e outros indiretos, incluindo o Professor Rodas, que, como eu, presidiu uma comissão estatutária do CO (CLR) e também foi indicado pela reitora como presidente da Comissão de Reforma Estatutária. Se, como a maioria dos eleitores, a reitora identificou nosso projeto como sendo o melhor para a Universidade, só posso me sentir honrado, e não acredito que isso deva ser classificado como um ponto fraco de minha candidatura, pelo contrário.
JC: A vitória em ambos os turnos da eleição o fortalece como figura política dentro da USP. Como o senhor pretende agir nos próximos anos? Como usar esse peso para ajudar nas mudanças necessárias na USP?
GO: Tenho como verdadeira casa – e trincheira – a sala de aula e o laboratório de pesquisa, para onde volto com grande alegria e com a sensação de dever cumprido, por ter tido o privilégio de servir à Universidade de São Paulo. Vou também continuar trabalhando intensamente pela USP, como Diretor do IFSC e membro do Conselho Universitário, defendendo a autonomia universitária, as idéias que apresentei em nosso projeto e colaborando com o que for necessário para o sucesso da nova gestão.
JC: Flávio Fava de Moraes, Jacques Marcovitch e Adolpho José Melfi, reitores eleitos pela universidade respectivamente em 1993, 1997 e 2001, perderam eleições antes de vencerem posteriormente. O senhor chegou em primeiro. Há pretensão de uma nova candidatura daqui a quatro anos?
GO: Se daqui a quatro anos houver consenso entre as pessoas envolvidas no processo sucessório, eu me disporei a trabalhar como fiz agora. Nunca tive o desejo do cargo de reitor em si, apenas aceitei o desafio de levar adiante um projeto modernizador e essencialmente acadêmico para a USP. Mas não tenho nenhuma aspiração pelo poder, não faço disso meu projeto de vida. No entanto, não me furtarei em servir a Universidade na posição em que for chamado.