Debate: USP deve usar carteirinhas para controlar ciclistas e corredores?

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Atividades da USP não podem ser prejudicadas – entrevista com Cristina Guarnieri
Crachás não trazem segurança para USP – entrevista com Martin Montingelli 

Ciclistas no campus (foto: Martin Montigelli)


 

Atividades da USP não podem ser prejudicadas

Cristina Guarnieri é diretora de Relações Institucionais da Coordenadoria do Campus da Capital

Jornal do Campus: Por que foi adotada a exigência de carteirinhas para entrada no campus? 
Cristina Guarnieri: Para garantia do próprio usuário. Hoje, em caso de acidente, não temos informação sobre quem frequenta o campus com o objetivo de praticar esportes, a não ser que seja estudante ou funcionário. Com o cadastro ou crachá, passaremos a ter, garantindo ao usuário mais tranquilidade. 

JC: Em 2009, foram realizadas 25 provas dentro da USP. Em 2010, serão somente nove. Quais os motivos da redução?
Cristina Guarnieri: Essa informação se confirma para competições externas. A Volta da USP, por exemplo, tradicional evento organizado pelo CEPEUSP não entra nesse rol, por se tratar de um evento da Universidade. Então, com a Volta da USP, teremos 10 provas no campus. 

A redução se deve a uma série de fatores, dentre eles e o mais importante é recuperar o campus para atividades da própria Universidade. É importante lembrar que o campus de uma universidade, ainda que pública, tem seu uso restrito aos fins da universidade, ou seja, educação, pesquisa e extensão de projetos à sociedade. Lembro ainda que temos moradia no campus, museus, laboratórios e serviços que funcionam 24 horas e o acesso a eles sempre foi muito prejudicado pela quantidade e impacto dos eventos.
 
Outra medida tomada pela Universidade foi a restrição das vias de percurso dos eventos. Agora essas corridas ficarão restritas quase que totalmente à Av. Prof. Mello Moraes (Av. da Raia), com acesso às Av. Prof. Almeida Prado e Av. Prof. Lucio Martins Rodrigues. A Av. da Universidade e a Luciano Gualberto, por exemplo, não mais estarão disponíveis para eventos esportivos externos. 

JC: A medida não fere o princípio de que o espaço da universidade é público? 
Cristina Guarnieri: Não, de modo algum. A Universidade entende que a cidade de São Paulo é carente de espaços de lazer, mas sabe também que esse é um assunto da cidade como um todo e não somente da USP. Todos temos que nos esforçar para a solução desse problema. As atividades da Universidade não podem ser prejudicadas em função de um uso não adequado ao seu fim. 

JC: Como será realizado o cadastro e quem arcará com o custo? 
Cristina Guarnieri: Estamos estudando a possibilidade de realizá-lo pela Internet, mas isso ainda não está totalmente decidido. Assim que for definido divulgaremos amplamente como realizá-lo.
O custo do cadastro e do crachá de identificação (carteirinhas) é pequeno e será arcado pela própria Universidade. 

JC: Em que dias, horários e espaços do campus ciclistas e corredores poderão realizar treinos?
Cristina Guarnieri: Essas regras serão divulgadas concomitantemente ao processo de cadastramento. A Coordenadoria é um órgão executivo e as regras e diretrizes do uso do campus são definidas pelo Conselho Gestor do Campus. Tão logo isto esteja definido, será divulgado. 

JC: A medida vale a partir de qual dia? 
Cristina Guarnieri: Em breve divulgaremos a data. 

JC: Como será feito o controle? Se houver desrespeito às regras, quais serão as penalidades? 
Cristina Guarnieri: O controle do cadastro será de responsabilidade da Coordenadoria do Campus da Capital. O usuário que não pertencer aos quadros da Universidade (estudante ou funcionário, incluindo nesta categoria os professores) e quiser utilizar o campus para a prática de esportes deverá seguir as regras que a Universidade estipular: cadastrar-se e respeitar os horários que liberaremos o campus para esse fim. Se não o fizer, não poderá mais usar o campus com esse objetivo. Sempre que for abordado e não portar a carteirinha, o usuário será convidado a se retirar do campus. 

JC: A construção da nova ciclovia resolveria o problema? De que maneira?
 Cristina Guarnieri: A ciclovia ou ciclofaixa amenizará sem dúvida, mas mesmo com ela, aquele usuário que vier ao campus com fim de praticar esportes e não pertencer aos quadros da Universidade deverá portar sua carteirinha. A ciclovia que a USP irá construir tem muito mais a finalidade de garantir segurança e tranquilidade ao ciclista que usa a bicicleta como meio de transporte regular. Ela não foi pensada com o intuito de solucionar a vida do esportista. Diariamente temos muitas pessoas que acessam o campus de bicicleta (estudantes principalmente) e que não encontram segurança ao trafegar. 

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Crachás não trazem segurança para USP

Martin Montingelli é integrante da equipe de ciclismo 201 Bike Team, que treina no campus

Jornal do Campus: Qual a sua opinião sobre a exigência de carteirinhas para ciclistas e corredores treinarem no campus? 
Martin Montingelli: A necessidade de utilizar carteirinha para o acesso à USP não deve resolver o problema de assaltos – queixa principal dos ciclistas. Segurança e administração já resolvem o problema atual.  Existe também o fato de a cidade não dispor de espaço público adequado para a prática do ciclismo e a USP, se não for perfeita para isso, está perto. 

JC: A medida fere o princípio de que a USP é um espaço público, ao estabelecer dias, horário e espaços para corredores e ciclistas realizarem suas atividades? 
Martin Montingelli: Depende. Como cidadão esperava da USP uma verdadeira virada sobre esse assunto. Aprendi a pedalar na USP na década de 70, passávamos o dia inteiro por lá e nunca foi solicitada identificação, nem RG. Não sabemos ainda o que pretendem estabelecer por lá. Será um dia do ciclista, outro dia do corredor e outro do remo? Gostaríamos de descobrir os critérios pra avaliar. 

JC: Crachás são melhor meio de trazer segurança e organização para o campus? 
Martin Montingelli: A questão dos crachás sinceramente não deve solucionar situações como acidentes. Acredito que o próprio RG resolveria. Porém, nesta questão de segurança há controvérsias. Por exemplo, o ciclista precisa ser identificado, o carro não. Logo, um carro pára e assalta um ciclista, põe a bike no carro e foge sem identificação. Não ficamos seguros. 

JC: Competições realizadas no campus atrapalham as atividades da USP?
Martin Montingelli: Provas que ultrapassam 6 mil inscritos podem ser feitas em qualquer lugar reservado pela prefeitura, seja na USP, seja na rua. A diferença é que na rua “atrapalha o trânsito”; na USP, em um final de semana, isso não ocorreria. 

JC: Ciclistas e corredores deveriam ser chamados para discutir a questão antes de qualquer providência? 
Martin Montingelli: Como em muitos casos no Brasil, decisões não são consultadas antes de serem instauradas. A grande maioria dos esportistas da USP não são alunos, professores ou funcionários e sim, pessoas comuns que utilizam a USP como alternativa para treinos. 

Acredito que discutir o assunto é a melhor coisa antes de se tomar qualquer atitude que restrinja o uso desse espaço. 

JC: A USP é um bom lugar para treinos de ciclistas e corredores em São Paulo. Cabe à universidade essa função? 
Martin Montingelli: Acredito que sim, por existirem poucos lugares para treino na nossa cidade e, pelo fato da USP ser um espaço público, ela deveria suprir esse papel. 

JC: Há planos para a construção de uma ciclovia na USP, voltada para quem utiliza a bicicleta como transporte. Ela não atrairia também atletas? 
Martin Montingelli: Não acho que atrairia mais ciclistas-atletas, pois uma ciclovia é destinada para transporte e não oferece nem espaço nem segurança suficiente para treinos. Uma ciclovia desse tipo, porém, seria uma boa ideia para separar o grupo de atletas do grupo que está só a passeio. 

JC:  Há planos para a construção de uma ciclovia na USP, voltada para quem utiliza a bicicleta como transporte. Ela não atrairia também atletas? 
Martin Montingelli: Não acho que atrairia mais ciclistas-atletas, pois uma ciclovia é destinada para transporte e não oferece nem espaço nem segurança suficiente para treinos. Uma ciclovia desse tipo, porém, seria uma boa ideia para separar o grupo de atletas do grupo que está só a passeio. 

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